08 / 10 / 2025 / Negacionismo*

Enquanto mangas que deveriam ser colhidas apenas a partir de Setembro caem bicadas por maritacas, a Amazônia e o Pantanal pegam fogo, produzindo mais gás carbônico do que recolhem do ar. A China e a Europa ficam inundadas por chuvas torrenciais, destruindo cidades e matando pessoas. Por aqui, o ex-ministro do Meio Ambiente, que deveria protegê-lo, está envolvido com o contrabando de madeira. O Brasil sempre carregou a marca da corrupção e da busca de benesses desde a carta de Pero Vaz de Caminha em que, junto ao anúncio da “descoberta” ao Rei da terra “em que se plantando, tudo dá”, pede um emprego para um parente. O que temos atualmente é um desgoverno propositalmente levado adiante por um Ignominioso Miliciano no Poder. Além da seca terrível ela qual o País passa, o desastre é que não temos perspectivas no horizonte enfumaçado porque isso interessa a muitos agentes dos dois lados — os que querem permanecer no poder e os que querem vê-lo desidratar para sucedê-lo. Caso contrário, não apoiariam a aprovação de um fundo partidário — que já é uma excrescência por si só — de quase 6 bilhões de Reais, enquanto falta dinheiro para o Censo Demográfico, sem o qual não sabemos como estamos como Sociedade. Traria a constatação de nossa decadência como Povo e isso faz parte do projeto negacionista.

*Texto de 21 de Julho de 2021

05 / 10 / 2025 / Ser Mulher*

* Em 2020, escrevi: “Há uns anos antes, quando precisei depilar o peito para fazer um teste ergométrico, aproveitei para depilar o resto do corpo. Ao tomar banho, a sensação foi tão prazerosa, que repito a operação duas ou três vezes por ano. Penso em fazer com cera, mas como sei que dói, teria que ser muito mulher para encarar…”.

O que escrevi acima diz se orienta pelo respeito que tenho pela mulher não apenas por pertencer a um gênero que foi hostilizado pelo homem durante a organização das diversas civilizações ao longo das eras e aprendeu a sobreviver até hoje, quando tem alcançado protagonismo na construção da Sociedade em níveis que antes estavam reservados ao “sexo oposto” — termo que cabe como uma luva ao nos referirmos à maneira que a mulher tem sido vista pelo homem — uma inimiga.

Talvez seja medo de perder o protagonismo conseguido sem esforço, a não ser pelo fato de nascer um membro pendente entre as pernas que ainda é usado como se fosse uma distinção emérita. !Que me desculpem os meus “colegas de gênero”, mas um gênero da espécie humana que mereça ser chamada de “sexo forte” é a fêmea, não o macho. Fomos criados embriagados pelo poder de sermos superiores e para alguns de nós isso é o suficiente para não se esforçarem em serem pessoas melhores, mais capacitadas, mais aptas.

Ah, e quanto à depilação, as mulheres podem se sentir obrigadas a utilizarem diversos recursos para se sentirem mais aceitas num mundo em que devam se apresentar de tal ou tal maneira. Se for uma opção dela, tudo bem, assim como foi a minha em me depilar algumas vezes por ano. Mas ser pressionada para isso como a outros procedimentos para alcançar a aceitação social, incluindo a de outras mulheres, que agem como fiscalizadoras de estética e de comportamento, adotando preceitos machistas. Enfim, homenageio às mulheres que conseguem lidar com tantas pressões o tempo todo sem esmorecer… quase todas.

Foto por Tima Miroshnichenko em Pexels.com

18 / 07 / 2025 / Mão De Obra

Sou escritor. A minha personalidade é de alguém que cogita escrever para poder estabelecer uma relação entre o feito e o dito. Gosto do trabalho braçal-manual porque me “relaxa”, no sentido de que os pensamentos pelos quais sou atravessado se direcionam para “outro lugar”. Não sou adepto apenas de tarefas ou atividades que envolvem o meu trabalho, eminentemente físico, mas não deixa de ser intermediado por processos mentais que são necessários em qualquer movimento humano. No meu caso, proporcionamos, meu irmão e eu, condições técnicas ideais para a expressões artísticas e outras que envolvem um palco, púlpito ou cenário — teatro e outros espaços — atores, palestrantes e cantores.

Outro gosto que cultivo é do trabalho caseiro — o mais intenso e difícil de ser feito pela multiplicidade de fatores. Varrer, lavar louças e roupas, estender para secar, recolher, passar, arrumar o espaço, deslocar móveis, limpá-los. Num eventual jardim que possamos ter e eu tenho, regar as plantas, preparar o solo, cuidado com as podas, replantio, adubação, controle de pragas ocasionais também é algo que gosto. Quando novo, acalentei a ideia de me tornar dono de um sítio autossustentável. Mas há tarefas as quais prefiro em relação a outras — lavar louça e varrer o quintal se configura quase em momentos de meditação.

