sinais são importantes a eles devemos ficar atentos caetano perguntado se respeitava sinais disse claro são sinais pergunto por que queremos desrespeitar o que nos sinalizam? propaganda de cremes anunciam serem anti-sinais como se quiséssemos apagar a nossa trajetória aos meus 14 uma senhora disse para seu filho no ônibus deixa o moço passar fiquei espantado eu me tornara um moço barba branca no rosto atendentes me chamam de moço sei que é uma maneira de afagar a vaidade estratégia de recepção ao cliente mas o meu espanto persiste sou velho demais para ser chamado de moço cabelo rareado redemoinho falhado para suavizar discrepâncias raspo a cabeça cheia de mentais reentrâncias reafirmo a queda inevitável palavras caducam? tenho evitado escrever algumas… sempre e nunca tenho as considerado definitivas demais aliás tenho tentado evitar também demais aliás também e aliás e sempre é logo mais o nunca nunca mais porque viver nos ensina que marcar coisas como definitivas não pertence ao nosso mundo imediatista impermanente se me contradigo aqui é por falta de opção como não há opção para a morte do corpo como sei que a energia é infinita enquanto este universo existir…
fogueiras crepitavam um junho rostos afogueados olhares e vinho corações flamejantes sorrisos passos errantes em alerta sentidos testemunham os caminhos quem tomará a iniciativa? os dois querem e se valem alheios aos outros se oferecem aos pelos arrepiados não é o frio da noite feita madrugada desejo crescente e merecedor o sol no plexo que mal respirava raios em fuga das peles ela decide que assim será o tímido gela quando limpa a boca de vermelho batom encurrala o amante num canto corpos presos imantados almas libertas em música e dança lábios se unem em línguas falantes entrementes voltas completas do planeta em torno da estrela para sempre será um junho…
Rita, para nosso encontro, cheguei meia hora antes do horário combinado. Pedi mesa para dois. Eu tinha dúvidas de que chegasse às duas da tarde, hora estabelecida por você mesma. Nesses últimos dois anos, não mudei muito. Fiz como de costume – fui pontual ao extremo – o que sempre a irritou. Eu me lembrei do dizia, quando a apressava para saímos para algum lugar: “Essa mania de chegar antes do horário é tenebrosa, Elias! Nem parece brasileiro!”. Comecei a rir sozinho, enquanto o garçom perguntava sobre o que pretendia pedir. Como deve imaginar, pedi água mineral com gás e que esperaria a minha acompanhante chegar para completar o pedido. Continuei a rir por me lembrar dos critérios sem justificativas plausíveis usados por você para exaltar ou atacar os seus conterrâneos. Chegar atrasado era um costume que colocava como uma boa prática. Outra coisa que a irritava a ponto de decidir se separar de mim é que dizia que eu nunca saía do prumo. Sempre estável e compreensivo, a absolvia todas as vezes que perdia as estribeiras comigo, normalmente por ciúme. Por confiar em você e por adotar a postura de que se apaixonasse por alguém, eu não nada faria. Explicitamente disse que era livre e que, apesar de amá-la, não forçaria uma barra para que ficasse com você. Que se quisesse ter outra pessoa como companheiro ou companheira, sairia do caminho. “Mas você não lutaria por mim?”. Eu me lembro de olhar em seus olhos e após uma pausa dramática, dizer: “Não!” Por isso, eu me penitencio, o meu orgulho falou mais alto. “Então, por que estarmos juntos? Vamos nos separar!” – falou com a voz entre embargada e chorosa. Respondi, de forma dura e intimamente irritado, sem deixar transparecer, o que deve tê-la ferido ainda mais, um simples: “Okay!” – assim como repeti o mesmo “Okay!” de mim para mim, quando você não foi ao nosso encontro. Preferi lhe enviar uma carta porque conseguiria pensar melhor no que lhe dizer. Não sou tão ponderado quanto imagina. Internamente, o clima é caótico. Vivo no interior de meu interior sob raios e trovões que tento controlar desde garoto. Nunca lhe disse, mas quando bem jovem quebrei com um soco a cristaleira que a minha mãe amava e que era a coisa mais sofisticada que tinha em nossa casa. Aquilo me mortificou. Vê-la chorar, acabou comigo! Decidi buscar dominar essa raiva contra o mundo que me consome. É uma fúria que me autodestruiria se não a domasse. Encontrá-la foi a melhor coisa que me aconteceu. Mas aceito que queira não se encontrar mais comigo. Após uma hora de espera, pedi uma salada, paguei a conta e fui embora, tentando me adaptar num mundo sem você… fisicamente. Em minha alma, eu a amarei para sempre!
