Eva

Eva Wilma (data indefinida)

Na época em que Eva Wilma estourou como protagonista de Ruth e Raquel, na versão de 1973 de Mulheres de Areia, eu não costumava assistir a TV Tupy, onde a novela foi produzida. O garoto de periferia metido a besta ficava entre a TV Paulista, depois Globo; TV2 Cultura, de belos programas musicais e do maravilhoso Teatro 2; e Bandeirantes, onde gostava de assistir a filmes europeus. Tudo em preto e branco. O primeiro televisor em cores viríamos a ter apenas em 1982, comprado por minha mãe para a Copa do Mundo da Espanha.

Quanto a Eva, eu a conheci prioritariamente através da Revista Intervalo, onde resgatei sua biografia. Eu havia herdado uma coleção inteira dessa revista da minha tia Raquel. Como lia até bula de remédio, não deixou de acontecer com a Intervalo que usava como se fosse compêndio da história da música, cinema e televisão do Brasil e do mundo, desde o início dos anos 60 até o início dos 70. Eu me apaixonava em série por absolutamente todas as mulheres artistas e, mesmo sendo tão novo, sabia que isso não era normal. Principalmente porque eram todas mulheres mais velhas, muitas da idade da minha mãe, o que não impedia que eu vivesse a fantasiar romances impossíveis.

Eva era uma dessas mulheres. Ainda que não tivesse o apelo sexual de Marylin ou de Bardot, eu a considerava absurdamente atraente. Desde sucesso inicial de “Alô, Doçura!”, série baseada em “I Love, Lucy!” até o show Casos E Canções (em que canta), produzido um pouco antes da Pandemia de Covid-19, passando pelo início como bailarina, eu a acompanhei mesmo que à distância. Aliás, no último espetáculo, aderiu ao uso da nova tecnologia online para levar cultura ao público ausente presencialmente por conta das restrições sanitárias. Eva Wilma foi uma personagem importante no desenvolvimento da minha-nossa trajetória cultural, participando em todas as frentes, do âmbito público-político ao profissional — TV, Cinema, Teatro e Internet — como protagonista.

Eu tive a sorte de vê-la atuar em um ambiente totalmente inesperado. Eu fazia o curso de História na USP e tive oportunidade de participar como figurante de Feliz Ano Velho, filme produzido em 1987, baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva e direção de Roberto Gervitz. Eva interpreta Lúcia, esposa do deputado desaparecido, pai do protagonista. A locação era uma das salas de aula da USP, transformada em auditório. Fui escolhido para ficar nas primeiras fileiras da plateia que a assiste falar emocionada sobre as circunstâncias da retirada truculenta do marido de casa pelos agentes da repressão, para nunca mais voltar. No filme editado, a câmera passa por um microssegundo por meu rosto comovido não apenas pela bela interpretação da atriz, mas também porque o depoimento me fez lembrar da minha própria experiência pessoal como filho de um perseguido político pela Ditadura Militar.

O fantasioso moço de 25, que amava Eva, então com 54 anos, quase cometeu a loucura para um sujeito tímido de me aproximar dela para demonstrar a minha admiração. Após o término da gravação, ainda a vi permanecer alguns minutos conversando com os atores, antes de sair do alcance da minha visão. Mas nunca saiu da minha imaginação…

Eva Wilma (Lúcia), em cena com Marcos Breda (Mário), em cena de Feliz Ano Velho (1987)

Scenarium / Leu… Está Lido / Fim

FIM

FIM é meu objeto de análise instilado pelo tema proposto pela Lunna para esta postagem: “Leu… está lido!”.

De início, FIM nasceu para morrer, aliás como creio tudo que perpassa por nossa existência, nasça. Sem fim, não há razão para existir. Essa ideia de infinitude serve para o Universo… ou não. A não ser que tenhamos total ciência de nossos aprendizados pelos seguidos renascimentos, individualmente somos limitados pela morte. Em existindo renascimentos. Em se considerar que renasçamos sempre seres humanos e não flores de jardim, de vez em quando. Pensando bem, deve ser maravilhoso ser flor.

