Fim de tarde, o rabo do sol se escondia por entre as árvores, criando sombras e formas inusitadas. Passávamos o final de semana no sul de Minas, região em que as linhas retas não compareciam no cenário, a não ser pelas linhas do chalé e por furtivos fachos de luz por entre os montes, feito show de rock. Eu e um grupo de amigos, decidimos ficar nesse recanto afastado para um contato mais íntimo com a Natureza. Acendemos o fogo da lareira e quatro lampiões e saímos para caminhar um pouco até uma pedra mais elevada para ver o entardecer, 250 metros acima.
Passados uns 20 minutos, a escuridão baixou quase que instantaneamente. Ficamos cegos, a não ser pela luzinha vinda do chalé, como se fosse uma estrela fora do céu. Por iniciativa aprovada por todos, havíamos deixado os celulares no chalé. Percebemos que não havia sido uma boa decisão. Quisemos ser naturalistas sem saber que a Natureza tem regras que fogem ao conhecimento de gente da cidade.
Fora tudo tão repentino que de início não nos demos conta de que estávamos num mato sem cachorro. Brincamos com negrume do ambiente e sobre a possibilidade de começarmos a sentir o toque de bichos estranhos a envolverem nossos corpos. Para não passar a sensação de que estivéssemos perdidos, decidimos nos sentar no vazio até encontrarmos o chão. Agora estáveis, começamos a especular sobre o que faríamos.
Éramos como crianças sem pai nem mãe. O frio começou a aumentar de uma hora para outra e a ansiedade pouco a pouco surgiu, evidenciado pelo tom de voz cada vez mais alterado. Seis adultos ̶ três casais ̶ perdidos no nada, indecisos se deviam ou não empreender a jornada de volta, curta, mas perigosa pela irregularidade do caminho. Até vermos uma luz bruxuleante saindo do chalé e vindo em nossa direção.
̶ Aqui, aqui, aqui! ̶ gritamos todos.
Era Ricardo, o filho de sete anos do Arnaldo, que ficara na cabana, brincando. Ao escurecer, o menino deve ter percebido que demorávamos e quis nos encontrar com a bravura que toda criança tem e que falta a muitos adultos. Empunhava um dos lampiões e caminhava resoluto. Arnaldo e Tatá, com a aproximação do filho, foram abraçá-lo. O resto de nós, pulamos feito seus companheiros de escolinha. Nós nos achegamos uns aos outros o suficiente para que o lampião erguido por Arnaldo cobrisse a nós de luz amarela. Nesse instante, pude perceber o quanto estava apaixonado por Clara, com as linhas do rosto fracamente clareada sob o caminho de estrelas da Via Láctea.








