Frida Calada*
Frida
fala pelos olhos…
Nasceu ressabiada de gestos bruscos,
como se trouxesse abusos
de vidas passadas…
Passou a se aproximar aos poucos,
a vencer a timidez,
a se colocar embaixo de mesas,
em cantos de sofás,
junto aos nossos pés…
Hoje, perdeu de vez as travas…
Sentiu o frio chegar
e arranhou a porta para entrar…
Frida, outrora calada,
vive agora a espalhar falas
com o seu olhar…
*Homenagem à nossa Frida, amada, querida, que passou há quatro anos, em imagem de 2016
A Rolinha*
Um dia frio,
chuva intermitente…
A sala é um bom lugar
para escrever
um poema ou um livro,
o meu pensamento lá em você,
enquanto um pássaro canta…
As cachorras, adormecem no sofá…
Uma rolinha, a tudo alheia,
castiça,
à escrita e à preguiça,
pelo quintal passeia…
O meu pensamento a acompanha
no compasso do canto do sabiá…
*Escrito em 2015
Magia Na Selva De Pedra*
Noite recente,
a fadinha e o duende
chegam cansados e ocupam
uma mesa vaga.
Ela deposita os seus aros
junto a uma cadeira.
Se senta, a mão no queixo,
solta um suspiro exaurido
de quem voou a esmo.
Ele deixa os malabares no chão,
coça a barba
e olha com certo ar de contrariedade
para a sua companheira de floresta.
Não pedem nada para comer.
Naquele dia,
não conseguiram o dinheiro
necessário sequer para um cafezinho.
Era a faceta mais dura
de viver de magia
em uma Selva de Pedra em crise.
Nos semáforos e esquinas
só receberam sinais
amarelos de impaciência
e vermelhos de raiva…
*Cena-poema de 2016
Imagem: Foto por Tu00fa Nguyu1ec5n em Pexels.com