A proposta diria respeito a um livro já lido que não pretendamos não ler novamente, nunca mais. Tanto quanto os personagens do belo livro de Fernanda Torres, estou chegando a um patamar  ̶  idade e constituição física  ̶  que a velhice está mais próxima de fazer mais uma vítima, do que perto da força juvenil. Ainda que me sinta bem o suficiente para lembrar o deus Ciro, tenho impulsos de Sílvio, a sobriedade do Neto, a perplexidade do Álvaro e a inveja do Ribeiro  ̶  personagens que contam a história de um Rio de Janeiro humano, superficial e profundo.

Fernanda Torres  ̶  filha da imensa Fernanda Montenegro e do grande Fernando Torres  ̶  começa pelo fim de cada um deles para narrar a versão em primeira pessoa, como vozes solos de um coral, do concerto que ocorreu em determinada época sob o sol macabro do Rio, de areias carregadas de histórias em forma de gente. A viagem passeia pelos anos 60, passa pelos estertores do Século XX e finda no início do XXI, quando o último membro da gangue, Álvaro, começa a narrar seus passos finais, relembrando amigos e peripécias daquele grupo que variava de status profissionais, dentro de uma mesma bolha comportamental, reverberando viva felicidade a permear o vazio existencial.

Mas todos têm as suas chances de participar. De Álvaro a Ciro, Sílvio, Ribeiro, Neto conduzem o cortejo fúnebre de forma esplêndida, com a participação de personagens e contrapartes  ̶  as mulheres que fizeram parte de suas vidas. Mais cedo ou mais tarde, todas percebiam que não se envolviam apenas com um homem, mas com todo os cinco. Ciro, o mais icônico e amado do grupo é o primeiro (no tempo) e último a morrer (no livro). Qual homem, já moribundo, consegue ser o homem na vida de uma mulher? Luz de farol para os outros membros, influenciou as suas vidas quando vivo e, talvez, ainda mais, morto. Quando a sua luz se apagou, perdeu-se o lado belo da fealdade em se viver o idílio carioca. Ainda que autônomas, eram como se fossem cenas laterais e complementares  ̶  comentários da ação principal. Com efeito, o livro da Fernanda é vivaz o suficiente para ser dramatizado, talvez influência de seu universo de atuação primordial.

Quando fui chamado para a postagem da Scenarium, quis ler um livro inédito. Seria estranho ter que relembrar um que já tivesse lido e ter que objetivar porque não o leria nunca mais. Teria que folheá-lo, eventualmente relê-lo, voltar a fazer o que que disse que não faria. Preferi um que nem sei como apareceu em minhas mãos. Compro livros na esperança de enveredar por suas páginas e que, muitas vezes, ficam boiando nas prateleiras da biblioteca sem serem tocados. Enquanto outros são relidos como se fossem páginas da Bíblia em dias de culto. FIM, no entanto, é um desses livros que merecem releitura. Que venham outros. Com a unção do Padre Graça, pergunto: “O próximo?”. No mínimo, Fernanda Torres ser lida, além de assistida em peças de teatro, vista series de TV e admirada no cinema.

 

