01/01/2025 / 22:00h

Passei o dia acalentando o projeto de escrever pelo menos uma nota por dia durante 2025. Após passar as primeiras horas do primeiro do novo ano trabalhando, até às 5h da manhã, na volta para São Paulo estive entregue à sonolência e aos sonhos (ou algo parecido) ao estar no carona da nossa van, a Porquinha, em estado de semiconsciência — aquela situação quase catatônica de estar em cena. O Humberto dormiu pesado, segundo ele mesmo me disse, e quando acordou estranhou que eu estivesse desmontando o palco sozinho. Ao “apagar” sequer teve ciência que a banda fez uma hora e meia Ano Novo adentro.

Ainda hoje, mais tarde, mudamos a carga para o evento de amanhã. Veio até aqui e almoçou com uma das minhas filhas — a Romy — a nossa irmã, Marisol e a Tânia, com quem sou casado. Atualizei alguns arquivos na expectativa de que tivesse tempo para escrever a nota do dia, mas antes varri e passei um pano na parte debaixo da casa, lavei a louça e atendi o portão. Às 22h. Um rapaz, tímido, perguntou se tinha latinhas vazias para doar.

Falei que tinha, mas que o saco que reservava aos recicláveis tinha outras coisas que poderiam lhe servir. Aceitou. Quando fui lhe entregar, perguntou se tinha alguma coisa para comer. “Os lugares que aceitam recicláveis estão fechados e não comi nada o dia todo”. Pedi para que esperasse novamente. Relatei o caso à Tânia e ela se encarregou de reunir arroz, lentilha, frango na cerveja e maionese. Colocou tudo num pote de sorvete e eu peguei um garfo e uma colher de plástico, além de papel. Completei com uma lata de água alcalina e observei à ele que poderia utilizá-la para acrescer às suas outras latinhas.

Eu nem relataria sobre esse fato, se eu tivesse mais tempo para escrever o que pretendia, mas o cansaço me pegou de jeito e preciso descansar para o dia seguinte. Sempre tento encontrar algum significado (ou sentido ou propósito), mas não vi nenhum, a não ser pelo fato de que no ano que se inicia as coisas não mudaram magicamente apenas porque mudamos de números no calendário.

Os números que importam continuam a denunciar o descaso de quem pode fazer alguma coisa e vários deles acabam de assumirem cargos públicos como mandatários prometendo em “me esforçar em conseguir manter o meu propósito de realizar o que prometi” — como o desta cidade colocou em seu discurso de posse. Palavras circulares ditas para não se responsabilizar realmente.

Sempre haverá a quem culpar, menos a si, caso não consiga cumpri-las.

Foto por George Becker em Pexels.com

2+ 2 = 5

Tentando equacionar o que não tem solução, há uma canção que diz – “tudo certo, como dois e dois são cinco”. Nesse caso, o erro de aritmética simples vem a explicar muito bem o desencontro amoroso que ocorre com o casal do tema. Vem bem a propósito de como a “matemática romântica” muitas vezes deixa o regramento ordinário dessa ciência para trás…

Sempre cismei que a união entre dois amantes resultaria, na verdade, em três. Ao somar-se um mais um, esses dois formariam um casal, que vem a ser a terceira unidade da equação – algo diferente dos dois indivíduos envolvidos – apesar de resultante deles. Essa unidade assume uma identidade, formada da total integração entre duas pessoas. Algo que em sendo tão raro, uma sensação tão mágica e ímpar, volta a ser buscada outras vezes por quem a experimentou, como se fora um adicto que busca a fissura da primeira dose.

No entanto, a pensar com os meus botões, depois de confabular com quem busca o amor, vim a especular que a conta correta talvez seja cinco, como um dia cantou o Roberto numa composição de Caetano. Porque cada um dos indivíduos representaria, pelo menos, dois papéis no cotidiano, que somados a mais dois, resultariam em quatro. Esses “quatro tipos de ser” formariam, quando totalmente apaixonados, um quinto e uno elemento. Radicalizando, talvez não fossem apenas dois. Muitos de nós seríamos muito mais. Três, quatro, cinco pessoas lutando dentro de nós para se sobressaírem para alcançarem o domínio e exercerem o controle preponderante sobre o corpo e a mente. Por fim, o produto poderia não encontrar jamais uma base de sustentação. Ao final, como resultante, é isso mesmo que acontece. Poucas as vezes vemos as equações chegarem a uma boa resolução…

Então, podemos estabelecer duas vertentes mais óbvias como critério discricionário, sem o qual a conta nunca fecharia. Para simplificar essa questão, estabeleço que seríamos constituídos por duas forças antagônicas, principalmente quanto ao “amor” para a formação de um casal – a fórmula mais simples para a constituição de uma “família”, mesmo por aquelas de mesmo gênero. Essa minha elucubração surgiu depois de ouvir frequentes afirmativas, em sua maioria por parte das mulheres, de que os homens pensam muito mais com a cabeça de baixo do que com a de cima. Como não vejo muita diferença quando ao comportamento atual das mulheres com relação a esse assunto, poderia dizer que muitas delas pensam muito mais com as exigências do púbis do que com a mente, em várias situações. Dessa forma, todos e cada um de nós, homens, mulheres e as outras variações de identidade, seríamos então estimulados pelo amor de desejo e/ou pelo amor de afinidade de outra ordem pelo outro.

É muito comum iniciarmos a busca da união com outro ser pelo estímulo sexual ou paixão, para depois encontrarmos uma outra possível afinidade entre as partes. Muitos de nós, mais racionais, talvez façamos de modo diferente, dando mais ênfase à uma qualidade diversa da pessoa do que às características mais apelativas do ponto de vista físico. Seria a maneira mais consciente de agirmos, o que até poderia resultar em uma grata surpresa, pela afinidade mental também vir a ocorrer na sexual. Ou apenas poderemos nos conformar em termos como companhia uma pessoa pela qual nutrimos uma grande admiração e que dará sustentação à equação vital. Muito provavelmente, do outro lado poderia haver reciprocidade. Por fim, a compensação de um e do outro fator poderá ser levado por muito tempo por ambas às partes. Até não ser mais possível.

Venho a presumir que, em algum momento, com as mudanças inerentes a convivência do casal, com o aumento da pressão que é manter-se seguindo um mesmo padrão de comportamento, que já não corresponderá às demandas de um ou de outro, pode haver o rompimento dos laços ligados à afinidade mental ou à física ou ambos. O que era soma de intenções, resultará em multiplicação de frustrações, divisão de forças e subtração de vitalidade. O melhor a ser feito será se desfazer do problema, zerando a operação.

Passado algum tempo, no entanto, se buscará novamente a resolução da questão da unidade, que sempre continuará a se fazer presente. Mesmo porque, o ser humano tem a tendência em buscar o equilíbrio, mesmo que ele seja apenas aparente ou precário. No mais das vezes, é no desequilíbrio que normalmente vivemos. É no fio da navalha que passaremos a maior parte da nossa existência. É na corda bamba que tentaremos solucionar as eternas equações existenciais nas quais estaremos envolvidos por nosso tempo de vida, tentando resolver operações de fatores mutantes. Por fim, a conta nunca se fechará. Para sermos mais íntegros, sugiro que tentemos conceber viver na configuração dos números fractais, sejam eles geométricos ou aleatórios…