… e fico entre escolher escrever palavras casuais ou limpar a nebulosidade e descerrar a paisagem que já conheço de sobra prefiro manter a expectativa de que por traz da cortina úmida haja algo novo um horizonte diferente ampliado profundo em dimensão um mundo recém descoberto uma ideia de de que os objetos se dissipam que a realidade se desintegre em muitas outras realidades queremos ver a novidade de ser de estar de revelar que tudo pode ser melhor por trás das vidraças nebuladas o estranho e o estranhamento de estarmos vivos negligenciados pela estupidez humana encontrar o segredo da vida na imaginação que alcança a verdade…
fantasmas passeiam pela tarde boas almas de eflúvios fugidios de um dia que se esvai brisas se enroscam em nuvens de corpos fluidos é um bom tempo esse o do entardecer quando em tarde somos quando entardecemos como parte do dia que se transmuta em crepúsculo quando a paisagem na linha do horizonte parece abraçar o sol em ósculo que se deseja ocultar como se fosse um amor intimidado até a noite chegar…
O Outono é a estação ideal para quem quer ver entardeceres deslumbrantes. A inclinação e o posicionamento do Sol no horizonte evidenciam formatos inusitados de grandes e pequenas nuvens banhadas de luz dourada. Aqui na Periferia da ZN, ainda de horizontes não ocupados por edifícios residenciais, são os morros que terminam por delinear a paisagem. Por enquanto…
Quem sou eu, quem é você? Sabemos quem somos, para além das marcações corporais imagéticas? Ou somos as experiências que vivemos? O que versamos sobre o que vemos? O que mentimos sobre os nossos sentimentos como se criássemos uma personagem que nos identifica como ser? Ao mesmo tempo, estamos enquadrados por perspectivas alheias à nossa vontade. E muito de nossa vontade é moldada pela a Realidade que nos propõe um sistema que geralmente aceitamos como padrão. Aqui, para quem vier a me ler — você — verá rascunhos da minha vida que dou por conhecer por minhas palavras e através das imagens que colhi por onde passei ou fiquei nos últimos dez anos.
In Planet Of The Apes… (2020)
A primeira foto data de 2014. Treinava regularmente. Faz três anos, justamente em janeiro, que não entro em uma academia. O ritmo de trabalho aumentou tanto que não tive mais tempo para sentir a dorzinha gostosa da atividade física regular. Quando estou em casa, me dedico a escrever ou a realizar tarefas caseiras. Quando subiu a primeira imagem, de seis anos antes, percebi que usava a mesma camiseta — uma das minhas favoritas. Registro feito, apesar de ser fiel às minhas velharias, não imaginava que a ela fosse tão antiga. Já o velho, tenta viver um dia de cada vez In Planet Of The Apes…
Sobre cabelos (2019)
Subo ao coletivo, passo a catraca, sento-me junto à janela, a qual deixo entreaberta para sentir o vento e me refrescar neste dia quente. Começo a suar mais do que devia e percebo que a janela do meu lado estava fechada. Imaginei que tivesse acontecido pelo movimento do ônibus. Voltei a abri-la. Mais alguns minutos, a vejo novamente fechada. Estranhei e olhei para o banco de trás, onde havia uma moça que sorriu amarelo e murmurou: “o vento estava bagunçando o meu cabelo…”. Realmente, ela estava com os fios retos postos lado a lado como se fossem desenhados. Sorri de volta, outro sorriso amarelo. Não tive coragem de revelar a ela que a sua maquiagem, devido ao calor, estava escorrendo um pouco…
“Olha a planta!”… (2017)
Ouvi o pregão, a ser entoado havia já algum tempo. Varria o quintal, vestido apenas com um roupão e vi passarem frente ao portão vazado, em pequenos passos, aquela figura totalmente inesperada nesta manhã de domingo. Personagem único, o vendedor de plantas — aliás, bastante vistosas — apesar de sua condição difícil, não se permitiu ficar plantado, mas sim a distribuir exemplo de vida e vitalidade por onde se conduzia. Antes tivesse tentado chamá-lo, apesar da minha vestimenta, para prestar a minha homenagem, saber mais sobre ele e suas plantas, adquirir alguma… Arrependimento registrado, espero reencontrá-lo dia desses…
A crise nunca vem sozinha… apenas a pombinha apartada dos seus….