Dark, Now

Dark

Estamos envolvidos no enredo da Pandemia desde meados de março. Apenas para reafirmar, estamos em 2020. Essa marcação seria desnecessária, se o eventual leitor deste texto estiver no presente. Porém, quem estiver correndo os olhos por estas palavras em um futuro distante deste episódio da vida planetária, estará vivenciando em seu presente, consequências advindas deste passado. Estabelecido o quando, cumpre dizer que estou no Brasil (ou estive) e talvez quem me leia repercutirá o que leu no meu hipotético futuro, em que estarei fora deste território ou, fortuitamente, fora desta dimensão.
Estou passando uns dias fora de Sampa. Mais propriamente, na Praia Grande, no litoral sul paulista. Quanto ao tempo, me refiro à importância que este local representa em minha história pessoal. É como se o que experimentei aqui no passado tenha sido tão forte que retorno às vivências ensolaradas e delas me alimento na minha atualidade, mesmo sendo este um dia frio de julho. Nesta vacância forçada pelo isolamento social, aproveito para ler, escrever e praticar atividade física. Faço exercícios localizados, caminhadas e ciclismo, com o uso de máscara, atento que estou ao contato com os aerossóis.
Você, do futuro, que talvez não esteja entendendo ao que me refiro, saiba que o contágio pelo novo coronavírus poderia ocorrer de variadas maneiras  ̶  pelo ar, contato com objetos infectados e pelo toque. A depender do futuro em que esteja, o uso de roupas impermeáveis ou objetos similares já é uma realidade para uma parcela da população, a se considerar que as diferenças sociais não terão sido superadas, como aliás, é uma característica intimamente ligada às sociedades humanas e a brasileira, em particular.
No atual contexto, o uso de máscara e a incorporação de medidas preventivas quanto à Covid-19  ̶  doença ocasionada pelo novo coronavírus ̶ tornou-se questão política. Não quanto ao modo de como implantá-las, mas se faz para negá-las. O grupo político então no poder do governo federal, comandado por um celerado com ideais ditatoriais de viés fascistas-milicianas, associa sua implementação a reivindicações ligadas à esquerda, como se viver em condições sanitárias ideais, com a coordenação de um programa público de saúde se confunda com ela. Contudo, nem sei qual tipo de sociedade acabou por se desenvolver. Se me lê no futuro, é bem capaz que a Democracia tenha sobrevivido.
O fato de nós, brasileiros, termos nos metido nesta armadilha da Democracia, mesclada à nossa pobreza estrutural ̶ social, ideológica e econômica ̶ talvez tenha sido inevitável. De certa maneira, foi a consequência de ações equivocadas por parte de quem estava no poder anteriormente, que não percebia a História como resultado da lei de causa e efeito, em que os tempos ̶ passado e futuro ̶ se misturam no presente, com repercussões dramáticas. Porém, nada mudou e a atual direção caminha no mesmo sentido equivocado.
O vento e a chuva do dia anterior mexeram na posição da antena da TV Digital, impossibilitando que eu assistisse os canais da rede aberta. Quando quis acompanhar o noticiário da tarde, não consegui. Para verificar se a Internet estava ativa, fui aos aplicativos da programação. Estavam funcionando. Entre eles, a Netflix, que me sugeria Dark, com 99% de aceitação.
Bem, naquele momento, não tinha nada a fazer e cliquei no primeiro episódio da primeira temporada. Nesse mesmo dia, assisti aos 7 primeiros. Da tarde até a noite, a assistência foi acompanhada por uma anacrônica festinha dada pelos vizinhos da casa da frente, com músicas de todos os tempos ̶ de Disco dos anos 70 a Sertanejo atual (para nós). Como tenho certa capacidade de abstenção (um tanto criticada por quem convive comigo), só percebia o tempo presente entre um intervalo e outro. Como a série é (ou foi) popular entre os expectadores que a assistiu estará a entender este texto certamente imperfeito, mas que carrega conjecturas que pareceria sem nexo, antes.
Ainda que a série tenha investido no improvável uso de máquinas e vórtices ou “buracos de minhoca” tempo-espaciais para que os efeitos sejam vividos por seus participantes, o enredo faz com que reflitamos em como as nossas ações, por menor que sejam, repercutem ao longo de nossa vida, criando círculos concêntricos tal qual uma pedra jogada no lago existencial. Cavernas que aludem ao Mito de Platão e ao Fio de Ariadne, constantes do riquíssimo repositório das antigas filosofia e cultura gregas, entre outras citações (das que percebi até agora) introduz fortemente a viagem do passado humano em nosso presente, alterando o nosso futuro passado. Como budista iniciático (faz uns 40 anos), busco viver o presente. Aliás, como propõe o título de um dos episódios da primeira temporada, sei que tudo acontece agora.

Notas Sobre Violência e Morte (2016)

Brasil registra o maior número de assassinatos da história em 2016; 7 pessoas foram mortas por hora no país…

Tenho postado aqui, no WordPress, meus escritos espalhados pelas redes sociais, principalmente pelo Facebook, além de textos – crônicas, contos, poemas – produzidos para a Scenarium Plural – Livros Artesanais, em livros autorais pessoais, coletivos e para a Revista Plural. Meu objetivo precípuo é o de montar um mosaico que busque definir minha trajetória como escritor. Uma tentativa de encontrar um norte, uma linha mestra que, acima de minhas convicções cambiantes, explicar para mim mesmo e, eventualmente para quem me lê, a realidade que nos cerca, pelo olhar de quem fui-sou. Talvez, por fim, identificar os caminhos pelos quais viemos a trilhar na atualidade-passado-futuro. Abaixo, mais um desses registros.

