13 / 06 / 2025 / Seis Anos

A imagem acima, devidamente datada, demonstra que a nossa amizade data de bem antes do que seis anos que o Facebook preconiza. É claro que colocam o tempo em que a minha filha, Romy, e eu nos tornamos “amigos” pelo aplicativo. Essa faceta reducionista mostra bem o quanto ocorre o desvinculamento das redes sociais da Realidade. São instâncias diferentes e díspares quanto à verdade de sermos e estarmos. Atualmente, prestes a completar 36 anos de existência, metade da minha idade, homenageio a resistência do que é real sobre o que é falso.

04 / 03 / 2025 / Ainda Estou Por Lá

No domingo passado, dia 2, após realizar a sonorização da Matinê do Clube Círculo Militar de São Paulo, cheguei em casa na expectativa da transmissão pela TV da entrega dos Oscars. Época de Carnaval, um país devotado à festa de Momo, no entanto as atenções também estavam voltadas a milhares de quilômetros do Brasil, em Los Angeles, EUA, local da outra festa, mais formal.

O Brasil tem uma história bastante antiga com a arte do movimento. Inventado oficialmente em 1895 pelos irmãos Lumière, a primeira exibição de cinema no Brasil não tardou a acontecer. Em 8 de julho de 1896, na Rua do Ouvidor (Rio de Janeiro), numa sala alugada do Jornal do Commercio, foram projetados oito filmetes de cerca de um minuto cada, retratando cenas pitorescas do cotidiano de cidades da Europa

Apenas um ano depois já existia no Rio uma sala fixa de cinema, o Salão de Novidades Paris, de Paschoal Segretto. Atualmente, considera-se que o primeiro filme gravado no País foi Chegada do Trem em Petrópolis, de 1897. Esse filme grava uma estação, em Petrópolis, a chegada de um trem que carregava o Presidente Prudente de Morais. Assim como esse, a maioria dos filmes eram documentais.

O filme “Ainda Estou Aqui“, de Walter Salles foi indicado a três Oscars — melhor filme, melhor filme estrangeiro (ao qual venceu) e melhor atriz, com a magnífica Fernanda Torres, que interpretou a incrível Eunice Paiva, mulher de Rubens (o sensacional Selton Mello). Ela é mostrada na imagem acima, após as cortinas da sala, que recebe a claridade e desnuda a paisagem externa, serem fechadas por um dos milicos do Regime Ditatorial. Essa cena, especialmente, quando assisti ao filme, me trouxe dolorosas lembranças. Ao revê-la, tive uma estranha sensação de estremecimento e o sentimento era que eu ainda estava lá, naquele dia e lugar.

Foi o dia em que três desses homens trouxeram o meu pai para fazerem uma busca de armamentos do grupo no qual ele militava, do Partido Comunista Paraguaio. Logo que eu o vi, corri para abraçá-lo. Incontinente, me afastou de seus braços. Criança dos meus nove, dez anos, recebi aquilo como uma algo incompreensível, que me magoou… tanto, que fiquei por muitos anos avesso a abraços. Ação que só retomei quando por volta dos 27 anos, comecei a namorar a minha esposa. Prática que foi reforçada com a chegada das minhas três filhas.

Ver uma história com a qual tenho vínculos emocionais evidentes ser reconhecida por sua violenta delicadeza,, em que somos convidados a estar com uma família que tem retirada de seu núcleo àquele sobre o qual girava, engrandecendo a presença austera e forte da mulher que a sustentou e que tinha tudo para desmoronar, incluindo o acidente que deixou o garoto Marcelo Rubens Paiva tetraplégico. E foi através de seu registro em livro que essa história magnífica de enfrentamento da realidade, exemplo de resiliência de seus membros, além da sobrevivência da memória.

Aproveito para homenagear a minha própria mãe que perdeu o marido para a Ditadura, apesar dele continuar vivo, ainda que tenha sofrido todas as modalidades possíveis de tortura ensinada pelos militares americanos no cerne da Operação Condor. Nunca voltou inteiro. Como a vida é cheia de contradições, estou prestando serviço num lugar que os militares patrocinam, comemorando um prêmio oriundo do mesmo País que apadrinhou a Ditadura por aqui.

