Quando digo que tento viver um dia de cada vez, muitos poderão argumentar que devemos planejar o Futuro e, por isso, a nossa cabeça não deve ficar totalmente presa ao Presente. Ora, não vejo melhor maneira de estruturar o Futuro do que vivermos o Presente da melhor e completa maneira possível. A cada passo que dermos no bom caminho, agora, nos conduziremos para a melhor chegada, lá adiante. Como o que ocorre conosco nos dias que correm, é consequência direta do nosso Passado. Quando coloco “Presente”, “Passado” e “Futuro” entre aspas o faço porque o “Tempo”, para mim, é relativo. Eu diria até que o “Tempo” não existe, pelo menos da maneira que o estipulamos, medido em números. O que chamamos de “Tempo” diz mais respeito aos efeitos dessa contagem de números sobre a nossa matéria, o que, nesse caso, chega a ter certo fundamento. Porém, relaciono o “Tempo” mais a um estado mental e, dessa maneira, os três ”tempos” se confundem. O nosso ”Passado” apenas nos explica o “Presente” e o nosso “Futuro”, acontece agora.
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12 / 11 / 2025 / Blogvember / Para Que Você Vendeu O Seu Tempo?
ou para quem vendeu o seu tempo?
para si para outros alguém que o conhece?
alguém com quem se importa se doa se magoa?
por que avilta seu corpo sua mente
descrente
de que mereça mais do que cumprir a rotina
imposta por outros que não conseguem
sequer lhe agradecer seu talento
sua dedicação sua capacidade sua sagacidade?
trocam a palavra que o enalteceria por dinheiro
que compra a sua distância zelosa ao olhar pelo monitor
para quem o aluga em troca de renda
mas sei que não conseguira escapar ou sequer assim deseja
melhor aceitar que as coisas sejam assim
que se dará de corpo e sonhos a quem com mais afinco o arrenda.
Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia
Foto por Joel Zar em Pexels.com
17 / 10 / 2025 / Os Olhos Dela
como se entrasse num labirinto
dei de me perder nos olhos dela
parece que me tragavam para dentro de um mundo novo
perdido em antigas tramas de atração fatal
embarcado em nau amarrado ao mastro central
ouvia como que um canto de sereia em calmo mar
da boca que movia os lábios como se fossem ondas
de luz das águas profundas de seu olhar
meu coração batia como se montado em corcovo
de indomável cavalo selvagem em campos de pleno sol
bastava ver bater os cílios de seus olhos em miragem de morte
como se buscasse sugar a minha seiva de depauperada árvore
que tomba como se tivesse cortados caule e ramagem
forças naturais que se avultam em poder e vingança
ao mundo que tenta destruir a vida que palpita
no meu peito de homem velho
parte daqueles que sangram o sangue de escuro vermelho
marcando o chão da estrada na caminhada da terra de perdido brilho…
Foto por Ennie Horvath em Pexels.com
11 / 10 / 2025 / O Arco Do Tempo*
desço os olhos para as linhas que desenham
rostos e paisagens em fotos de décadas
repassadas em cores e descores
cumpro o destino da flecha atirada por Chronos
personagens dos quais sou um
e mais nenhum
papai vovô irmãos
sonhos em desvãos
que nunca foram realizados
os meus indecifráveis
vivia fora do mundo aceitava
sem sorrisos que cedo morreria
quase obsessão aos 33 de Cristo
aos 40 de John aos 27 de Morrison
sempre haverá quem morra jovem
em cada uma das idades
aos borbotões a toda hora
ainda não foi a minha agora
se for antes dos 80 morrerei contente
não sei de amanhã vivo o presente
lembro que vovô me amava
me achava inteligente
antes de partir cuidei dele
banhava o ajudava a comer caminhar
pedi perdão porque sabia que não cumpriria
as suas ambições não queria ser homem importante
influente intendente industrial comerciante
buscava ser simples despojado pés no chão
me sentia desmembrado desmemoriado
de um passado que sabia existir
vidas passadas realidades não alcançadas
já entendia que o futuro não contava
mas ainda cultuava a esperança um país diferente
múltiplo raças misturadas riqueza distribuída
hoje morro todos os dias às vezes de hora em hora
a grandeza desmesurou-se em sentido contrário
nos apequenamos repugnantes ruminantes
de mentiras e contradições
dos templos ocupam-se os vendilhões
crenças transformadas em crendices
fé em feitiçarias em salões dourados
em palácios de mandatários
estamos nos finais dos tempos
mais um tempo de finais
no eterno ciclo de decadências
e de mercados baratos na venda de consciências…
*Poema de 2022, aos meus 61 anos…
06 / 09 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Viagens*
Há várias maneiras de viajar. É comum eu viajar mentalmente por lugares que apenas crio em minha imaginação. Esse é um expediente que utilizei muito quando mais novo, impedido por questões típicas de quem mal tinha recursos para me transportar de um bairro a outro. Vivia na Periferia (como ainda vivo), se bem que agora em condições de ir a muitos lugares que somente teria contato por imagens. O que me impede, como acontece com tantos, é a falta de tempo. Ao mesmo tempo, em meu trabalho me locomovo para várias cidades do Estado e até fora, mas ainda próximos em distância. Neste dia 6, estivemos em Votorantim, na região de Sorocaba em que estava em um lindo recanto onde sonorizamos pela Ortega Luz & Som uma festa de casamento.