“A segunda-feira acordou duvidosa, mas logo mostrou a sua cara – fria e chuvosa. Saí para resolver problemas bancários e voltei a tempo de ouvir e ver o noticiário na TV – áudios vazados, estupros coletivos, acidentes automotivos fatais, um gorila assassinado…

Os áudios vazados demonstram mais do mesmo: o poder é buscado pelos supostos protagonistas, mas são os soldados do chamado “segundo escalão” que dão o tom da canção de cabaré que toca no antro dos nossos políticos profissionais. Nesses cabarés, que alguns também chamam de palácios, os personagens trocam de pares, enquanto as músicas interpretadas seguem o padrão do nosso sistema viciado. Ao final de cada dia, o resultado é que acabamos todos fodidos.

No episódio dos trinta e três contra uma, para além do descalabro moral da situação, a indigência de nossa sociedade se mostra em todas as suas piores facetas, do alarde dirigido pelos interesses de quem denuncia a “cultura do estupro” até as opiniões daqueles que desconfiam da história mal contada… Existiu um estrupo coletivo, como devem ocorrer vários iguais frequentemente, mesmo que não nessa dimensão, mas a desconfiança dos detalhes em torno do fato denuncia que o problema é bem mais amplo do que aparenta ser. Desconfiamos de tudo.

Esse não é apenas um processo que vem de cima para baixo, como igualmente no sentido contrário, que se espraia desde os atos mais comezinhos do cotidiano até as grandes negociatas. Somente quando encararmos o fato de que temos uma cultura da corrupção, poderemos enfrentar o problema em todas as frentes. A questão é estrutural. Há possibilidade de haja realmente uma cultura voltada para violentar as mulheres? Sim, há! Como também há uma cultura compartilhada para humilhar os homens, menosprezar os velhos, aviltar as crianças e usar a todos nós como massa de manobra econômica, ideológica, mental e espiritual.

Mais um acidente automobilístico matou alguém mais conhecido – um cantor sertanejo. Na edição do noticiário, vincularam o seu nome ao de outro, mais afamado, numa tentativa canhestra de reacender a comoção popular em torno do evento. Contudo, no final de semana prolongado, outro acidente, na Bahia, matou uma família inteira – pai, mãe e quatro filhos. Em uma tentativa de assalto, em São Paulo, com uma pedra atirada contra o vidro do carro por um grupo de bandidos de beira de estrada (como os que existiam na Idade Média europeia), um adolescente que iria visitar a família foi morto quase imediatamente. Ganharam pouco espaço, porque sentimos que tudo é tão prosaico, tão linear… Mais um indício de que estamos doentes.

Todavia, como a contrapor às más notícias brasileiras, chegou outra bem triste, vinda via satélite dos Estados Unidos, sucedida em circunstâncias limites. Para defender a vida de uma criança que caiu no fosso de um zoológico de Ohio, atiraram para matar o velho gorila, que parecia apenas querer guardá-la dos olhares alheios. As discussões em que se contrapunha a dúvida se deveriam ser usados dardos tranquilizantes na ação e a acusação feita à mãe do menino de estar desatenta no momento em que ele ultrapassou o gradil de proteção, são apenas circunstâncias subjacentes em relação à realidade de que nós retiramos um parente do ser humano do seu habitat e o gradeamos em um espaço exíguo, a cobrar ingressos para vê-lo, sem liberdade e acuado. A maior tristeza se dá porque não protegemos o nosso irmão em seu próprio ambiente natural. Na verdade, o estamos deixando sem um lugar para viver, caso voltasse. Cercá-lo em fossas e grades seria uma maneira de protegê-lo de nós… até decidirmos matá-lo.”

BEDA / Scenarium/ No Mundo De 2020

2020

Soylent Green, que no Brasil foi chamado de No Mundo De 2020 e, em Portugal, de À Beira Do Fim, é um filme estadunidense de 1973, dirigido por Richard Fleischer e estrelado por Charlton HestonLeigh Taylor-YoungEdward G. Robinson. Vagamente baseado no romance de ficção científica de 1966 Make Room! Make Room!por Harry Harrison, que combina dois gêneros – policial-processual e ficção científica – trata-se da investigação sobre o assassinato de um homem de negócios rico. Em um planeta Terra com oceanos em extinção e alta umidade durante todo o ano, devido ao efeito estufa, resulta em poluição, pobreza, superpopulação, eutanásia e recursos naturais esgotados.

No ano de 2022, a cidade de Nova Iorque conta 40 milhões de habitantes. Para alimentar as inúmeras pessoas pobres e desempregadas, existem tabletes verdes chamados de Soylent Green, produzidos inicialmente através da industrialização de algas. Somente os ricos tem acesso a comidas raras, como carnesfrutas e legumes.

Quando um rico empresário das indústrias Soylent Corporation é assassinado em seu luxuoso apartamento, o detetive policial Robert Thorn começa a investigar. Ele de imediato suspeita do guarda-costas do empresário, que alega ter saído na hora do crime. Após interrogá-lo, Thorn vai ao apartamento do empresário e encontra indícios suspeitos, como uma colher com restos do caríssimo morango. Enquanto Thorn persegue o guarda-costas, seu idoso parceiro, Sol, começa a investigar os registros e papéis do empresário morto. Acaba por descobrir uma verdade estarrecedora sobre o tal tablete verde…” (Adaptado do Wikipédia).

Garotos, eu e meu irmão assistíamos em nossa TV preto e branco a filmes de todos os tipos. Os de ficção científica eram os nossos favoritos. Pessoalmente, comecei a gostar também de assistir a filmes europeus, musicais e noirs americanos. No Mundo De 2020, eu e o Humberto vimos juntos. Foi ele que chamou a minha atenção sobre o tema similar, quando o Capitão desdenhou do Covid-19, além de realçar que 90% dos abatidos pela doença seriam cidadãos acima de 60 anos, quase como a dizer que constituíam uma população “descartável”.

O personagem de Edward G. Robinson, emblematicamente em seu último papel antes de morrer, deseja se despedir dignamente da vida e adere a um programa de incentivo a eutanásia de maneira confortável e indolor enquanto revive em imagens cenas do belo mundo natural que existia antes de se tornar quase inabitável por conta do estilo de vida humano autodestrutivo que o levou ao caos.

Fica difícil cotejar o assunto do filme com a questão de os velhos serem considerados, em conjunto, um peso morto, normalmente usuários de programas assistenciais ou aposentadorias “dispendiosas” sem dar spoiler . Não o farei. O que o Capitão vocalizou, de alguma maneira, faz parte do pensamento de muitos que o elegeram. Ainda que muitos sejam igualmente velhos, que segundo discriminou, são pessoas de 60 anos ou mais. Como o dito cujo tem 65, talvez fosse ocaso dele mesmo pensar em se despedir dignamente da função que exerce por falta de condições em conduzir a administração do País.

Na pesquisa que fiz para rememorar os dados do filme sem parecer distante da mensagem que passa, acabei por encontrar várias informações interessantes. A realidade que mostra, de certa maneira, é o padrão da vida real de boa parte da população mundial – poluição, saneamento básico precário (“acostumada a nadar no esgoto”), escassez alimentar, precariedade de moradia, violência e superpopulação. Enquanto uma outra pequena parcela usufrui de uma estrutura impensável para quem está acostumado a se equilibrar entre a vida e a morte cotidianamente.

A chegada do Covid-19 parece tema de filme distópico, atingindo a todos de forma espraiada-generalizada. Porém nos Estados Unidos ela mostra a sua faceta mais grave ao avançar sobre as populações mais pobres, mormente constituídas por hispânicos e afrodescendentes. Muitos não têm planos particulares e não podem ser atendidos como ocorre no sistema de saúde brasileiro – representado pelo SUS – apesar da precariedade por causa dos escassos recursos muitas vezes desviados ou mal utilizados.

O Mundo De 2020 chegou, em muitos dos aspectos mostrados na produção de 1973, no mundo de 2020. Quando garoto, me assustei com as possibilidades tenebrosas que demonstrariam a tendência autofágica do homem moderno. Desde cedo, percebi o quanto caminhamos, por causa do sistema hegemônico que adotamos no planeta, para um estado irreversível de pobreza material de grande parte da população e de pobreza espiritual da parte que abocanha a maior porção dos recursos da Terra. Porque uns não abririam mão do poder que detêm, enquanto despossuídos almejam alcançar o mesmo poder, “decrescer” é um objetivo inalcançável nesta geração. Tenho por mim que se não desacelerarmos conscientemente, certamente seremos forçados a parar…

 

Beda Scenarium

 

Informações e análises adicionais em:
https://medium.com/ver-mais-text%C3%A3o/no-mundo-de-2020-909f3befcee5