11 / 02 / 2025 / Cinzas & Dor Fantasma*

*2016.
Ontem, foi Quarta-feira de Cinzas
que nome apropriado!
Quase que automaticamente,
os nossos olhos começam a devassar
a realidade
e perceber que o colorido evanescente
das fantasias apenas escondiam o concretismo do cinza…
Ou, não!
A esperança é de que seja somente a típica sensação de ressaca,
marca registrada de quem bebeu sonhos demais…

Marina Martino & Hanna (in memorian)

*2021. Qual o prazer de ser lido? Eu, como escritor, só teria prazer se ou quando fosse, de alguma maneira, compreendido. E mesmo assim, resta saber se a minha palavra permanecerá na memória de quem me leu e compreendeu o meu texto; se fez diferença de alguma forma ou tenha causado, ao menos, alguma passageira emoção — um sorriso ou uma lágrima. Eu diria que, como escritor, devo me desapegar de qualquer expectativa. O que já é um pouco de dor fantasma…

08 / 01 / 2025 / A Pílula Azul

Em Matrix, o filme, tomar a pílula azul representa para a personagem que depois se tornará Neo continuar a viver na ignorância, realizando as suas tarefas como um ser humano que não sabe de outra realidade além daquela: trabalhar para obter recursos para sobreviver dentro da certeza que a Matrix lhe impõe. Eu conheço a verdadeira realidade e, por isso, para entrar em ação nesta dimensão, tomo a pílula azul. Para mim, funciona o tempo em que atuo como ser produtivo na “nossa” sociedade. Não é fácil, mesmo porque a memória da organização dimensional alternativa volta e meia se infiltra nessa em que aceitamos como comum a todos. Mas não é para mim e sei que não é para muitos. Enquanto isso, sobrevivemos tendo a consciência de um mundo que nos dilacera a alma…

Fevereiros

QUARTA

2016. Quarta-feira de cinzas — que nome apropriado! Quase que automaticamente, os nossos olhos começam a devassar a realidade e perceber que o colorido evanescente das fantasias apenas escondia o concretismo do cinza… Ou, não! A esperança é de seja somente a típica sensação da ressaca, marca registrada de quem bebeu sonhos demais…

Hanna (à esquerda) & Marina

O PRAZER DA DOR

2021. Ubatuba. Qual o prazer de ser lido? Como escritor, só teria prazer se ou quando fosse, de alguma maneira, compreendido. E mesmo assim, resta saber se a minha palavra permanecerá na memória de quem me leu e/ou compreendeu o meu texto; se fez diferença de alguma forma ou tenha causado, ao menos, alguma passageira emoção — um sorriso ou uma lágrima. Eu diria que, como escritor, devo me desapegar de qualquer expectativa. O que já é um pouco de dor…

INDECÊNCIA

2021. Ubatuba. Hoje, o azul imperou durante a maior parte do dia. E o Sol, posto a nu ou desanuviado, queimou peles e pensamentos. De manhã e à tarde, no entanto, as nuvens o vestiram, deixando a temperatura menos indecente.

ANIMOTEL

2013. Santa Isabel. “Pela estrada afora, eu vou tão sozinho”… mas, caso eu esteja bem acompanhado, sempre haverá o Motel do Cowboy, na Via Dutra. Já imagino o barulho de esporas das botas dos cavaleiros, rivalizando com o relinchar dos cavalos. Logo depois, vim a me lembrar que os modernos cowboys perderam a graça e só devem chegar ao local montados em roncos de motocicletas e pick-ups robustas. Para passar o tempo, começo a pensar em um novo negócio no ramo da satisfação animal — o ANIMOTEL — em que poderão adentrar ao local quem estiver montado em cavalos. Nada impediria que dois amantes ou mais chegassem em um só, mas como sou defensor dos direitos dos bichos, não incentivaria tal prática. Para evitar especulações fora de propósito, a montaria (o cavalo) deverá ficar em um pasto reservado, usufruindo de boa alimentação e água. Viajei demais?…