06 / 03 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / #TBT

Desfilarei por aqui algumas imagens através do tempo. As imagens têm o poder de preservar uma idade, uma feição, um corpo, um tempo, um lugar. Tanto quanto deveria preservar a memória. Mas isso cabe a nós que passamos por ele. E isso varia de acordo com a capacidade de cada pessoa. Há a condição de envolver certas cenas em torno de fantasias ou desejos. A memória prega peças e é comum que fiquemos saudosos de certas épocas ao rever-nos mais jovens. Eu, que tento viver um dia de cada vez, vou deixando a saudade de lado sempre que possível. É comum sentir que estou tratando de outras pessoas em cada visão.

E essa cabeleira? Pois, é! Devia ter meus 22 anos. Estou do lado de meu irmão, Humberto. Essa imagem foi produzida no centro da cidade de Matão, onde o meu pai herdara uma fazenda, a qual estava arrendada para uma usina de produção de etanol. Nessa visita, constatamos que a fazenda, antes distante da cidade, estava cada vez mais perto. Mais alguns anos, certamente os bairros se aproximariam do canavial. Nunca voltei por lá para constatar. Tempos depois, a fazenda foi vendida para usina.

Mais uma foto com o Humberto. Este registro foi feito no salão do Clube Piratininga, por ocasião de uma apresentação de uma orquestra de baile de salão, em 2005. Foi um tempo gostoso de ser vivido, apesar do desgaste físico que representava subir equipamentos pesados até o palco pelas muitos degraus de suas escadas.

Estava eu em frente ao mar, um sol para cada um, tempo de sobra depois de ter montado o palco… o que poderia fazer? Mergulhar nas águas quentes de São Sebastião, no Litoral Norte. O tempo gasto no trabalho pode ser também de usufruto de bons momentos. Fiz bem! Depois desse mergulho, trabalhei por 30 horas seguidas…

Em 2021, completei 60 anos. As minhas filhas me deu de presente uma viagem à Paraty (RJ), cientes de meu apreço pelo Mar. Foram dias incríveis que eu e a Tânia usufruímos com prazer. Nessa viagem também tive contato com a História e a Natureza em momentos inesquecíveis.

Houve uma época que era totalmente avesso a fotos. Fugia como se quisesse proteger a minha alma, feito um indígena que imaginava que ela ficaria refém da imagem. Nessa, devo estar com 19 anos, num visual típico dos Anos 80. Na época, era vegetariano e acreditava que sequer namoraria, quanto mais que me casaria. Mas o mundo dá voltas…

Para finalizar, volto ao início, de onde trago esta foto junto àquela através da qual aprendi amar às mulheres. Eu devia ter por volta de um ano de idade (1962 ou início de 1963) e as praças de São Paulo eram lugares bem mais aprazíveis do que são agora. Ao fundo, provavelmente, pelo que pesquisei, apesar de não haver sequer uma foto para identificá-la, está “Mulher Nua“, de Charis Brandt. Ela desapareceu da Praça da República em julho de 1994; era uma obra em bronze com 1,70m de altura e pesava cerca de 105 Kg; ficava sobre um pedestal de granito rosa.

BEDA / Passagens*

Foto da minha primeira identidade. Tinha 17 anos e uma nascente barbicha. Logo, por efeito de ter me tornado vegetariano, começaria a emagrecer bastante até ficar um tanto irreconhecível. Depois de me adaptar pouco a pouco à alimentação sem carnes de qualquer tipo, consegui ficar menos magro. Essa fase, durou cerca de dez anos, até me casar, em 1989.

Por encomenda da Ingrid, em Janeiro de 2022 recebi um biscuit delicadamente confeccionado pela talentosa Maria Luíza Alves. Eu amei o mimo! ¡Gracias! 

Em #TBT de 2014, um registro de 2002. Na época, legendei: “Cultivamos amigos e plantamos o verde pelo mesmo motivo: melhora o ar que respiramos” – um registro da filhote Dorô, filha única da última gestação da Lua. Acompanhou as meninas em boa parte da adolescência.

