28 / 05 / 2025 / Cidade-Paraíso*

A “mancha” mais clara entre os prédios (sem conotação pejorativa) é Paraisópolis. Já fiz um evento junto à esse conglomerado de casas sem acabamento e me impressionou o fato de que ao lado da “entrada” da comunidade estava sendo terminado um muro alto que cercaria um condomínio de alto padrão recém construído. São as contradições desta cidade a ser constantemente decifrada.

*2015

BEDA / Parasitismo*

Paraisópolis, em 2014

Do alto do edifício onde estou, aqui no bairro do Morumbi, onde hospedo a minha dor particular, pode-se observar ao longe a comunidade de Paraisópolis encravada em uma clareira de pequenas construções simples entre prédios de condomínios de alto padrão.

Já estive pessoalmente na “fronteira” daquele lugar, para fazer um evento. Uma mesma rua serve de marco divisor entre dois “Brasis” – de um lado, apartamentos alojados em edifícios protegidos por muros altos e vida social organizada. De outro, casas construídas ao acaso, com a técnica do improviso emergencial, como se fossem pássaros que fazem o ninho com que encontram pelo caminho.

Que Brasil se perpetuará? Na atual estrutura civil, filha dileta das anteriores, creio que os dois – pois um necessita do outro – na construção de um famigerado comensalismo social aparente. Mas se observarmos melhor, configura-se em um portentoso parasitismo sobre os mais numerosos pelos de menor quantidade, donos de maior opulência, a qual os parasitados um dia sonham alcançar.

*Texto de 2014, revisto.

O BEDA é uma aventura compartilhada por: Lunna Guedes / Darlene Regina / Mariana Gouveia / Cláudia Leonardi

Sobre Platão E Gengibre

Platão

Segundo a teoria platônica, as formas (ou ideias), que são abstratas, não materiais (mas substanciais), eternas e imutáveis, é que seriam dotadas do maior grau de realidade – e não o mundo material, mutável, conhecido por nós através das sensações.

Colhemos gengibre. Lavados, um dos pedaços, a depender da posição que o colocava, ora parecia ser um cachorro, brincando com algo entre suas patas; ora, um cavalinho trotando campo a fora. Pode ser a minha imaginação exacerbada, porém talvez seja um bom exemplo de como podemos distorcer algo que vemos, ouvimos ou sentimos. Afinal, o certo mesmo é que se trata, apenas, de gengibre. Nesse caso, alguns gostam muito, outros, não gostam nenhum um pouco. E gosto, não se discute, já que as sensações são eminentemente pessoais e intransferíveis.

Contudo, há aqueles que gostam de impor seu gosto como padrão, entre todos os demais gostos. Mas essa é outra história, com efeitos que vão desde relacionamentos a preferências político-ideológicas. Pessoalmente, eu não apreciava gengibre. Assim como não gostava de comida japonesa, por puro preconceito – não conhecia e não queria conhecer. Até que “abri o meu coração” ao sabor, textura, aparência e todos os demais detalhes que me levaram a me tornar um fã incondicional. Hoje, consumo o gengibre e me afeiçoei a sua ardência em chás, em pequenas postas e da forma que mais vier a aparecer. Diria que essa raiz termogênica e picante é quase como se apaixonar – queima e vicia.