Nesta tarde, o meu irmão encontrou, na boca da Penélope, um pássaro… Morto… Talvez um canário. Talvez o mesmo que canta (ou cantava) toda manhã, aqui no quintal. A nossa bela e negra Penélope é uma caçadora. Nada escapa ao seu raio de ação quando se trata de gatos, ratos e seres alados… Ao retirar o bichinho da sua boca, o Humberto, conhecedor de pássaros pela passagem de parte de sua meninice no interior, decretou: “Vida de passarinho…”.
Então, vida de passarinho é assim — frágil, rápida e sonora. Alegre para quem ouve o seu cantar. Perigosa, para ele mesmo, pois o seu encanto atrai predadores, incluindo àqueles que se alegram com o seu canto.
A tarde fluía em seu primaveril caminhar, com o Sol a descer a linha do horizonte entre nuvens mais escuras da chuva intermitente… Diante desse espetáculo, tendemos a nos sentir como passarinhos na boca da negra e bela Eternidade. Um dia, ela nos abocanhará igualmente…
Texto de 2017*, incluído em meu primeiro livro — REALidade — de crônicas, lançado pela Scenarium Livros Artesanais.
Foto por Lenandro Melo em Pexels.com