Numa madrugada do início de dezembro de 2015, quando voltava de um trabalho com a Ortega Luz & Som, assistia alguma programação até baixar a adrenalina. Comigo, a nossa eterna e dourada Dorô. Eu nem sei quanto tempo faz que ela não está mais fisicamente conosco. Mesmo porque não há dia em que não nos recordamos dela.

Esse #TBT de 2016 é muito especial para mim. Além da Bethânia, recém-chegada, mais afastada, vê-se à esquerda, Frida, que há uns três anos deixou de estar conosco fisicamente e, à direita, Domitila, que encantou-se há pouco. Não são poucas as vezes que acabo por pegar uma vasilha a mais para dar comida para as meninas… e só então me lembro que ela não precisa mais se alimentar de ração, mas apenas do amor que não lhe falta em nossas lembranças.

Neste registro de 2011, estamos, meu irmão, Humberto e eu, em momento de descanso depois da montagem do equipamento da Ortega Luz & Som para a realização de mais um trabalho de sonorização. O local em que estávamos, foi uma antiga fazenda de café transformada em local de eventos. Na sede do Hotel Fazenda, encontramos várias referências à época da escravidão, incluindo as senzalas nos casarões. Patrimônio construído com sangue e suor dos escravizados que agora é usado para diversão de quem pode pagar.

*Postagens feitas no Facebook ao longo dos anos desde 2011. Publicação participante do Beda: Blog Every Day August

Denise Gals Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins Cláudia Leonardi

Como Conheci A Tânia

Imagem de 13 de Maio de 1988. Participação especial da Romy, nossa primeira filha, testemunha aninhada no útero da Tânia, aos cinco meses de gravidez.

Dois ou três anos antes de me casar com a Tânia, sequer a conhecia. Ela veio com a minha prima Vanir e a amiga Neuza, de Volta Redonda para São Paulo, com o objetivo de realizarem testes de admissão em hospitais da capital paulista. Vanir era filha do tio Manoel e da tia Ermelinda, irmã mais velha de minha mãe que, junto com o meu tio Benjamin foram os dois únicos dos sete irmãos Nuñez a nascerem no Brasil. O nosso tio Manoel era preto. Esse dado não teria nenhuma importância se não fosse um fato que marcou a tia Ermelinda aos 12 anos de idade, quando chegou no Porto de Santos, vinda de navio da Espanha, junto com outros quatro irmãos, nos anos 20 do século passado. Ela mesma nos disse que ao ver o primeiro homem preto de toda a sua vida, provavelmente um estivador, se assustou tanto quanto ficou impressionada.

Assim como era impressionante o nosso grande tio Manoel. Ele trabalhava na Siderúrgica Nacional e se distinguia pela inteligência, apesar do pouco estudo e, notadamente, por seu olhar penetrante. Eu gostava de ficar ao lado dele e ouvir suas histórias quando visitávamos a ele, a tia e os primos, todos muitos bonitos e enormes. A prima Vanir me adorava e quando me apresentou para a Tânia, se referindo a eventual beleza e personalidade do primo, a minha futura mulher depois me revelou que chegou a rir por dentro naquele momento. O sujeito que eu era, de cabelos desgrenhados e vestindo camisas postas ao contrário, calças sujas e um tanto bruto não era nem bonito e muito menos interessante. Ao vê-la, não me lembro de ter dito alguma coisa. Talvez tenha grunhido algo, não mais do que isso. Com certeza, aquela magrela com voz de taquara rachada não havia chamado a minha atenção.

As Técnicas de Enfermagem Tânia e Neuza passaram no teste para o Hospital Israelita Albert Einstein. A Vanir foi trabalhar no Hospital 9 de Julho. Acabou por residir com parentes em Suzano, município próximo. As outras duas moças foram morar temporariamente com a Dona Madalena, minha mãe, em um dos quartos disponíveis na casa que antes era ocupado por minha avó Eloisa, da qual minha mãe cuidava, que morrera um pouco antes. Eu continuei em nossa antiga casa, sozinho. Como a Tânia trabalhava bastante e fazia cursinho para fazer vestibular para o curso de Enfermagem, pouco a encontrava. Quando nos víamos, era comum acontecer um ou outro desconforto. Certamente, não nos simpatizávamos mutualmente. Depois de algum tempo, ela e a Neuzinha, se mudaram para um outro local. Não desgostavam da Dona Madalena, mas no mínimo achavam engraçado que minha mãe lhes fornecesse achocolatado barato e leite tipo C e pó de Chocolate do Padre e leite tipo B, para mim. Na época, eu era vegetariano e fazia uma grande quantidade de saladas de frutas, sopas de legumes e vitaminas que mal oferecia para as moças. Cortesia social não era o meu forte.

