Projeto Fotográfico 6 On 6 / Quem Sou Eu…

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Família Ortega

Eu sou eu e muito mais. Sou elas  — companheira e filhas. Quando penso na minha vida sem a família (mais próxima), por mais imaginação que tenha, não consigo conjecturar. Talvez, não queira. Por elas, me salvei de mim. Agora que são não mais “minhas”, mas delas mesmas, me proponho seguir sem minhas filhas como desculpa para não me enfrentar. Escrever me ajuda. Sei que amam ao pai e ao marido, apesar de meus defeitos. Alguns, cultivo com cuidado de quem sabe que precisa deles para se identificar. Quando for perfeito, morrerei. Ou melhor, finalmente morto, me tornarei perfeito.


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Turma da Scenarium Plural

Sou escritor. Sou da SCENARIUM PLURAL. Encontrei a minha turma. Mas são escritores. São bichos arredios. Mundos á parte. Universos feitos de letras, linhas, sinais, palavras…  — textos. Só os encontro oportunamente. Congregamos em igrejas profanas. Geralmente regadas à café. A Pastora-Editora Lunna nos reúne, nos une e nos decompõem em unidades propulsoras de histórias. Lume na noite escura, pelo caminho podemos ver os reflexos do brilho lunar em nossas criações. Agradeço e oro orações coordenadas e subordinadas adjetivas, adverbiais e substantivas. Torno-me substancial…


12 São Paulo: Paulista, Tiradentes, Matarazzo, Largo do Japonês e Marquês de São Vicente

Eu sou (de) minha cidade. Mas São Paulo não se permite pertencer a ninguém. Quem a quer, descobre que nunca a terá. É rebelde aos afagos de qualquer um. É pedra e movimento. Esfinge, sua lógica é de devorar seus filhos-amantes e regurgitá-los como se fossem resultado de uma ressaca homérica. Vive em delírio, louca cidade, que amamos. Múltipla e de personalidade cambiante, essa é sua condição permanente. Provinciana e metropolitana, viajamos por estados em cada rua. Abriga ilhas de calor. É fria, de regelar. Quente, de queimar. No topo do planalto, é mar aberto para quem tiver coragem de navegá-la. E nela, morrer afogado.


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Horizontes…

Sou também os horizontes intangíveis, como se fossem imagens de alienação. Tentativa vã de pertencer a outro estado de espírito. Retratos em imagens fixas, para não deixar escapar a substância etérea de sua impermanência. Estamos exterminando os horizontes. São “espécies” em extinção. A não ser que nos afastemos demais, não os encontramos sem que haja uma intervenção humana a sujar a paisagem com as marcas de seus dedos. Lua, sol e estrelas  — interditamos a sua visão. Um dia, cessarão de existir. Plantas, animais, espíritos da Natureza  — mataremos sem piedade com nossa ganância. E, então, juntos morreremos. Melhor dizendo, se sobrevivermos, seremos como casca sem alma…


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Trabalhar com entretenimento – função e prazer

Eu sou o meu trabalho. Não o aceitava antes tanto quanto agora. Não gostava dos horários irregulares, das noites (manhãs) mal dormidas, dos jejuns forçados pelo tempo escasso ou falta de planejamento de contratantes e de nós mesmos. Adoeci por não conseguir controlar todas as demandas que obrigava. Até que decidi entender que, para sobreviver a ele, teria que começar a apreciá-lo como parte de minha vida, não apenas como necessidade para ganhar o meu sustento. Trabalhar não é um sonho com o qual separamos consciência e vivência. Faz parte da existência e deve ser apreciado como tal. E, afinal, trabalhar com o que se gosta é um barato.


