06 / 09 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Viagens*

Há várias maneiras de viajar. É comum eu viajar mentalmente por lugares que apenas crio em minha imaginação. Esse é um expediente que utilizei muito quando mais novo, impedido por questões típicas de quem mal tinha recursos para me transportar de um bairro a outro. Vivia na Periferia (como ainda vivo), se bem que agora em condições de ir a muitos lugares que somente teria contato por imagens. O que me impede, como acontece com tantos, é a falta de tempo. Ao mesmo tempo, em meu trabalho me locomovo para várias cidades do Estado e até fora, mas ainda próximos em distância. Neste dia 6, estivemos em Votorantim, na região de Sorocaba em que estava em um lindo recanto onde sonorizamos pela Ortega Luz & Som uma festa de casamento.

Na antiga fazenda, transformada em local de evento, encontramos uma Figueira centenária. O local todo é bonito, mas ter contato com essa Figueira foi emocionante. Testemunha de tempos em que a dor dos escravizados sustentava a alegria dos fazendeiros, toquei o seu caule e conversei mentalmente com ela. Fiquei comovido.

A Marineide foi uma irmã reencontrada através do Facebook. Costumamos dizer que fomos deixados aqui neste planeta — ela, na Bahia, eu, em São Paulo — pela Nave-Mãe de nosso planeta original. Além dela, em Brasília, onde ela reside, havia Luiz Coutinho, também “encontrado” pelo Facebook através de seus textos perspicazes e bem escritos. Um veneziano nascido em Minhas Gerais, estivemos todos juntos no chão da Capital Federal em 2016. Na imagem acima, escolhi esta foto do crepúsculo no Planalto Central, diferente das suas referências arquitetônicas. Além de mim e as duas pessoas já citadas, Tânia e Lourival, esposo da Marineide também comparecem.

Em 2012 foi realizado o 1º ENBRATE, um Cruzeiro curto entre Santos e Rio de Janeiro, ida e volta pelo Litoral com a programação tendo como pauta a realização de palestras para atualização de profissionais de enfermagem de nível médio, aliado à diversão à bordo do Costa Fortuna, proporcionado pela ABRATE. A Tânia, profissional de Enfermagem, me levou para esse evento. Foram alguns dias em que relaxei e tive contato com o poder do Mar afastado da costa, além da vastidão do horizonte tendo o Sol durante o dia e a Lua e das Estrelas durante a noite.

Essa imagem foi realizada no passeio de escuna que fizemos — Tânia e eu — no início de outubro de 2021, por ocasião da comemoração dos meus 60 anos. Presente dado por minhas filhas, foram momentos memoráveis que espero um dia renovar em que passei alguns dias em Paraty. Além do mergulho pela história da região, mergulhei nas águas do Mar que banha a cidade que veio a se tornar Patrimônio da Humanidade.

Durante alguns anos, nosso pai, Sr. Ortega, eu e meu irmão, Humberto, fizemos viagens para Posadas, capital da província de Missiones, norte da Argentina, fronteira com o Paraguay. Nesta imagem, realizada em 1985, estávamos em Foz do Iguaçu, local de registro de nascimento do meu pai. Na verdade, ele era de origem paraguaia e seu pai, Sr. Humberto, o registrou em Foz. Essa viagem também é temporal, como quase todas que aqui coloquei.

As viagens mais frequentes que realizo são para encontrar o Mar. Vou ao Litoral Sul, mais especificamente à Praia Grande — que um dia foi chamada de Cidade dos Farofeiros por ser o ponto mais visitado pelos paulistanos em ônibus de excursão. Eles lotavam as ruas com eles e há uma imagem icônica em eles invadiam parte das praias. Atualmente, Praia Grande é uma cidade com grandes empreendimentos imobiliários, escolhidos por pessoas de poder maior aquisitivo. Foi uma grande transformação ao longo dos anos. Apesar da grande mudança da rua de areia ladeada por mangues até se tornar numa apinhada de prédios residenciais, ainda é por ela que volto a ser menino, o mesmo que vivia o dia inteiro vestido apenas com o calção de banho, passando boa parte do tempo na areia, a mergulhar seguidas vezes nas ondas que sempre que adentro, me carregam para os momentos mais felizes da minha vida.

*Texto e fotos postadas um dia depois por estar, justamente, em viagem de trabalho.

