Hoje, não presenciarei este poente… El Niño nublou o dia (tudo é culpa do El Niño desde sempre!) e a nebulosidade impedirá a visão do Sol boiando feito uma bolinha dourada nas águas avermelhadas do sangue da tarde que está a morrer… A não ser, é claro, que tenhamos uma terceira estação climática desde que se inaugurou a manhã…
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29 / 06 / 2025 / Poentes No Cais

Sentado no cais,
todas as tardes,
eu me coloco a observar a linha do horizonte…
Lusco-fuscos da minha perdição…
Todos os dias,
a essa hora,
há essa hora
em que revivo o momento da despedida…
Ela se foi…
sem ter a delicadeza de desaparecer
em barco a vela silente…
Foi para o continente,
célere como o pendular instante,
em ronco de motor potente…
Fiquei na ilha, ilhado…
Solidão por todo o lado…
Em dias nebulosos,
não há diferença entre o firmamento
e o mar,
entre a noite que chega
e o dia que vai…
Então, me sinto melhor…
Porque mergulho em um mundo
de oceano sem fundo,
um buraco negro,
de luz abduzida…
De nosso amor,
restou pores de sol,
tempestuosos e brilhantes,
de raios fugidios,
figuras de corpos esguios…
assim como o seu,
que espero voltar,
até anoitecer
ou o Tempo acabar…
Pinceladas
Noite feita,
quase releguei ao esquecimento
a pintura da tarde…
Crepúsculo recordado,
revejo a nave que não sei se chegava ou partia…
Pinceladas compostas de água e luz
pontuavam o fundo da paisagem ao oeste.
Poeta do poente,
sei que apenas o amor
é combustível poderoso o suficiente
para fazer voar
o mais pesado que o ar…