Na antiga fazenda, transformada em local de evento, encontramos uma Figueira centenária. O local todo é bonito, mas ter contato com essa Figueira foi emocionante. Testemunha de tempos em que a dor dos escravizados sustentava a alegria dos fazendeiros, toquei o seu caule e conversei mentalmente com ela. Fiquei comovido.
A Marineide foi uma irmã reencontrada através do Facebook. Costumamos dizer que fomos deixados aqui neste planeta — ela, na Bahia, eu, em São Paulo — pela Nave-Mãe de nosso planeta original. Além dela, em Brasília, onde ela reside, havia Luiz Coutinho, também “encontrado” pelo Facebook através de seus textos perspicazes e bem escritos. Um veneziano nascido em Minhas Gerais, estivemos todos juntos no chão da Capital Federal em 2016. Na imagem acima, escolhi esta foto do crepúsculo no Planalto Central, diferente das suas referências arquitetônicas. Além de mim e as duas pessoas já citadas, Tânia e Lourival, esposo da Marineide também comparecem.
Em 2012 foi realizado o 1º ENBRATE, um Cruzeiro curto entre Santos e Rio de Janeiro, ida e volta pelo Litoral com a programação tendo como pauta a realização de palestras para atualização de profissionais de enfermagem de nível médio, aliado à diversão à bordo do Costa Fortuna, proporcionado pela ABRATE. A Tânia, profissional de Enfermagem, me levou para esse evento. Foram alguns dias em que relaxei e tive contato com o poder do Mar afastado da costa, além da vastidão do horizonte tendo o Sol durante o dia e a Lua e das Estrelas durante a noite.
Essa imagem foi realizada no passeio de escuna que fizemos — Tânia e eu — no início de outubro de 2021, por ocasião da comemoração dos meus 60 anos. Presente dado por minhas filhas, foram momentos memoráveis que espero um dia renovar em que passei alguns dias em Paraty. Além do mergulho pela história da região, mergulhei nas águas do Mar que banha a cidade que veio a se tornar Patrimônio da Humanidade.
Durante alguns anos, nosso pai, Sr. Ortega, eu e meu irmão, Humberto, fizemos viagens para Posadas, capital da província de Missiones, norte da Argentina, fronteira com o Paraguay. Nesta imagem, realizada em 1985, estávamos em Foz do Iguaçu, local de registro de nascimento do meu pai. Na verdade, ele era de origem paraguaia e seu pai, Sr. Humberto, o registrou em Foz. Essa viagem também é temporal, como quase todas que aqui coloquei.
As viagens mais frequentes que realizo são para encontrar o Mar. Vou ao Litoral Sul, mais especificamente à Praia Grande — que um dia foi chamada de Cidade dos Farofeiros por ser o ponto mais visitado pelos paulistanos em ônibus de excursão. Eles lotavam as ruas com eles e há uma imagem icônica em eles invadiam parte das praias. Atualmente, Praia Grande é uma cidade com grandes empreendimentos imobiliários, escolhidos por pessoas de poder maior aquisitivo. Foi uma grande transformação ao longo dos anos. Apesar da grande mudança da rua de areia ladeada por mangues até se tornar numa apinhada de prédios residenciais, ainda é por ela que volto a ser menino, o mesmo que vivia o dia inteiro vestido apenas com o calção de banho, passando boa parte do tempo na areia, a mergulhar seguidas vezes nas ondas que sempre que adentro, me carregam para os momentos mais felizes da minha vida.
*Texto e fotos postadas um dia depois por estar, justamente, em viagem de trabalho.
Participam:
Claudia Leonardi / Mariana Gouveia / Silvana Lopes / Lunna Guedes