Participam:

Claudia Leonardi / Mariana Gouveia / Silvana Lopes / Lunna Guedes

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Viagem Literária

O tema proposto para este 6 On 6 me deixou um tanto desconcertado. “Viagem Literária” era mais ou menos a sensação que eu tinha antes de empreender viver a vida literal. Eu era um sujeito fora do mundo “real”, em que cada dia surgia como um capítulo de um livro escrito página por página a cada hora. Viver, de certa maneira, era bastante penoso porque as personagens envolvidas se expressavam de maneira irregular em enredos aparentemente sem sentido, ainda que eu acreditasse que nada fosse por acaso.

O meu “texto” inventava uma realidade que não batia com a dinâmica humana. Aceitar que a maioria das circunstâncias apresentavam razões impenetráveis para um autor que tentava escrever sua própria história só se resolveu quando abandonei a escrita e comecei a trajetória de homem casado, com filhas para criar. Ganhei uma apresentação de capa que me habilitou a ser considerado “normal”. Durante alguns anos, vivi a “vida louca” de um cidadão comum. até que as redes sociais me possibilitaram voltar a expressar minha visão de mundo sem compromisso, de uma forma menos formal.

A minha viagem literária passa pelos textos que apresentei ao longo anos, porque ainda que tentasse escapar da formalidade, o escritor voltou a ganhar peso e que em 2015 acabou por ingressar num projeto — da Scenarium Livros Artesanais — que desde então me estimula a assumir o compromisso de me tornar o melhor escritor que eu possa ser.

Neste dia Dia de Reis de 2021, recebi de presente, em papel transparente, uma “sensação de estranhamento feliz”. À primeira vista, esta fruta que encontrei no jardim, parecia um pequeno abacate. O abacateiro que tínhamos se foi há algum tempo. Após lavá-la, ao posicioná-la para a foto, quase a confundi com uma pera. Ao toque, devido a lisura de sua casca, ficou evidente tratar-se de um maracujá mesmo já que, além das mangas (no final da safra), jabuticabas e goiabas, só temos mesmo um maracujazeiro em plena produção. A sua forma inusitada, causou aquela sensação nomeada acima. Um pequeno bálsamo em relação à antípoda “sensação de estranhamento infeliz”, tão em voga em 2020. Feliz Dia de Reis!

Imagem de 6 de Janeiro de 2016

Discos que não serão mais tocados
Céus que não serão mais riscados
Por pipas, aviões, ovnis, seres alados
Amores que não serão mais amados
Por você, por mim, por nós, passados
Todos, pela moenda dos sonhos dourados…
O Tempo!

Este ano esta mesma imagem ocorreu igualmente, mas esta é de 2013…

Da janela do meu quarto, se alcança as frutas. Este ano, houve uma superprodução de mangas, o que as minhas cachorras muito agradece! Quase sempre vejo um cão chupando manga e eu acho lindo! Durante todo o dia, se ouve o som do baque das filhas que abandonam as pencas mais amaduradas e elas se aproveitam, incontinentes. Nós, os humanos, a aproveitamos in natura, em suco e até para fazer sorvete. Estas aqui ainda estão verdes, mas por pouco tempo…

Meu quarto livro lançado pela Scenarium… em maio de 2021

No início de 2021, estava sentindo as consequências de me abrir para o mundo. Tudo me atingia. A situação do País em meio a uma Pandemia, envolto pelas sombras de um Reacionarismo que se autointitulou de Conservadorismo, como se devêssemos conservar todas as mazelas não de um passado recente, mas do Colonialismo — poder aos brancos, homofobia, misoginia, massacre dos originais da terra, exploração predatória de um país em que se plantando tudo dá. Pindorama sendo novamente devassada por usurpadores que acreditam que não existe lei ou pecado abaixo da Linha do Equador. Curso De Rio, Caminho Do Mar desaguou em páginas da Scenarium Livros Artesanais e me salvou de afogar em tanta angústia. Nele, tento manter a cabeça fora d’água, mas não deixei de mergulhar em águas profundas.