CÍRCULO DA LUA (2013)
Na manhã de sábado, enquanto caminhava rumo à academia, observei uma concentração incomum de urubus (pela quantidade, os tenho chamado de pomburubus) sobrevoando bem alto a área do Piscinão do Guaraú. Talvez tivesse uns quarenta ou mais, voando em círculos em torno de um ponto mais claro no céu azul. Para a minha surpresa, se tratava da Lua em seu último quarto. Foi um benefício adicional ao meu esforço de voltar à atividade física. No céu da cidade de São Paulo é raro a vermos, mesmo à noite, já que as luzes artificiais impedem que o nossos olhos alcancem o belo astro para além da prisão luminosa em que estamos.
Os urubus são seres fascinantes! Tom Jobim, igualmente, quedava extasiado com as elegantes circunvoluções dessas aves necrófagas. No entanto, o voo alto é uma das formas que esses seres buscam alimento. São importantes na limpeza do meio ambiente — quando alguns animais morrem por doença, por exemplo — o urubu ajuda a controlar a epidemia devorando as suas carcaças. Possui uma envergadura de 2,40 m e peso que oscila de 3 a 5 kg, medindo cerca de 85 cm de comprimento. Na Natureza, tem poucos predadores naturais, mas, devido à sua baixa capacidade reprodutiva, além da degradação do seu habitat, é uma espécie cada vez mais rara de se observar. O que significa que nós passamos a ser seus predadores…
No foi o caso desse dia, onde a revoada de tantos entes alados fazia lembrar um bom filme B. Aquela área onde os tenho observado em número cada vez maior, o Piscinão doGuaraú, recebe os rios canalizados da região, impedindo que as águas do vale invadam o também canalizado RioGuaraú, que desemboca no RioTietê. Todo o lixo orgânico e anorgânico que é jogado ou cai nos esgotos da região se espraia por todo o perímetro dele, tornando-se um verdadeiro “fast food” para eles. Ou seja, de uma maneira enviesada, estamos proporcionando um verdadeiro criadouro para os membros da espécie Sarcoramphuspapa(L.).
São as voltas que vida dá…
PICTÓRICO (2013)
Ontem, a chuva faltou ao nosso encontro diário. Ela era nossa assídua companheira desde que começou 2013 e, para arrematar a tarde seca, o Sol nos deixou com a promessa de que voltaria no dia seguinte, com toda a pompa e circunstância — anúncio que, de fato, se cumpriu. Gosto de ver a luz solar refletir-se nas fimbrias do horizonte, a iluminar as construções, a produzir desconstruções de linhas e perfis no relevo. Já postei várias fotos desses momentos do entardecer em que vejo a luz comemorar o seu poder transformador. De início, o tom amarelado ajudava a dourar as casas de alvenaria e tijolos aparentes, no morro adjacente à minha casa. Passado algum tempo, no entanto, chamou-me a atenção, quando o astro já estava quase totalmente recolhido, o azul que substituía a paleta terrosa. Conjecturei que o ângulo de inclinação de sua luz, ao refletir no céu, azulava pictoriamente tudo em seu entorno. Logo, o assombro tomou conta dos meus olhos e, o anil, de toda a paisagem.