Passado o período inicial de ausência depois da mudança, em suas folgas, a Tânia voltou a frequentar a casa onde a minha mãe morava, principalmente quando não tinha outro compromisso. De vez em quando, nos encontrávamos. Um dia, se surpreendeu com um cara de cabelo aparado e vestido como gente. Aparentemente, descobriu que eu era o rapaz ao qual a Vanir se referiu. Por meu turno, passei a agir de uma forma mais cordial e gentil. Começamos a sair para irmos ao cinema e conversarmos. Começamos a nos entender e a sentir vontade de ficarmos mais tempo juntos. Até que começamos a namorar. De início, escondemos nosso caso. Mas…

… para ajudar, Dona Madalena teve a ideia de alugar a casa da família na qual apenas eu morava para a Tânia e a Neuzinha. Elas ficariam em um quarto e eu, no outro. Sem o conhecimento da minha mãe, os namorados passaram a dormir juntos. Quatro meses depois, não me lembro se nosso namoro fosse presumido ou não, me lembro de estar tomando um café na cozinha. Simplesmente saquei de um envelope o exame de ultrassom ao qual mostrei à minha mãe. Era a “imagem” do seu primeiro neto ou neta. Ela desabou em uma das cadeiras e começou a fazer perguntas sobre como tudo aquilo tinha acontecido. Acho que brinquei sobre o “como”, porém, tão assustado quanto da primeira vez que a Tânia me mostrou o exame, nem me lembro do resto da cena. Estabelecido o fato da gravidez, a movimentação de ambas as famílias foi no sentido de que nos casássemos o mais rápido possível. Mas essa é outra história…

BEDA / Scenarium / Paixão

Domingo

A Páscoa traz diversos significados para mim, além da efeméride religiosa. A Paixão de Cristo sempre me emocionou, desde criança. Aqueles filmes bíblicos, exagerados em atuações e dramas, eram assistidos com avidez em minha televisão em preto e branco. As histórias em tons de cinza, carregavam todas as cores mais fortes da paleta.

No entanto, durante um tempo, passeei pelos caminhos do ateísmo. Muito novo para não entender que houvesse tarefas impossíveis, cheguei a iniciar um projeto em que reescreveria a Bíblia sob a ótica racionalista, se bem incluísse versões em que extraterrestres exerciam um papel preponderante.

Entre os 16 e os 17 anos, li um livro de origem hinduísta que mudou a minha visão de mundo. Eu, que já havia lido a Bíblia, livros kardecistas e de outras vertentes, como excertos budistas, maometanos e outros, percebi que todas as linhas de pensamento convergiam para um mesmo propósito – o conhecimento de Deus. Radicalizei e me tornei vegetariano. O meu lado racionalista me fez pesquisar (em livros) sobre como me alimentar de forma adequada sem carne, visto que já sabia que a proteína animal era “quase” imprescindível para a sustentação do nosso organismo. Organizei um “programa de desintoxicação” progressivo e lá fui eu vivenciar a experiência de viver sem carne. De origem animal, consumia ainda ovos, leite e derivados. Não era “vegano“, portanto.

Devido às minhas várias influências, estabeleci um sincretismo em que a Sexta-Feira Santa tinha um papel especial. Nesse dia, eu fazia jejum completo. Só bebia água. E assim foi durante os 10 anos seguintes, até voltar a comer carne, já que havia me casado e nascera a minha primeira filha, Romy, que pode aprender a gostar de comer de tudo.

Com o casamento, sabia que não poderia impor a minha postura a ferro e fogo, ainda mais que a minha esposa, Tânia, viesse de outra formação e não quisesse deixar a nossa filha sem o consumo daquele tipo de proteína. Além disso, achei também que tinha que abrandar a rigidez dos meus “votos”. Porém, tirante uma churrascada ou outra, não consumo carne vermelha à larga.

Mesmo sem o meu influxo direto, a filha do meio, Ingrid, adotou o vegetarianismo como estilo de vida e, como a corroborar que os nossos filhos ou filhas não somos nós, a mais nova, Lívia, que não gostava de certos alimentos da nossa dieta familiar, também acabou por caminhar na abstinência de carnes.

De qualquer forma, a ideia da ressurreição da Consciência Crística em cada um de nós é algo que me mobiliza ainda hoje e acho que assim sempre será. Porque Cristo morre todos os dias em nossos corações e sempre é tempo de promover o Seu Renascimento em nossas vidas hora a hora.

Beda Scenarium

BEDA / A Paixão

Paixão
Cena da Ressurreição e Ascensão de Cristo – Em Nova Jerusalém – Agreste de Pernambuco

A Páscoa traz diversos significados para mim, além da efeméride religiosa. A Paixão de Cristo sempre me emocionou, desde criança. Aqueles filmes bíblicos, exagerados em atuações e dramas, eram assistidos com avidez em minha televisão em preto e branco. As histórias em tons de cinza, carregavam todas as cores mais fortes da paleta.

No entanto, durante um tempo, passeei pelos caminhos do ateísmo. Muito novo para não entender que houvesse tarefas impossíveis, cheguei a iniciar um projeto em que reescreveria a Bíblia sob a ótica racionalista, se bem incluísse versões em que extra-terrestres exerciam papel preponderante…

Entre os dezesseis e dezessete anos, um livro de origem hinduísta mudou a minha visão de mundo. Eu, que já havia lido a Bíblia, livros kardecistas e de outras vertentes, como excertos budistas, maometanos, etc, percebi que todas as linhas de pensamento convergiam para um mesmo propósito – o conhecimento da existência intangível de Deus. Radicalizei e me tornei vegetariano – uma forma de libertação.

O meu lado racionalista me fez pesquisar sobre como me alimentar de maneira adequada, sem carne – tentativa de abrandamento de minha natureza animal – com a abstenção da proteína quase imprescindível para a sustentação do nosso organismo. Organizei um “programa de desintoxicação” progressivo e lá fui eu vivenciar a experiência de viver sem carne. De origem animal, consumia apenas ovos, leite e derivados. Não era vegano, portanto.

Devido às minhas várias influências, estabeleci um sincretismo em que a Sexta-Feira Santa tinha um papel especial. Nesse dia, eu fazia jejum completo. Só bebia água. Assim  como no Natal e meu aniversário, durante os dez anos seguintes perseverei até voltar a comer carne. Com o casamento e o nascimento da minha primeira filha, Romy, sabia que não poderia impor a minha postura a ferro e fogo. A Tânia, de outra formação, não queria deixar a nossa filha sem o consumo daquele tipo de proteína. Além disso, achei também que tinha que abrandar a rigidez dos meus “votos”. Ainda assim, atualmente não consumo carne com frequência.

Mesmo sem o minha influência direta, a filha do meio, Ingrid, adotou o vegetarianismo como estilo de vida e como a corroborar que os nossas crianças não somos nós, a mais nova, Lívia, hoje também abstêmia de carne, não consome certos alimentos que fazem parte da nossa dieta familiar, bem como a própria Ingrid, que é uma vegetariana seletiva quanto a certos vegetais.

Quanto à Paixão, a ideia da ressurreição da Consciência Crística em mim é algo que me mobiliza constantemente e acho que sempre será assim. Vivo momentos em que vagueio nas ondas do Nada e Cristo morre todos os dias em meu coração. E renasce sempre…  A permanente batalha pessoal é cumprir a máxima de amar ao próximo como a mim mesmo. Para isso, meu grande esforço é conseguir me amar para que o mandamento finalmente se cumpra…