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Todas as idades…

Eu sou eu e muito mais ou ninguém. Já fui o garotinho a correr feliz pela praça, fui o menino tímido que se imaginava David Bowman (Keir Dullea), de Space Odissey; fui o cabeludo que não se importava com a aparência; o brincalhão, no Carnaval; o escritor intrigado com a passagem do tempo e sou o velho que pega o trem azul com o sol na cabeça. Sou todos e, em resumo, nenhum deles. Tanto quanto os replicantes de Blade Runner, tento confirmar minha existência pela captura de momentos cristalizados. Sempre me surpreendo por não os lembrar como fatos, mas como sonhos de alguém. Minha memória é divagante. Apenas não me esqueço de quem não sou…

P.S.: Ah, se tivesse que haver uma definição definitiva de quem sou, respondo  — sou Mar. Se pudessem me ouvir, ouviriam dentro de mim o quebrar das ondas a reverberar. Se pudessem me vasculhar, sentiriam os fluxos e os refluxos da água salina a passear por minhas artérias e veias. Se pudessem me navegar, perceberiam o quanto pareço um na superfície e outro em minhas profundezas. Se morresse no mar, seria doce…

https://www.youtube.com/watch?v=dpmG5fd63cg

 Participam deste projeto:

Maria Vitoria |Mariana Gouveia | Mari de Castro |Lunna Guedes  | Cilene Mansini

 

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Junho

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Amanhecer na estrada para junho…

Junho me engoliu. Descobri que passeava pelo mês, quando já havia deglutido o primeiro dia em sua metade.  No feriado, ocorrido no último dia do mês finado-passado, trabalhei vinte horas seguidas. Acordei na sexta-feira passada, pensando que fosse segunda. Mandei mensagem para a minha podóloga, informando que perdera a hora da consulta, às 13h. Apaguei, logo que percebi a discrepância. O motim dos caminhoneiros, ajudou a tornar o início de Junho prenúncio de algo novo –– só não sei dizer o que será…


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Domitila

Junho me deixa preguiçoso.  E invejoso, de tanta paz que alguns sentem ao vivenciá-lo. Apenas penso que será um mês atribulado, com Copa do Mundo e eventos relacionados à esse acontecimento. Nunca observei tanta pouca acolhida ao torneio de futebol quanto neste ano. Talvez reflexos de certo 7 X 1, na Copa passada. Prefiro acreditar que o brasileiro sabe que teremos grandes problemas a enfrentar no decorrer do ano. Que vencermos um evento esportivo não definirá nosso futuro tanto quanto as eleições que se aproximam.


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Mês branco…

Junho é um mês branco. Em sua maior parte, nasce e morre sem outra cor. O outono se esvai em sangue cada vez mais ralo, à espera do inverno que se aproxima. A cidade cinza se diferencia das cores manipuladas pela mão do homem, em paredes e janelas. Nesta paisagem de São Paulo antiga, do Vale do Anhangabaú, pintada em um prédio na Avenida Tiradentes, o branco do céu real se confronta com o azul do céu fictício.  A cidade se sobrepõe em camadas, em avessos e vice-versa.


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Paisagem suspensa…

Junho começou com visitas à Santa Efigênia, região onde busco suplementos e equipamentos de trabalho. Vez ou outra, adentro a espaços em que quinquilharias se acumulam sem propósito aparente, a não ser de servirem como cápsulas do tempo. Já consegui peças e dispositivos com bons preços nesses lugares. Ontem, cheguei a ver o mar, ainda que mal pintado. Surpresas deste mês frio.


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Nudez…

Junho desencarnado se reflete em visões nuas. Como a parede deste belíssimo prédio. Praticamente abandonado. Aparentemente, está para ser reformado. O mês de junho está para ser reformador. Janelas e portas escancaradas para nos conscientizarmos de nossas possibilidades como povo. Poderia começar com as festas juninas queimando as fogueiras do descaso à vida, da insolvência da lei, do descumprimento das normas básicas de convivência social. Que as quadrilhas dancem apenas os temas folclóricos.


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O multi-Homem que não sou…

Junho antecipou emoções que esperava viver apenas em seu final. Solicitações de todas as ordens fez com que eu tivesse que multiplicar minha atenção. Nem mesmo a minha personalidade dada a brincar com personagens para atendê-la em sua diversidade, está conseguindo lidar com todas as questões que este mês tem me pedido. Há datas que gostaria de ser três pessoas, pelo menos, para estar onde gostaria de estar. Dia 23 de Junho será um desses dias…

 

|Lunna Guedes| Aline Calai | Cilene Mansini | Maria Vitoria |
Mariana Gouveia | Mari de Castro Obdulio Nuñes Ortega |