14 / 12 / 2025 / É! Não É?

À partir da chegada da Internet na vida das pessoas, vários parâmetros da vida humana ganharam novas formas de referência. Como é comum acontecer, as várias ferramentas disponíveis através de sua inserção em nossa rotina começaram a ganhar protagonismo. Eu decidi não utilizar, mas é comum que a IA se transforme, para além da linguagem, em uma espécie de realidade paralela aos quais as pessoas aceitem como factível. A frase da imagem acima é de 2017. Eu já especulava sobre as possibilidades e alcance das novas tecnologias, mas o Sr. Corrector (como o chamo) eu deixava atuar porque me dava ideias interessantes à partir dos erros de flexões verbais ou a mudança de palavras que são simples, mas que por causa de um acento, muda todo o contexto do que se quer expressar. Foi graças ao uso das palavras que o ser humano construiu o poder sobre o meio ambiente. Muitas vezes a ponto de prejudicá-lo. Creio que seja pelo uso consciente da palavra que consigamos reverter o processo pelo qual nos encaminhamos para a autodestruição e, conosco, o resto dos habitantes de Gaia. “É e não “E“. “Ser” e não “Ter“. Por meio do uso correto da palavra poderemos mudar o rumo que tomamos em direção ao precipício…

10 / 11 / 2025 / Blogvember / De Repente, Escrevo Uma Anti-Carta…

… antídoto de páthos
porque escrever é paixão não se expressar seu antídoto
como se isso fosse doença e é…
rara enfermidade que gerou civilizações
a história histórias contos falas poemas folclores caminhos
sem escrever não somos nem aqui estaríamos
foi preciso pioneiros aqueles que manusearam instrumentos inéditos
o que os levaram a sentir esse movimento íntimo em diferentes culturas
ainda que vivessem em diferentes latitudes?
ser ser humano propiciou que construíssem impérios
domínios e dominações controles e escravizações
palavras religiões o bem e o mal
sortes
e mortes
tão nefasta quanto uma carta em branco
plena de silêncios acaçapada de ranço…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia

Foto por Pixabay em Pexels.com

09 / 11 / 2025 / Blogvember / As Palavras Mudam…

…de minuto a minuto…
de fato as palavras se reproduzem como larvas em carniça
ou como fogo em palha
ou como avalanche em estação de esqui
matando centenas de esquiadores
espinhas em adolescentes
ofensas em briga de casal
mas palavras também florescem feitos margaridas na primavera
jasmins nos jardins
beijos entre namorados
pássaros nos ninhos
frutos nos campos
e amor entre quem quer amar…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia

13 / 10 / 2025 / As Chaves*

“Tenho tido pequenos lapsos de memória. Tenho me dispersado frequentemente ao realizar tarefas básicas. Eventualmente, tenho até esquecido de comer. No entanto, a não ser que tenha sido levada por seres alienígenas ou tenha entrado por uma porta interdimensional, uma coisa eu garanto: as minhas chaves de casa estão em algum lugar sobre a face da Terra!” — 2014.

Escrito a 11 anos, no parágrafo acima descrevo uma circunstância comum na vida muita gente, de tal forma que as respostas dadas a ele relatava vários casos como esquecer o óculos de leitura na própria cabeça, trocar os itens de compra no supermercado por outros que já tinha em casa, deixar o celular perdido em algum ponto. Quando eu ainda tinha telefone fixo, uma das suas únicas utilidades (além de receber propagandas) era o de ligar para o celular para saber onde o havia deixado. Outros brincavam dizendo que era a idade que provocaria esses lapsos.

Pode até ser que estivesse piorando, mas o que sei é que sempre fui disperso. Isso me propiciava diversas situações embaraçosas que faziam com que me isolasse cada vez mais. Preferi evitar conviver mais de perto com as pessoas para não criar pretextos para discussões. Era usual eu me perder em divagações em meio a conversas com parentes e amigos. Na escola, buscava me concentrar o máximo possível e, no meu trabalho, descobri que conseguia manter a atenção redobrada, levando tudo a bom termo. Na escrita também ficava tão envolvido que todas as experiências vividas ou intuídas fluíam em prol da sua elaboração. Os textos, após ser entregues, os esqueço. Aos relê-los depois um tempo, muitos ressurgem como se fossem inéditos para quem os escreveu.

Minha dispersão é estimulada algumas vezes pelo encantamento por palavras ditas ou lidas a esmo, além de cacos de lembranças ou visões que me levam para longe — um efeito reverberante, inexplicável e imprevisível. Até provar para o meu interlocutor que minha desatenção não é proposital, o estrago já está feito. Ao mesmo tempo que saiba que isso possa ser prejudicial às minhas relações, eu receio que ao tentar reverter esse sintoma (seja lá de que forma for) me ajuda na redação meus textos, tornando-se quase uma dependência.

O isolamento provocado pela Pandemia de início propiciou o tempo necessário para escrever. Porém, a falta de contato com a vida em movimento foi reduzindo paulatinamente os estímulos que colaboravam para um melhor desenvolvimento de meus temas. Receber referências indiretas — por livros, filmes, músicas, artes plásticas — são desejáveis igualmente, mas sempre preferi beber na fonte do cotidiano humano que apreendia através da minha percepção. Passei por uma crise criativa, muito parecida por ocasião da doença e morte de meu pai, três anos antes.

Encontrar as chaves que possam deixar abertas as portas da minha percepção como escritor enquanto consiga conviver sem parecer alguém com sintomas escapistas inconciliáveis requer um esforço grande, mas necessário. Ainda que me sinta desconfortável em compartilhar minhas embaraçosas idiossincrasias pessoais, praticar a escrita ao revelá-la torna-se um duplo exercício de criação e auto perdão que me trazem prazer e certa redenção.

#Blogvember / Aviso Prévio

… as palavras fogem sem prévio aviso (Nirlei Oliveira)

Foto por Tima Miroshnichenko em Pexels.com

Lidamos com as palavras, nós, escritores, com um amor surgido desde cedo. No entanto, há momentos em que as palavras fogem sem prévio aviso. Como pássaros arredios, batem asas e fogem de nossas gaiolas em formato Times New Roman. Nossas mentes não conseguem as seduzir com comidinhas de letras apetitosas e água fresca de linhas retas. Desdenham de nosso apreço, tripudiam de nosso desejo em revelá-las belas e faceiras para serem lidas com prazer para o descobrimento de mundos e personagens.

Isso, quando não nos enviam a requisição de uma Carta de Aviso Prévio, se demitindo de nossa empresa de montagem de histórias, depois de greves em que fazem paralizações sem reivindicações precisas, apenas para nos atrapalhar, como se não gostassem de nossa gestão. Querem nos confundir. Dão sinais de acordo, mas desistem de diálogos cara a cara na mesa de negociações. São veículos de expressão tiranas. Sabem da importância que têm para quem precisa delas como um náufrago de numa ilha deserta precisa de um barco para voltar à civilização.

O que sei é que um dia elas também sentirão saudade de quem as ama. Voltarão sôfregas por serem utilizadas no afazer de romances, poemas, narrações, prosas, descrições, enfim serem escritas. Pousadas na tela ou no papel, baterão asas apenas na imaginação. Migrarão para livros e computadores, páginas. Gerarão emoções, inflaram sentimentos, provocarão efeitos desejados e insuspeitos em quem vier as ler. Palavras são difíceis de lhe dar, mas quem sofre por elas em bem dizê-las, as bendirão durante toda a sua existência…

Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes