28 / 06 / 2025 / Vida De Passarinho*

Nesta tarde, o meu irmão encontrou, na boca da Penélope, um pássaro… Morto… Talvez um canário. Talvez o mesmo que canta (ou cantava) toda manhã, aqui no quintal. A nossa bela e negra Penélope é uma caçadora. Nada escapa ao seu raio de ação quando se trata de gatos, ratos e seres alados… Ao retirar o bichinho da sua boca, o Humberto, conhecedor de pássaros pela passagem de parte de sua meninice no interior, decretou: “Vida de passarinho…”. 

Então, vida de passarinho é assim — frágil, rápida e sonora. Alegre para quem ouve o seu cantar. Perigosa, para ele mesmo, pois o seu encanto atrai predadores, incluindo àqueles que se alegram com o seu canto. 

A tarde fluía em seu primaveril caminhar, com o Sol a descer a linha do horizonte entre nuvens mais escuras da chuva intermitente… Diante desse espetáculo, tendemos a nos sentir como passarinhos na boca da negra e bela Eternidade. Um dia, ela nos abocanhará igualmente…

Texto de 2017*, incluído em meu primeiro livro — REALidade — de crônicas, lançado pela Scenarium Livros Artesanais.

Foto por Lenandro Melo em Pexels.com

21 / 06 / 2025 / Mudanças Climáticas*

Em 2015, escrevi: “Dia de sol inclinado e temperatura fria. O inverno chegou! Mexericas ainda não colhidas, revelam as bicadas dos pássaros e as picadas dos insetos ou, ainda, apodrecem no pé. Podemos até desenvolver um sentido de desperdício quando nós, os humanos, não aproveitamos o máximo das potencialidades que a vida nos oferece, mas outros seres, dos alados aos rastejantes, talvez discordem disso…”.

Outra imagem semelhante registrei nas primeiras horas do Inverno primaveril de 20 de Junho de 2024* e escrevi: “As árvores, confusas com o calor tépido, florescem fora do tempo devido. É como não descansassem e os outros sinais de veranico fora de época nos mostrasse que o processo de mudanças climáticas se acentuarão dia a dia. Quando vim para esta região da Zona Norte, no final dos Anos 60, os morros do entorno amanhecia neste período com a vegetação coberta de geada, transformando o amanhecer em um espetáculo de múltiplas cores produzidas pelo reflexo solar. Hoje, o mesmo local está recoberto de moradias”.

Li que esta geração será a última a ter visto vaga-lumes a voarem por entre as plantas. Os machos da espécie sofrem a concorrência das luzes artificiais e não conseguem mais fecundar as fêmeas. Assim como as abelhas que também sofrem com as anomalias produzidas pelos homens, estamos nos condenando gradativamente à extinção. Pior para nós, melhor para todas as outras milhões de espécies animais do terceiro planeta desde o Sol — desde insetos até as maiores — terrestres e marinhas.