07 / 09 / 2025 / Um 7 De Setembro

“7 de Setembro de 2021. Enquanto a tarde se desvanece, fico a pensar o quanto caminhamos para nos perdermos nesta encruzilhada a que chegamos. As pessoas que escolheram ir em direção ao abismo, mesmo que tenham perdido acompanhantes — os que pararam no meio, os que voltaram ou mesmo aqueles que buscaram outras veredas — querem que todo o povo despenque junto com elas, obedecendo a um líder insano, que deseja o aniquilamento de todos os progressos já realizados. Essa matriz assassina-suicida abomina a convivência entre os diferentes. Como somos um povo de vários matizes, deseja eliminar a diferença pela morte dos desiguais, dos excluídos, dos empobrecidos, das identidades multigêneros, das maiorias minoritárias em termos de poder de expressão. A minha expectativa, nem tenho mais esperança, é que o dia seguinte aconteça, aurora e crepúsculo, passando pelo pico solar. Que as crianças, como as que vejo agora, continuem a ter como única preocupação num feriado nacional, empinar pipas impulsionadas pelo vento refrescante que nos envolve agora. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”…”.

O texto acima retratava a situação que vivíamos então, com a Pandemia fazendo o seu papel demolidor de certezas quanto ao mundo que conhecíamos e quanto continuação da Democracia como modelo de governo, atacada que estava sendo pelo então governante máximo do País, o Ignominioso Miliciano. Como a Terra é arredondada (levemente achatada nos Polos) ao contrário do que estava sendo alardeada pelo negacionistas que afirmavam que fosse plana (!), além do mais grave — negação de que vacinas salvam. Aliás, o atual responsável pela Saúde dos estadunidenses faz a mesma afirmação e combate a vacinação de maneira decisiva. Um retrocesso impensável produzido pelo movimento de Direita que, de forma impressionante, parece estar intrinsicamente associado a ignorância como estratégia de aliciamento dos não pensantes, talvez o maior número de pessoas — e olha que isso vai contra à minha tendência em pensar de forma sempre positiva sobre a Humanidade.

03 / 05 / 2025 / Pobre E Bela

A Periferia é pobre, mas a tarde é bela.
O povo é despossuído, mas a sua natureza é singela.
A rua é íntima amiga, muitas vezes serve de abrigo.
A violência existe e, em contrapartida muito amor.
Que a tarde abrigue este momento confortador…

28 / 02 / 2025 / O Índio*

Os Pataxó são um povo indígena brasileiro de língua da família Maxakali, do tronco Macro-jê. Em sua totalidade, os índios conhecidos sob o etnônimo englobante Pataxó Hãhãhãe abarcam, hoje, as etnias Baenã, Pataxó Hãhãhãe, Kamakã, Tupinambá, Kariri-Sapuyá e Gueren.

Apesar de se expressarem na língua portuguesa, alguns grupos conservam seu idioma original, a língua Patxôhã. Praticam o “Xamanismo” e o Cristianismo. Vivem no sul da Bahia e em 2010, totalizavam 13.588 pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A Ingrid trouxe da região onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez em Pindorama, esse colar de contas. A minha ascendência indígena me permite usá-lo para além de objeto decorativo, por carregar vários significados. Para mim, é como voltar para a kijeme.

*A imagem acima data de 2021. Estava refugiado em Ubatuba, tentando sobreviver à grave crise de Ansiedade. Como trabalho com eventos, estava parado e pude ajudar na implantação de um projeto de uma amiga da minha filha mais velha, relativo à entrega de alimentos leves, a qual fazia de bicicleta. Ao mesmo tempo, pude usufruir das lindas praias da região e ao participar de um curso de literatura da Scenarium, escrever um livro que veio a se chamar Curso De Rio, Caminho Do Mar, do qual gosto muito. Foi lançado no mesmo ano pelo selo comandado por Lunna Guedes.

27 / 02 / 2025 / Meu Povo

“Talvez eu não consiga estar em outro lugar que São Paulo, aqui no Brasil. Por aqui, já estive em muitas cidades, mas ainda não consegui me ver vivendo fora desta loucura, principalmente em termos profissionais.

A Europa, autointitulada de Velho Mundo, alcançou a atual qualidade de vida tendo 2 mil anos a mais de História e por meio da exploração da riqueza do Novo Mundo, Ásia e África. Muitos europeus, conscientes desse fato histórico, tentam fazer um belo trabalho na área social, através de organizações não governamentais que atuam na América do Sul, África, Ásia e algures.