O ser humano, no desenvolvimento das sociedades, acabou dividir tarefas e estabelecer estamentos sociais para separar quem faz determinadas tarefas lhes conferindo valores diferenciados — das mais nobres a menos, além do uso de palavras para designá-las divididas como dignas enquanto outras nem tanto. Ainda que saibam que sem os que as realizam atividades essenciais e outros que são beneficiados por elas estabelece uma relação de poder destes que detêm o poder econômico, para aqueles em forma de recompensas normalmente aviltadas para baixo. Criando clara dependência mútua, mas que é dominada por quem é servido.

Eu não queria, quando mais novo, me envolver com o Sistema — trabalhar, casar, ter família — encontrar uma posição relevante na Sociedade. Apenas, era o meu plano, caminhar a esmo, me tornar um viajante sem rumo, sem lugar para chegar. Envolvido com as religiões orientais, meu objetivo era transcender o corpo, fazer um percurso que não precisasse criar liames. Não aconteceu. A mão mostrada acima é a mesma de quem se casou, criou três filhas empoderadas, trabalhou e trabalha para se manter produtivo e que ainda tem desafios a realizar. Sem deixar de transcender a realidade imediata.

18 / 01 / 2025 / Namoradas Virtuais

Tenho a impressão crescente de que os homens estão perdidos diante da revolução íntima na Sociedade quanto a emancipação feminina, apesar de todos os percalços, incluindo a reação mais radical –- a violência pura e simples. Nessa luta por encontrar protagonismo nas relações humanas modernas, tem ocorrido a negação por parte dos machos da espécie Homo sapiens em entender que esse é um caminho sem volta e que, por fim, regenerará para o bem as relações sociais em todos os níveis.

Ciente da capacidade superior da mulher em muitos dos campos da atuação humana, cria desde cedo que chegariam ao comando das ações mais importantes para o desenvolvimento do País. Observava que enquanto os moços iam trabalhar, as moças ocupavam a maior parte das carteiras nas salas de aula. Como era muito ingênuo não imaginava que os machos da espécie seguiriam a tradição de boicotar a participação mais decisiva da mulher na vida social.

Não é algo que ocorre exclusivamente no Brasil. Na eleição de Trump, por exemplo, contra Kamala, mulher preta, os homens pretos, mesmo os democratas, se identificaram mais com o gênero masculino do homem branco do que com a representatividade de uma representante da raça. Já vi isso acontecer aqui no Brasil em que alguns jovens pretos se perfilaram ao lado da postura bolsonarista, claramente oposta à integração, de teor racista do que a um projeto mais identificado com a luta antirracista. Creio que os uniu foi a postura misógina.

Tem chegado a mim, através das redes sociais, a veiculação de páginas em mulheres criadas pela Inteligência Artificial convidam homens solitários a entrarem em contato com elas. Além da beleza padrão, incluem entre os atrativos serem totalmente submissas aos desejos masculinos, que saberão ouvi-los e compreendê-los, sem nenhum tipo de julgamento. Além de serem compensados com a “entrega” de seus corpos à realização de suas fantasias sexuais. Sucesso.

Para mim tem se tornado claro que os homens sisgêneros atuais estão assustados com o surgimento de mulheres autônomas que buscam relacionamentos em que a dependência emocional, psicológica e material não são trocadas por uma aliança no dedo. Esses homens não sabem o que estão perdendo em termos de riqueza humana, apesar da dificuldade que é se relacionar com seres tão complexos quanto as mulheres.

Foto: a imagem acima é de uma mulher criada através da Inteligência Artificial, retirada de uma das páginas de relacionamento virtual.

08 / 01 / 2025 / A Pílula Azul

Em Matrix, o filme, tomar a pílula azul representa para a personagem que depois se tornará Neo continuar a viver na ignorância, realizando as suas tarefas como um ser humano que não sabe de outra realidade além daquela: trabalhar para obter recursos para sobreviver dentro da certeza que a Matrix lhe impõe. Eu conheço a verdadeira realidade e, por isso, para entrar em ação nesta dimensão, tomo a pílula azul. Para mim, funciona o tempo em que atuo como ser produtivo na “nossa” sociedade. Não é fácil, mesmo porque a memória da organização dimensional alternativa volta e meia se infiltra nessa em que aceitamos como comum a todos. Mas não é para mim e sei que não é para muitos. Enquanto isso, sobrevivemos tendo a consciência de um mundo que nos dilacera a alma…