14 / 07 / 2025 / Pela Janela

Pela janela observo o Passado à vista do Futuro.
Estou presente.
Mas nunca estaciono a mente no momento.
Sempre me sinto deslocado.
Quem eu imagino ser?
Aquele que passa…
Passeio pelas passarelas que atravessam vias abaixo.
Transitam monstros transcendentes
de bocas pequenas,
melhores que tantos cheios de enormes dentes.
Dementes.
Mas continuo a ver que a vida se expressa de miríades maneiras,
assim como as estrelas brilhantes,
ainda que muitas, já mortas.
É como relembrar o beijo de um amor de nossa juventude.
Que se foi…
Pela janela, a transparência é opaca…
Minha alma se sente oca.
Mas plena de vazios, carrega possibilidades de ser…
Que seja o que acontecer…

Registro fotográfico de 2018. Arquivo pessoal.


13 / 07 / 2025 / Tempo*

Tento viver um dia de cada vez… mas, ouço, com certa frequência, pessoas argumentarem que devemos planejar o futuro — e não ficarmos totalmente presos ao Presente.

Não vejo melhor maneira de estruturar o futuro que nos dedicarmos ao Presente… da melhor maneira possível.

Um passo por vez, no bom caminho, sempre em frente… com o destino estampando — como se fosse o letreiro luminoso de um ônibus: FUTURO. Afinal, tudo o que ocorre conosco, nos dias que correm, é consequência direta do nosso passado.

O Tempo, para mim, é relativo… alguém já provou, por “a + b”, com muito propriedade, que assim é. Eu diria, até, que o Tempo não existe — pelo menos, não da maneira como o estipulamos, medido em números.

O que chamamos de Tempo diz respeito aos efeitos dessa contagem de números sobre o nosso corpo e sobre a matéria… nesse caso, chega a ter certo fundamento.

Os gregos foram mais espertos ao definirem o Espaço-Tempo de acordo com os deuses e o homem.

Eu prefiro relacionar o tempo a um estado mental e, dessa maneira, em minha mente, os três Tempos — passado-presente-e-futuro — se confundem.

Para simplificar e não parecer uma pessoa fora do Tempo, estipulo que o nosso Passado apenas nos explica o Presente, e o nosso Futuro… acontece agora.

*Texto participante do livro de crônicas REALidade, lançado em 2017 pela Scenarium Livros Artesanais.

11 / 05 / 2025 / Cazuza

Então, por uma dessas interações que ocorrem ao vermos um vídeo, que nos leva a outro e depois a outro, cheguei ao Cazuza. Talentoso e controverso, filho da classe média abastada que vivia a vida louca das ações marginais de boutique e exageros típicos dos jovens inconformados com a pequenez do cotidiano, foi então o encontro com a possibilidade da morte eminente que o fez grande. 

Conviveu com a Morte como quem encontrasse “alguém” com quem pudesse dialogar de igual para igual. Nesse contexto, “O Tempo Não Para!” foi uma tradução que profetiza todos os tempos, a incluir os atuais. Eu me lembro da apresentação desse tema realizada ao vivo em um programa especial de televisão. Tanto quanto o público, que o ouvia pela primeira vez, percebi o peso do que dizia:

“Disparo contra o Sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o Tempo não para

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O Tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O Tempo não para
Não para, não, não para

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha no palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o País inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para”…

05 / 03 / 2025 / Da Sacada*

Numa quinta-feira, dia 08 de Março de 2018, estreou o clipe musical “Da Sacada”, por Marcos Wilder (@marcoswilder). Protagonizado por mim a convite de um amigo da minha filha mais nova, e pelo próprio Wes, que entendeu que eu poderia desempenhar um papel que mostrasse um homem que caminha pela cidade de São Paulo, em busca de sentido para a sua existência. Foi uma criação coletiva, formulada livremente, ao sabor das imagens colhidas e pelas ideias do Wes que propôs o cruzamento entre dois sujeitos com uma boa diferença de idade. Poderia sugerir que fossem o mesmo homem (passado e futuro), ou um pai e um filho, ou ainda dois amantes. Foi uma experiência interessante e o resultado artístico me agradou bastante, principalmente pelo talento de todos os jovens cineastas envolvidos.

Realização: St. Jude Filmes

Direção: Weslei Matta

Ass. De Direção: Tarsis Sousa

Fotografia: Pedro Oliveira (@pesdrohol)

Edição: Lucas Paiva

09 / 01 / 2025 / Mares E Marés

Eu gosto de ir ao mar. No confronto com as ondas, volto à infância. Me revisto de quase nenhuma vestimenta. Vibro com o vento as suas fragrâncias sopradas e sons sugeridos por arvoredos de folhas farfalhadas ao sabor. Mas percebo que são visões do passado, quando menino caminhava pelas ruas de areia, terrenos tomados por mangues e casa de madeira. Se houve uma época em que tive uma convivência mais leve com meu pai foi então… Talvez seja por isso que vivo a retornar para esse oásis no meio do deserto da minha juventude.