Na América do Norte, temos os Estados Unidos, que seriam uma exceção, por sua própria formação, em que os seus colonizadores fugiram da Inglaterra por incompatibilidade religiosa com a realeza para criar um novo país e permanecer definitivamente na terra.

Para colaborar, a religião desses colonizadores americanos preconizava que a riqueza angariada era sinal de benção divina, bem diferente dos colonizadores portugueses e espanhóis, de formação católica que pregava para seus fiéis que o reino dos céus pertencia aos pobres, enquanto a elite extraía o máximo de benefícios, para que ricos voltassem para a Metrópole nobilizados, inclusive pela compra de títulos.

Esse comportamento predatório perdura até hoje, em todos os níveis da população, de modo geral. Dê a oportunidade de um despossuído alcançar uma benesse e ele irá brigar com unhas e dentes para mantê-la, passando por cima de qualquer ética. A minha terra é linda, mas o meu povo…”.

O texto acima foi escrito num momento de amargor, muitos anos antes. Talvez há 10 ou 15 anos. Não que eu tenha mudado muito a minha ideia sobre isso, mas creio que não deva deixar de tentar mudar a realidade em nosso entorno para que as coisas não fiquem ao léu, ao gosto dos poderosos comandando um Sistema predatório. Sem essa crença, nunca construiremos um país melhor. Por fim, caso eu pudesse, me mudaria para uma cidade no Litoral, ainda que saiba que seria um dos prováveis primeiros locais a serem atingidos pela subida do nível do Mar devido à crise climática.

BEDA / A Primeira Atrevida Dama

Atrevimentos parece ter sido o roteiro traçado para a sua vida desde moça. Não que fosse seu desejo expresso. Mas como a estrutura que encontrou para a sua atuação como mulher lhe exigisse desde cedo se atrever para avançar no caminho que buscou percorrer, tornou-se uma típica mulher atrevida – aquela que não se encaixa nas definições básicas reservadas ao gênero feminino – discrição e obediência aos bons modos tradicionais.

Publicamente, a sua postura de quem sabe o quer começou a chamar atenção quando Lula ficou preso em Curitiba, condenado pelo Juiz Sérgio Moro, por conta da Operação Lava-Jato. O preso começou a receber a visita da bela mulher que atuava no PT do Paraná, do qual era filiada desde aos 17 anos. Já se conheciam, mas a partir de abril de 2018, a presença atenciosa de Janja foi se impondo de tal maneira que foi impossível para o velho político, viúvo desde 2017, não se apaixonar por aquela pessoa destemida tanto quanto o antigo operário que um dia ousou se candidatar ao cargo supremo do País.

Em 1 de janeiro de 2023, essa mulher atrevida se tornou a trigésima nona primeira-dama do Brasil com o terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a cerimônia de posse, apareceu usando um terno dourado, sendo a primeira a usar tal peça nessa solenidade. Bem, esse foi o destaque dado por algumas páginas femininas de moda no dia, sem atentar para a incrível e icônica cerimônia, na qual foi emulada a presença do povo representado em suas várias facetas no recebimento da faixa para o novo presidente. Feminista declarada, Rosângela Lula da Silva passou a dispor de um gabinete para atuar nas áreas de segurança alimentar e do setor cultural, além de fomentar os movimentos e ideologias que visam estabelecer a igualdade de gênero, de cunho identitário. Atrevidíssima!

Tenho percebido um Lula mais articulado em suas palavras, ainda que volta e meia se aferre a velhas posturas. Essa mudança muito se deve à influência da companheira que não se apresenta apenas como um mero acessório. Em 1990, ingressou no curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especializou-se em História na mesma instituição. Além disso, Janja possui MBA em Gestão Social e Sustentabilidade. Entre 1995 e 1996, atuou como docente colaboradora do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O discurso proferido por Lula na posse foi um dos mais bonitos que ouvi. Em vários pontos se destaca uma visão mais apurada das demandas sociais, para além dos velhões chavões de discussões acadêmicas que mais obscurecem do que aclaram as soluções para o desenvolvimento do País.

A Primeira Atrevida Dama, forte e independente, têm luz própria e certamente ainda dará muito o que falar tanto para os seus admiradores, quanto para seus detratores. Ela continuará a trilhar o atrevimento de ser o que quiser ser – direito de toda mulher –mostrando que as brasileiras merecem ser vistas bem mais do que estereótipos de beleza vazia.

Participam: Danielle SV / Suzana Martins / Lucas Armelim / Mariana Gouveia / Lunna Guedes / Alê Helga / Dose de Poesia / Claudia Leonardi / Roseli Pedroso