Em 17 de Maio de 2016, escrevi: “Pois, é!… Aconteceu de novo… A Tânia e a Romy se compadeceram de uma doidinha de saudade perdida na região… Uma pediu, a outra a resgatou… Agora, Bethânia parou de chorar, sentada em meu colo… A academia adiada, enquanto descansa de seu sofrimento a nova fêmea da família, pelo menos por um tempo…”. Hoje, a Bethânia cresceu, mas nem tanto. Gosta de agir como se fosse uma gata e, apesar de suas perninhas curtas, salta a mais de um metro de altura, subindo em muretas, telhados, pias e, eventualmente, em mesas. Destruiu praticamente sozinha um conjunto de sofás e vez ou outra acusa travesseiros e almofadas de atacá-la, os rasgando. Sofre bastante com o frio, odeia roupinhas e prefere ficar debaixo das cobertas nas camas que a aceitar. Quando a Romy foi resgatá-la perguntou para uma senhora que estava próxima se era dela. A resposta que ouviu foi: “ninguém quer isso daí, não!”. Nós quisemos “isso daí”, bicho ciumento que ganhou um capítulo no meu primeiro livro pela Scenarium Livros ArtesanaisREALidade — por essa característica. Teimosa, late sem parar normalmente quando a Lívia está em reunião no Home Office. É meio difícil explicar a forte personalidade dessa “pessoa”…

Este poema eu escrevi para uma apresentação no lançamento das publicações da Scenarium Plural – Livros Artesanais, em agosto de 2016, ao qual infelizmente não pude comparecer. Trata sobre um tipo que se sente depreciado e que se auto denomina “O Segundo”. Estranhamente, a linha final parece atual e premonitória (da época do golpe do Congresso Nacional sobre a Dilma e a assunção do vice, Temer), se bem que o entendimento possa tanto ser utilizado em relação ao personagem quanto à contagem do tempo.

O SEGUNDO

Ser protagonista não é o meu papel.
Sou o escada no número de humor.
Sou o segundo do lutador.
Sou o amigo tímido do namorado.
Era reserva do goleiro no time de futebol.
A opção confiável, mas nunca escolhida.
Ficava com as sobras da comida.
Eu me tornei o primogênito,
porque o meu irmão mais velho morreu…
Casei porque a minha mulher foi deixada
e eu estava lá para a consolar…
Na cama, os gemidos dela nunca foram para mim…
Certa vez, o nome do outro foi murmurado…
Sigo sendo servidor de segundos…
Outros segundos tempos…
O meu consolo é saber que a História
dos tempos
é contada por segundos…

Participam: Mariana Gouveia / Silvana Lopes / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Claudia Leonardi

BEDA / Deslocamentos

Trabalho na área de realização de eventos. Engloba vários tipos de ocasiões e comemorações – casamentos, aniversários, eventos culturais com música e/ou teatro, sonorização de discursos políticos ou empresariais, enfim, onde quer que o ser humano queira dar destaque e/ou divulgação, a minha pequena empresa prestará serviço de som e luz. Em muitos casos, tenho que me deslocar para vários lugares fora de São Paulo. Como vou de carona, pois este mancebo não dirige, tenho oportunidade de fotografar lugares em várias horas do dia ou da noite. Ou quase. Mas não apenas. Vez ou outra, há espaço fotos das minhas viagens com a família, mas apenas esta primeira faz esse registro.

Hoje, é domingo de socar o pilão para fazer paçoca! Boa Páscoa para todos! – Arrozal, RJ – Abril de 2014.

Indo pela Via Dutra, sentido Rio de Janeiro, viajei no tempo… Fuscas dos anos 60 na pista… Agosto de 2014.

Velha locomotiva com destino ao Passado. Essa, especialmente, pode ter circulado nos tempos de minha mãe na mesma região onde foi registrado o seu nascimento, em 1932 – Santana do Parnaíba. Registro feito na área da fábrica da Natura onde a Ortega Luz & Som sonorizou a narração dos jogos do Brasil na Copa do Mundo de Futebol de 2014… aquela em que perdemos por 7 X 1 da Alemanha na Semi-Final. Ao final do primeiro tempo, quase todos já haviam se retirado do auditório…

“Frio e nebulosidade. Clima de serra, por aqui… Recomenda-se o abraço apertado de seu amor” – Agosto de 2014. O interessante é que esse tempo meteorológico se repetiu na mesma data, exatamente há nove anos.

O Sol amarelo do Super Homem… Agosto de 2015.

Para compensar o erro de tomarmos a estrada errada, nos deparamos com o outro lado do Pico do Jaraguá – o ponto mais alto da cidade de São Paulo. Logo depois, retomamos o caminho. Quilômetros a mais, gastos a mais, fruição a mais. Muitas vezes, pagamos por nossos erros com o maior prazer do mundo… Agosto de 2015.

