#Blogvember / Ao Destino

Senhor Destino,

o dia amanheceu cheio de expectativas para tantos… Para mim, que estava me deslocando de minha zona de conforto, não. Eu aprendi… ou melhor dizendo, eu desenvolvi o costume de não ter nenhuma expectativa quanto a certas questões que fogem do meu alcance. O meu comportamento é o de um passageiro de ônibus que pode apenas observar a paisagem enquanto se encaminha para o destino programado tendo ao volante um motorista profissional capacitado. É o que se espera.

No entanto, é comum me surpreender com o otimismo que as pessoas têm quando dizem que estarão em determinado lugar em determinada hora. Ao mesmo tempo, esperar que algo dê errado com o planejamento que estabelecemos para chegarmos a algum ponto, seja um sintoma doentio de negatividade. Milhões de pessoas se deslocam de lá para cá de forma quase automática. Não são contadas intercorrências em seus trajetos, suspeitas de atraso ou movimentos inesperados. E ainda bem!… Deve ser horrível viver na expectativa de malefícios. Mesmo assim, me assusto com os que têm certezas objetivas. É como se tivessem o dom da clarividência. “Tomarei tal transporte. Irei para tal lugar. Subirei as escadas da faculdade às 10h10. Me casarei dia tal, com tal pessoa, vestindo tal roupa”.

Como deve saber (já que me tem em suas mãos), trabalho com eventos. Tenho que os agendar antecipadamente. Muitas vezes, meses e até um ano antes. Como casamentos. Eu acho incrível essa convicção de algo que envolve planos de uma vida toda. É como o agricultor que prepara o terreno para colher no tempo adequado. Verifica as previsões climáticas – se o prognóstico é de chuva aquém ou além do normal – se angustiando com antecipação. Mesmo sabendo do que ocorrerá, tenta negociar com os deuses para que não seja prejudicial assim…

Planos para a vida depende de planejamento e cuidado. Para que tudo saía idealmente, conta-se de costume com algo imponderável em resultados que é a . Para as pessoas, ela poderá ser apenas um aditivo psicológico ou um apoio milagroso de forças que impulsionam resultados à frente por si só. Eu, que não me utilizo da nesse sentido, quase como um dado prático essencial ao funcionamento das engrenagens, confio que tudo funcione perfeitamente dadas as medidas adequadas de temperatura e pressão. E só.

Hoje, está missiva começou a ser escrita antes de uma pequena viagem para o interior rumo ao casamento de meu sobrinho. Fomos e voltamos dentro da previsibilidade, mas a estrada guarda perigos visíveis, contando sempre com o jogo de dados em que muitos motoristas apostam a sua vida e de outros a cada mão jogada. Superadas as etapas passo-a-passo, roda-a-roda, não foi desta vez que você, Sr. Destino, nos interpôs obstáculos intransponíveis. Agradeço que a sua mão invisível tenha nos conduzido sãos e salvos.

Até a sua próxima intervenção!

Obdulio

Participam: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Mariana Gouveia

BEDA | Fechado


Fechado
Vítima imóvel…

O dia cinza, frio e chuvoso, já me parecia triste o suficiente – às questões pessoais, somei o clima instável. Especialmente sensível, meu olhar denunciava amargor em cada rosto. Em cada pessoa, pressentia uma história desgostosa. Evidentemente, nem tudo deveria ser tão ruim. No entanto, não vislumbrei sorrisos, nem mesmo nos jovens que saíam da escola adiante, na rua que caminhava.

Em uma das esquinas, encontrei um restaurante fechado em plena hora do almoço. Provavelmente, mais uma vitima da crise. Não era o primeiro estabelecimento que via nessa condição. Por trás de cada janela fechada, a cada cortina baixada, a cada porta trancada – uma história de luta perdida e sonho acabado. Depois de tudo, o fim…

Viver não é fácil. Ganhar o pão de cada dia, implica em matar um leão por dia, caso contrário, ele o devora. Apenas talento para os negócios não basta. Há de se vencer a falta de planejamento dos administradores públicos – incompetência, descaso ou corrupção – que desce até a base. Lá, encontramos os achacadores – fiscais fisgadores de peixes grandes e pequenos – impostos, taxas e dificuldades para abrir e/ou fechar empresas.

A legislação é seguida, os documentos são regularizados, os empregados são registrados, os regulamentos são atendidos. Os fiscais sempre encontrarão uma brecha para solicitarem uma conversa fora das anotações oficiais, com consequentes notas-ações.

Além disso, a crise não ajuda em nada. Engendrada em gabinetes a milhares de quilômetros, planos econômicos estruturados para alimentar a máquina pública, atender a apaniguados, contemplar apoiadores, segurar a aliança de cúmplices. Dizem que é tudo dentro da lei. Lei feita por eles, para eles, contra todos nós…

A imagem do restaurante morto, ajudou a piorar o meu dia. Saber que trabalhadores perderam funções e sustentos, me derrubou. Mas confesso que ver a pequena rampa para cadeirantes, quase dispensável e, agora ineficiente, quebrou meu coração de vez…

Participam:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari