07 / 11 / 2025 / Bologvember / Um Dia Se Despiu…

… para o sol e foi feliz!

sim
porque o sol é a razão da vida existir no planeta
e acredita o ser humano que seja singular no incomensurável universo
o único inteligente até mesmo na terra
e nisso erra
esquece de bichos que são sencientes de outra
maneira
que conseguem conviver com as forças naturais
que se adaptam até com as agressões daquele que está no topo
da cadeia alimentar que destrói em nome do poder
que detém o bicho homem a conceder
quem vive e quem morre
é tão triste o que ocorre
esse egocentrismo destempero desespero
por ser tão diminuto
sabendo que na eternidade vive apenas um minuto
que nos tempos estelares não passa de poeira cósmica
e que no grande teatro da metagaláxia
não passa de uma tragédia cômica…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia



10 / 03 / 2025 / Nego Véio

O Nego Véio se foi. No final do mês, iria completar dois anos conosco. Já um tanto debilitado pela idade que deveria passar dos 15 anos, sobreviveu a sua vida toda sendo um cachorro de rua. Vivia antes pelas ruas internas da Maternidade de Vila Nova Cachoeirinha, onde a Tânia trabalhou por algum tempo. Acarinhado por muitos, recebia sempre um afago na cabeça e algum petisco para beliscar. Como ficara cego, pela catarata avançada, estava atrapalhando a circulação das pessoas e talvez não se apresentasse como exemplo de hóspede que o hospital acolhesse sem receber certa apreensão em quem não conhecia. Provavelmente veio da comunidade ao lado dele e acolhido de alguma forma pelos funcionários, tornou-se uma personagem do lugar. Magro, nos últimos dias, deixou de se alimentar e mais do que nunca passou a nos chamar para ser erguido de onde estivesse caído. Uma das coisas que o impelia a pedir ajuda era o de não querer urinar ou defecar onde dormia. Então, foi comum nas últimas semanas eu ficar vigilante até tarde da madrugada para impedir que se prolongasse os seus pedidos latidos.

A Tânia dormiu mal por vários dias, assim como eu. Nestes últimos dois, ele ficou na sala da TV, sendo acompanhado por mim que, depois de tantos anos tendo bichos, percebia que ele não resistiria muito mais tempo. Não conseguia mais andar, coisa da qual gostava, ainda que não enxergasse, mesmo que de forma claudicante. Percebemos que sentia dores através de seus lamentos e respiração ofegante. Começamos a medicá-lo para minimizar o seu sofrimento, até que na madrugada de 09 para 10 deixou de respirar em posição relaxada, deitado de lado, maneira que era rara, pois sempre apoiava a cabeça entre as patas, como se estivesse sempre alerta. Quando o trouxemos para casa, sabíamos que não viveria muito mais, porém a sua resiliência era dos bravos, daqueles que não se entregam tão facilmente. Queria tê-lo conhecido desde que nasceu, fico imaginando as suas tribulações e percalços de cão abandonado e acredito que fizemos a coisa certa ao recebê-lo. Que possa continuar a explorar como gostava todos os cantos do Universo, Nego Véio!

26 / 02 / 2025 / Deus*

Imagine a possibilidade de que o Universo todo tenha surgido de uma explosão a partir de um ponto infinitesimal, há incontáveis bilhões de anos “antes” a considerar “antes” e “depois” como dois momentos decorrentes desse início do tempo, se fôssemos criar uma linearidade. Sendo assim, todas as “leis” que regeriam a expansão do Universo desde então — formação de massas gasosas, elementos químicos, estrelas, planetas, asteroides, cometas, galáxias, buracos negros, as leis físicas conhecidas e as que ainda a serem descobertas, a Terra, as plantas, os homens e os outros animais, as mulheres (seres especiais), eu, você e toda a complexa história da existência humana no planeta, até a extinção dele e de toda a vida que nele caminha — teriam a mesma origem e comungaríamos da mesma “natureza energética”.

Ou seja, o Universo todo estaria conectado, mesmo que não queiramos aceitar. Se convencionarmos chamar a essa “Energia Una” de “Deus“, estaríamos errados? E se ao longo do desenvolvimento do Universo, a multiplicidade de fatores desencadeados pela força inicial tiver estimulado um processo de autoconsciência, mesmo que originalmente não houvesse tido essa característica, e que essa autoconsciência se tornasse o padrão de reconhecimento de uma espécie de “divindade de ser”, em que as supostas leis arbitrárias que aparentam a violência dos elementos demonstrasse apenas que existe um processo infinito de criação, conservação e destruição, em um ciclo eterno de desenvolvimento que muitos poderiam chamar de evolução? Isso é possível?

Eu acredito que sim, porque creio que se um deus existe, Ele/Ela é o/a deus(a) do possível e se permitiu que eu possa imaginar isso e/ou qualquer outra coisa, Se “apraz” que assim seja. Portanto, até duvidar de sua existência, eu posso. Livre do peso de precisar aceitá-lo(a) como imposição, consigo ter um relacionamento mais aberto com a divindade da vida. De resto, o que eu tenho visto, ao longo da História, é o Homem a criar deuses à sua semelhança e a matar em nome deles…

*Texto que compõe REALidade, livro de crônicas lançado em 2017, pela Scenarium Livros Artesanais

Foto por Yihan Wang em Pexels.com

Dançando Em Mim

Não foi sob o luar,
na praia, mata ou montanha…
Foi na depressão,
plena escuridão,
prenha de minha solidão
semivivo entre semimortos,
iguais em devoção à profundeza rasa…

Mergulhado em mim,
eu era um Não em busca de Sim,
recusado,
a repelir qualquer luz
que me ofendesse o isolamento…

Distraído, fui pego de surpresa…
Tornei-me presa,
arrebatado,
sem pressa devorado
pela rústica delicadeza
de uma quimera
em corpo pequeno e ágil…

Eu,
imenso em nulidade,
tive meu universo iluminado
por estrela em céu sem lua,
planetas e sol.
A dançar,
chegou para me negar…

Ela me apresentou o amor,
recriou meu universo.
Passou a alimentar o meu corpo — sangue
submisso aos desejos,
a me tornar dependente de sua força rubra.

Quando o mundo acabar — massa de energia
absorvida por buracos negros,
ainda serei seu palco até o fim.
Coreografia da paixão — o amor
dançando em mim…

Foto por KoolShooters em Pexels.com

A Luz E O Tempo

Tirante o Pensamento, nada viaja mais rápido no Universo observável do que a Luz. Para nós, na Terra, a luminosidade do Sol nos atinge quase tão imediatamente quanto é produzida. As estrelas mais distantes são imagens do passado que admiramos durante anos mesmo depois de muitas terem se extinguido ou absorvidas por algum buraco negro. Tanto quanto o que vivemos tem como referências imagens que não mais são o que são, mas o resultado de experiências passadas de corpo presente… Assim como, a nossa imagem no espelho, microssegundos no Passado.