Textos constante do BEDABlog Every Day August

Denise Gals / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins / Cláudia Leonardi

#Blogvember / Voo Cego

“Aprendi com as palavras o que eu não consegui com as asas: voar!”, por Suzana Martins, em (In)Versus

Quando adolescente, fã de séries de viagens espaciais, ficava intrigado com as que eram realizadas num átimo como em Jornadas Nas Estrelas, através das “dobras espaciais”. O veículo através da qual a comunidade múltipla-humana viajava o Espaço – a fronteira final – era a nave estelar Enterprise, “em sua missão para explorar novos mundos”. O contato com seres humanoides, de formas físicas diferenciadas dos Homo sapiens, com adaptações adequadas aos seus ambientes originais, propunha uma interação possível entre as várias raças e conformações.

Um mandamento que foi colocado de forma clara era o de não intervenção direta no desenvolvimento das civilizações originais dos planetas visitados. Mas, como não iria deixar de acontecer, o Capitão Kirk, o comandante da missão, era um humano que infringia as normas frequentemente, tendo em contraponto Mister Spock, cujo planeta carrega a racionalidade como característica principal, se opunha quase sempre às aventureiras opiniões de seu capitão, sendo ele o segundo em comando. O interessante é que o homem de Vulcano trabalhava a razão num contexto em que tudo inspirava a imaginação. Diante de muitas novas descobertas, o sábio ser desferia a expressão: “fascinante!”.

Para mim, o planeta ao qual me foi dado a explorar é este no qual vivemos. Por ter um olhar de estranhamento quanto a praticamente tudo que me cerca, me pego acordado a sonhar. Ou a sonhar acordado. Quando pequeno, voava sobre as casas do meu bairro, fazendo rasantes junto aos morros em que a vegetação verde ainda imperava. Lembro que percorria ruas que não conhecia ainda, a frente ou abaixo da qual morava. Confirmando depois seus caminhos. Deem o desconto de que a minha memória não é confiável. Mas quando menino cria que fosse assim. Ainda assim, percebi que a forma mais rápida de viajar era o pensamento.

As minhas asas eram invisíveis (para os outros) ou eu as mantinha escondidas para não parecer mais estranho ainda aos olhos dos outros. Através das palavras as materializava. Quando me perguntavam de onde surgiam tantas ideias para escrever não poderia dizer que armava as minhas asas para visitar as diversas realidades. Para parafinar minhas penas, lia bastante. Tudo me interessava. Nunca se sabia onde encontraria os melhores temas para desenvolver novas histórias. Essas construções buscavam reproduzir mundos ideais. A maldade humana era sempre suplantada. O Bem, poderoso, ao final vencia o Mal.

Enquanto isso, lá fora, onde eu não voava; onde os homens conseguiam vencer trapaceando; onde as mulheres choravam por seus filhos mortos; onde as botas pisavam sobre as cabeças dos subjugados; onde a Polícia matava pela ação dos esquadrões da morte (motivo de temor constante na Periferia); onde meu pai se ausentava; onde eu apanhava da Turma do Louquinho; onde a minha única alegria era jogar bola, apesar da miopia que crescia – eu me sentia Ícaro, em voo cego rumo ao abismo.

Participam: Mariana Gouveia / Suzana Martins / Lunna Guedes / Roseli Peixoto

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Por Onde Andei…

“Por onde andei
Enquanto você me procurava?
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada…” (Nando Reis)

6O6-20-1

Ano viçoso, de novo que é, em seu sexto amanhecer – Dia de Reis – me fez querer falar por onde andei nestes últimos tempos. Lembro que era comum iniciarmos o ano letivo com redações a discorrer sobre o que havíamos feito durante as férias. Naqueles anos, restávamos rememorar eventuais idas às casas dos tios ou descidas à Praia Grande, onde minha avó paterna tinha uma casa. Nessas viagens rumo à praia, comecei a desenvolver um relacionamento íntimo com o mar. Mesmo que, por algumas horas, em intervalo de trabalho em Caraguatatuba, no último dia de 2019, tive um encontro com as águas salgadas do tempo. Mergulhei em mim…

6O6-20-2

Passei o Natal com os familiares da Tânia, em Arrozal, Distrito de Piraí-RJ. Desde que comecei a visitá-la, mudou bastante – ampliou o número de residências e moradores – mas não deixou de apresentar características de Interior – pessoas que se cumprimentam na rua, mesmo sem se conhecerem, casario antigo e movimento muito menor do que em qualquer bairro paulistano. No entanto está cada vez mais tornando-se uma extensão do Rio e seus problemas. Ainda resta quem adorne seus jardins de flores e luzes, observáveis através de muros baixos.

