23 / 11 / 2025 / Blogvember / Rindo-Me De Dentro De Um Silêncio Que Me Apraz

estou em casa sentado no sofá ao lado de amigos que apenas desejam estar junto a mim
sorrio um sorriso tímido de que quem se sente amparado por afeição genuína
e ciúme de tanta atenção por outros seres
o prazer se deixa espraiar pelo dia sonolento e morno de primavera
não falar nada é também um doce aliado ao som da chuva que começa a me dizer
que é tempo de prosperar folhas novas galhos mais grossos frutas maduras
ar renovado
mente acalmada
alma acalentada…

Participação: Lunna Guedes

Graças

Qual a graça?
Estar grato por ser amado, eu, um sujeito tão ferido?
Contraditório desde o início,
que oscila entre a descrença no amor
e por chorar a cada canção de coração partido?
Por admirar a sua fala
ou quando cala, o seu sorriso?
Ou quando chora, se desmancha,
enquanto rio de tamanha candura?
Quando, mesmo no escuro, vejo o brilho
dos seus olhos faiscantes de desejo?
Sim, sou grato!
Grato por sentir o seu amor
e por amar estar consigo quando podemos
nos desnudarmos de vestes e do Tempo
Grato por me fazer sentir que importo
a uma mulher tão linda
por fora e por dentro
e plena de graça que me enleva
e me abraça…
Eu me lembro de seu corpo a pulsar
em contato com o meu e sorrio
para a parede como se observasse ali um quadro –
A Origem do Mundo.
Nosso mundo…
De conversas sobre o mundo,
nesses momentos, tão distante…
Ser gracioso, sou grato
por conhecê-la, por você oferecer
o seu encanto a mim,
suas palavras de apoio,
a advertência sincera e franca,
porque me ama
e agradeço por me apresentar o amor
que retribuo em pensamentos amorosos
que se espraia pelo campos e rios,
céus e vales,
montanhas e mares,
pela intimidade do Sol
de um sentimento tão ofuscante
quanto misterioso…

Imagem de A Origem Do Mundo (1866), de Gustave Coubet: AP Photo/Francois Mori

BEDA / Abertura

você diz que quer fazer a minha mente se perder
a cada palavra expressa do seu desejo
partes de mim respondem excitadas
atinge o meu peito que arfa em comoção
aguardada mas nunca esperada de tão rara
abre um sorriso na minha cara
e isso é mais do que sorte
gosto de beijar como pelas ondas a areia
e de ser beijado como pelo vento o mar
em fluxo e refluxo
de entrar e sair
de me deixar e me encontrar
seguir pela estrada aberta
até aquela praia deserta
onde nos deitaremos no arenoso manto
o sal a nos santificar
o sol a nos invadir em calor e luz
nós mesmos a nos devassarmos
a nos preenchermos
de silêncio ofegante
banhados de suor
e alegria por estarmos vivos
enfim serenos e plenos
em nome da paixão
do gozo
e do corpo santo
amém…

Foto por Asad Photo Maldives em Pexels.com

Participante do BEDA: Blog Every Day August

Denise Gals / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins / Cláudia Leonardi

As Primeiras Vezes*

Está é uma homenagem às primeiras vezes de qualquer um. Aquelas primeiras vezes em que sentimos como se um mundo novo surgisse diante de nossos olhos. Aquelas primeiras vezes que faz desabrochar a emoção em que se descortina a possibilidade de vivermos magicamente. O efeito que causa perdura por tanto tempo que basta buscá-lo na memória para reascender a chama quase apagada de nossa esperança. Tornar cada dia o dia em que experimentamos o vislumbre da primeira vez é o nosso grande desafio. Fazer com que esse sentimento seja genuinamente gerado dentro de nós, sem a necessidade de datas impostas por efemérides é como se encontrássemos um grande tesouro.

Espero vivenciar sempre que possa esse sentimento de como foi a primeira vez que experimentei cereja com queijo, aquela ocasião em marquei o meu primeiro gol e a primeira vez que a vi abrir os braços pra mim. Sentimo-nos engrandecidos quando deslocamos as nossas melhores primeiras vezes para as primeiras vezes de outras pessoas. Como aquela primeira vez que vi um sorriso de minhas filhas, a primeira vez que as ouvi exprimir os seus balbucios e palavras e a primeira vez que as vi caminhar.

 Vivi certa fase em minha vida em que me recusava a desenvolver memórias de referências, conhecer coisas novas. O garoto estranho estava em uma fase mais estranha ainda. Uma vez, me perguntaram o porquê de eu não querer experimentar àquela fruta oferecida como sendo de sabor incomparável ou a bebida mais excitante que existia. Eu respondi que preferia que as coisas ficassem no campo da idealização de ser a fruta de sabor perfeito, que talvez não fosse, ao ser saboreada. Ou de ser bebida perfeita que produziria o efeito mais incrível, na minha imaginação. Estava a viver o período de abstração mais intenso da minha opção monástica, sem ser monge.

 Mas a música não precisa ser oferecida, para ser apreciada. Ela chega por vezes no ar, se imiscui em nossa existência de maneira invasora e por isso, ela talvez fosse a válvula de escape da minha prisão autoimposta. Porém, conheci essa canção recentemente e logo me apaixonei por ela. No entanto, “The First Time Ever I Saw Your Face” é de 1957. É uma canção “folk” escrita por Ewan MacColl para a sua esposa, Peggy Seeger. Foi popularizada por Roberta Flack e tornou-se um enorme sucesso na voz dessa grande cantora depois que apareceu no filme de Clint Eastwood, “Play Misty for Me”, de 1971, embora a música tenha sido gravada para seu álbum de 1969, “Flack First Take”. Três anos depois, em 1972, liderou a Billboard Hot 100 e ganhou o Grammy de Canção do Ano. Como se vê, também há segundas chances para as primeiras vezes…

*Texto de 2017