Só o lar do Homo sapiens neste canto da Via Láctea abriga vida no sentido que a conhecemos — como manifestação material, física. Resultado direto da existência da estrela de sexta grandeza a qual chamamos de Sol, somos seres solares. A Terra, planeta que nos abriga, está na distância correta para possa gerar vida sem que nos derretamos ou nos congelemos na maior parte de sua superfície. Os reinos, em suas diversas expressões — animal, vegetal e mineral — além dos subgrupos que se desenvolvem dentro de condições que, maravilhados, aproximamos a sua existência da Magia ou do Milagre. O agente que pode colocar tudo a perder é justamente aquele se coloca como hegemônico, dono deste corpo celeste navegante em torno do Sol — o Homem. Enquanto pudermos registrar, teremos a estrela a nos aquecer a imaginação e o olhar. Fui buscar nos meus arquivos, fotos que realizei em anos passados. Esta imagem acima, de 2017, mostra o rastro de luz refletida pela sua retirada do cenário da cidade onde vivo — São Paulo — ou, o efeito da ilusão causada pela revolução planetária em nossa visão.
Mais uma tarde que mostrou todo o esplendor do ocaso. O sol brincando de esconde-esconde com as nuvens, os raios que escapavam sobre e sob a massa de algodão celeste, o reflexo de sua luz nas coisas aqui da terra. Os antigos criam que o sol representava a face do próprio Deus na Terra e não estavam errados. Sem a sua luz, vinda na proporção certa, a vida não existiria neste planeta, além da água. Eis um dos registros que fiz deste crepúsculo de 12 de fevereiro de 2015.
Ontem, a chuva faltou ao nosso encontro diário. Ela era nossa assídua companheira desde que começou 2013 e, para arrematar a tarde seca, o Sol nos deixou com a promessa de que voltaria no dia seguinte, com toda a pompa e circunstância — anúncio que, de fato, se cumpriu. Gosto de ver a luz solar refletir-se nas fimbrias do horizonte e a iluminar as construções e a produzir desconstruções de linhas e perfis no relevo. Já postei várias fotos desses momentos do entardecer em que vejo o Sol comemorar o seu poder transformador. De início, a luz amarela ajudava a dourar as casas de alvenaria e tijolos aparentes, no morro adjacente à minha casa. Passado algum tempo, no entanto, chamou-me a atenção, quando o astro já estava quase totalmente recolhido, o azul que substituía a paleta terrosa. Conjecturei que o ângulo de inclinação de sua luz, ao refletir no céu, azulava “djavaniamente” tudo em seu entorno. Logo, o assombro tomou conta dos meus olhos e, o anil, de toda a paisagem.
Hoje, o azul imperou durante a maior parte do dia. E o Sol, posto a nu ou desanuviado, queimou peles e pensamentos. De manhã e à tarde, no entanto, as nuvens o vestiram, deixando a temperatura menos indecente. (Ubatuba, 2021)
Dia primeiro do desafio Fotografias da Natureza. Não é um desafio vazio, mas muito bem-vindo. A cada dia, deverei postar uma foto, nomeá-lo e convidar um amigo para reproduzir uma imagem, que deverá chamar outro amigo para brincar. Eu diria que se trata de uma forma de pirâmide de bom gosto. A foto de hoje provém de Jaguariúna, na região de Campinas, onde ainda encontramos espaços abertos. Nesse dia, os raios solares se revezavam com a chuva forte para compor a imagem reproduzida através do para-brisa de um carro. (2016)
Nesta manhã, o dia clareava com o sol a se fixar no firmamento nebuloso, como um óvulo na parede uterina do céu que gestava o último dia do ano. Logo mais, depois de o dia ter crescido e se desenvolvido, envelhecerá e chegará ao termo, na última hora do ano de 2015. Eu, pessoalmente, procuro viver um dia de cada vez. Não deixo de planejar o futuro, vislumbrar as possibilidades, colher os resultados de minhas empreitadas. Porém, sinto que a minha atitude, inspirada por minha vivência pessoal, aliada à sabedoria amealhada durante milhares de anos por bilhões de seres que já habitaram este planeta, é a que melhor se adequa ao que eu penso.