6O6-20-3

Fiz uma caminhada por Arrozal, a revisitar pontos que não via há três anos. Busquei novos ângulos, tentando encontrar referências perdidas na memória do lugar, como se buscasse seu espírito antigo. A cada lugar, me ausentava do presente e tateava as paredes desbotadas para ouvir histórias que me contavam. Passei frente ao portal da Igreja de São João Baptista e, respeitosamente não entrei com os sapatos sujos de meus preconceitos e descrença. Apenas apontei a câmera do celular para registrar a simplicidade do altar. Quando fui postar a foto, divisei a presença de uma fiel, nos bancos à esquerda. A nave, aparentemente vazia, estava plena da verdadeira comunhão de quem crê e ora…

6O6-20-4

No segundo dia de caminhada, logo cedo, tive a companhia de um jovem cachorro que se juntou a mim quando passei pela praça central. Não era por minha causa, mas pela Bethânia. Vim a descobrir que, mesmo castrada, ela ainda pode liberar o odor que atrai os machos da sua espécie para o acasalamento. Ela estava irritada com o assédio. E o tipo não ousava se aproximar tanto, não apenas por mim, mas também pela rejeição da donzela. Em uma das ruas, me detive uns dez minutos. Observei um belo cavalo que se alimentava do capim do terreno baldio. Ao me aproximar do gradil, Pi (o chamei assim devido ao símbolo que carregava no corpo) também se aproximou de mim. Não demonstrou medo e aceitou meus afagos em sua majestosa cabeça. Em tempo, eu não monto. Certa ocasião, tirei uma foto em cima de um cavalo manso, no qual as crianças subiam como se fosse o meu antigo cavalo de vassoura dos tempos pueris de cowboy. Depois do registro, logo que pude, desapeei. Terminada a troca de olhares e palavras mudas com Pi, voltei à praça, na tentativa de me livrar do acompanhante indesejado. Deu certo. Ao perceber que estava em um lugar com cheiros familiares, ficou a observar por um tempo nos afastarmos, como a decidir se deveria correr atrás de seu amor de verão ou não. Voltou o dorso e se foi.

6O6-20-5

No último domingo de 2019, fomos, Tânia, Romy, Niff (um amigo) e eu, ao Bar Estadão, típico ponto culinário da cidade. Aberto 24 horas por dia, serve ao povo paulistano desde 1968, com movimento assíduo de boêmios, músicos e trabalhadores da noite e do dia – de empresários a empregados, em ambiente democrático. Estacionamos o carro em uma rua próxima e caminhamos através de uma feira livre em pleno Centrão. Estava no final do expediente. A turma da xepa se fazia presente, assim como os que estavam simplesmente atrasados. A aparente discrepância entre as tradicionais barracas de frutas e legumes e o fundo recortado por espigões, apenas acrescentava charme à esta cidade que amo. Mais tarde, subi à Paulista, fechada ao trânsito de carros. As pessoas, fora de seus veículos, carregavam os mesmos erros de bom comportamento na fluidez dos seres. Muitos desconhecem o Princípio da Impenetrabilidade, amparada na chamada Lei de Newton, que ensina que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo”.

6O6-20-6

Em minhas idas e vindas por estradas e caminhos, meu olhar passeia pelos cenários de forma mais rápida que os meus sentimentos possam objetivar. Porém, em suma, percebo crescer em mim um êxtase quase religioso pela Natureza. De horizontes a perder de vista a flores que me perfumam a imaginação; dos pássaros que voam livres na matas e montanhas, aos seres que pisam e rastejam na terra úmida ou dos que evoluem em rios e mares – tudo e todos merecem a minha reverência de coadjuvante que sou em uma jornada na qual estamos todos imersos. Que em 2020, possamos fazer crescer a consciência de unicidade e respeito à vida em todos os seus níveis. Sentimento crescente, principalmente quando parece que há grande interesse em crestar o chão e poluir as águas do planeta.

 

Também andaram por aí…

Darlene Regina — Isabelle Brum — Lucas Buchinger
Mariana Gouveia — Lunna Guedes