Elias, meu amor, o “Okay!” dado por você me magoou profundamente. Saí do apartamento carregando quase todas as roupas, dizendo que não voltaria. Fiquei possessa quando pediu o meu novo endereço para que me enviasse o resto dos meus pertences. O que me retirou a opção de usar isso como desculpa para reencontrá-lo. Você tem essa capacidade de me transtornar de tal maneira… esse jeito me levou a pensar várias vezes que não me amasse tanto. Como assim, não lutar por mim? Saiba que eu estava no restaurante quando chegou, sabendo que costumava chegar antes do horário, estava lá uma hora antes. Eu me coloquei num canto que podia observar todo o movimento do lugar. Eu o vi chegar, pedir uma mesa, felizmente longe mim. Fiquei a observá-lo como fazia quando depois de entregar a sua impetuosidade prazerosa na cama, adormecia, finalmente relaxado. Percebi o sorriso que se apoderou de sua face e imaginei que estivesse pensando em mim. Isso acalentou o meu coração. Eu me senti como num encontro perfeito, sem ressalvas, sem briga, sem confronto de ideias e posturas. Você sabe que sou como um furacão. Por mais que isso me traga problemas, decidi desde muito nova que não viveria sem ser essa tempestade que seja lembrada do que a paisagem sem cor, plasmada e com gosto de sensaboria. Somos tão diferentes que o nosso encontro só poderia ser coisa do destino. Você me acrescentou tanto furor justamente por causa de sua calmaria, que creio que a nossa história deva ficar no que já vivemos. Quando pediu a conta, o meu coração acelerou, quase que saí correndo para lhe abraçar. O garçom que lhe serviu, também me serviu. Pedi a conta logo depois de você. Parece que ele sabia de nossa história. Não duvido. Por isso mesmo, amo o jeito do brasileiro ser, apesar de todos os defeitos ou por isso também. Enfim, vou ficando por aqui. De corpo e alma, eu o amarei para sempre, Elias!
Jabuti-piranga, aos quais sempre chamamos de tartaruga
A imagem acima registrou o passeio pela casa de uma das tartarugas, que devagar e sempre, passou por cinco cômodos para vir a estacionar num cantinho da sala. Quando criança, tinha sonhos recorrentes, verdadeiramente, pesadelos, com tartarugas. Neles, eu via várias delas caminharem em minha direção, com os seus passos lentos, porém constantes. Cercavam-me devagar e, mesmo que subisse sobre os móveis, elas vinham em minha direção escalando paredes, cama, camiseira e guarda-roupa. Provavelmente, essa mesma tartaruga e sua companheira, devem ter me inspirado esses pesadelos, já que estão na família há mais de 70 anos. Deixei de ter esses pesadelos (que pareciam tão reais) quando vim a perceber, ainda dentro do sonho, que eram apenas sonhos. Descobri, apesar da minha imaginação que me fazia voar sobre as casas do meu bairro, que tartarugas não sobem ângulos retos… Elas não sobem, não é mesmo?…
O Sol e as estrelas Os navios e os barcos à vela As luas e os planetas A quinta dimensão e as quintas As bruxas e as profetisas Os mares e as brisas As musas e os poetas As lesmas e as borboletas Os asseclas e os obreiros Os pacíficos e os guerreiros Os práticos e os sonhadores As flores e as cores Os insetos e as bactérias Seres de todas as matérias Os sapos e as serpentes A Terra e as sementes As lembranças e os esquecimentos As tempestades e os bons ventos Os prazeres pequenos e os plenos As águas boas e os venenos Os homens e as pedras As igrejas e as cátedras As preces e os ditos definitivos Os remédios e os lenitivos As dores e as doenças A morte e a vida e as crenças Os amantes antigos e os modernos Os amores súbitos e os eternos Todo o bem e todo o mal Sob a abóbada celestial…