Infelizmente, para a minha família, eu não dirijo. Quando eu era um jovem mancebo de 18 anos, dada a minha natureza contestatória, decidi não aprender a dirigir para não parecer com a maioria dos rapazes que alcançavam a maioridade e estabeleciam a direção de um carro como prioridade em sua vida. Aquela era a decisão de alguém que não ligava para a sociedade de consumo, que via a ideia de tornar-se um vagabundo com a seriedade de um projeto de vida.
Com o passar do tempo, e atendendo ao chamado do amor pela mulher, comecei uma família e as minhas convicções foram vencidas pela necessidade de fazer frente às demandas da sociedade, incluindo a de tirar carta de motorista. Tentei três ou quatro vezes, mas por falta de treinamento ou inaptidão para tal tarefa, não passei nas provas práticas. De certa maneira, fiquei aliviado, porque ser mais um condutor que jogaria o seu barco na correnteza turbulenta dos rios de águas cinzentas de asfalto não me agradava nem um pouco. Obter licença para dirigir (ou ser dirigido pelo carro) é uma programação sempre para amanhã que ainda realizarei, nem que seja por teimosia.
Sempre fui um entusiasta do transporte coletivo e não vejo solução mais adequada para quem vive nos grandes centros do que se deslocar por ônibus e trens, entre outras opções, para os locais aos quais precisamos chegar como a residência, o trabalho ou lugar de lazer. Essa alternativa parece não fazer parte da planificação de nossas autoridades públicas. Antes, quase acredito existir um empreendimento de intenso boicote a essa necessidade básica.
Devido à característica egoística de nossos cidadãos, em resposta a piora de nosso trânsito, adquirisse cada vez mais veículos, o que tornará as nossas vias, em conjunto, o principal cenário das maiores tragédias de nossos tempos.
Já fiz um exercício simples com relação ao incremento do número de carros nas ruas de nossas cidades, que é o seguinte — todos, um dia terão um automóvel. Como não haverá lugar para estacioná-los, eles se tornarão a nossa residência. Portanto, a solução seria a de que os veículos ficassem estacionados perto de onde as pessoas trabalham. Observando o crescimento da tendência das pessoas viverem em seus carros, já que dificilmente conseguiriam se deslocar para a sua casa original a tempo de voltar para trabalhar, incorporadoras imobiliárias criariam garagens-residências, ao estilo de campos de trailers. Melhor ainda, os trailers se tornariam a opção mais convidativa para esse mister. Viveríamos sobre rodas, mas devido ao à quantidade de carros, não teríamos para onde ir, encalacrados que estaríamos em um eterno congestionamento para o resto de nossas vidas…
Dulce — doce, em espanhol — era realmente uma presença doce. Pequena, com as patinhas defeituosas, o peito e a barriguinha peladinha, ela não sobreviveria se vivesse livre. Sendo uma calopsita, de origem australiana, não encontraria espaço e clima ideais para viver por aqui. Nós a recebemos novinha e ficou com conosco por pelo menos 13 ou 14 anos.
Discreta, nos últimos anos estava sozinha, sem o companheiro, Horácio, que faleceu inesperadamente. A relação entre eles não era muito harmoniosa ou, pelo menos não era interativa. A gaiola onde ficava, nós a colocávamos para fora de manhã e a recolhíamos à tarde. Quando a temperatura estava mais alta, ficava até mais tarde e, às vezes, até passava a noite fora.
Acredito que ela gostasse de ficar no quintal, já que reclamava quando não a púnhamos em contato com os outros pássaros, as árvores e plantas do quintal, principalmente quando percebia movimento na casa. Ao encontrá-la, ela esticava uma das patinhas e uma das asas, que eu soube se tratar de um ato de satisfação. Normalmente, colocava comidinha no seu potinho, mas quando esquecia, também se fazia ouvir, reclamando.
De vez em quando, a soltávamos dentro de casa. Mas ela não gostava de que a pegássemos, dando picadinhas delicadas, como se protestasse. Vez ou outra, conversava com ela através de assovios, porém nunca consegui me comunicar convenientemente. Era comum, a Bethânia correr em direção à sua gaiola para assustá-la, por pura diversão. Quando a gaiola se esvaziou de sua presença, ela correu, mas parou assim que percebeu a sua ausência. Assim como ao passar no corredor que ela ficava, também a senti.
Ela compunha a nossa paisagem emocional e visual. Tentava me aproximar dela e entender o que ela estaria “pensando”, “sentindo”. Será que a sua solidão seria igual à nossa? Será que sabia estar presa a um espaço restrito ou aquele mundo era suficiente para sua expressão? Já que sempre viveu assim, institivamente sequer “imaginaria” que seus irmãos voassem livres, buscassem o seu próprio alimento, namorassem, procriassem e estavam à mercê de predadores, principalmente os seres humanos? Era feliz ou felicidade é uma quimera tipicamente humana?
Ontem, a Tânia fez um memorial com a gaiola da Dulce. Ela a preencheu com plantas. Acho que é uma linda homenagem à vida. A nossa promessa é que nunca mais teremos pássaros presos em nossa casa, mesmo porque tudo começou em atendimento a um desejo das meninas quando mais novas, que receberam calopsitas de presente. Em nosso jardim, temos pássaros constantemente a nos presentear com seus cantos e voos. Prendê-los para mim é um ato de pura inveja pelas asas que possuem.
“Cheguei em casa do trabalho por volta da meia-noite. Esperei pelo noticiário para tentar entender o que estava acontecendo em nosso País. Corrupção pública e privada, crimes contra as pessoas, instituições falidas. Tentava entender porque a Bolsa, que estava em alta, com o dólar em baixa, no dia anterior, hoje (ontem, amanhã) reverteram as expectativas e os sentidos… Manipulação do mercado financeiro? O povo que se dane?
Dois dos meus sentidos deviam estar me enganando!… Mais e mais, senti o meu corpo afundar no sofá com o peso das informações… Não é caso de desvalidar os veículos de comunicação que as veiculam. Não se trata de matar os mensageiros apenas porque nos dão notícias ruins. Mas sim entender porque nós nos colocamos, como povo, nessa situação sem sentido e, aparentemente, sem uma solução ‘honesta’.
Para qualquer lado que formos, que Deus nos ajude!”
*Neste texto de 2016, se já prefigurava o resultado de um jogo perigoso iniciado dois ou três anos antes em que se estabeleceu a premissa de César, general e imperador romano, milhares de anos antes — dividir para dominar — estimulada por agentes políticos interessados em governar sobre os despojos resultantes. Essa cisão acabou em resultar no atual estado de penúria institucional e ética, somada à uma crise sanitária que nos marcará por gerações ou talvez nem tanto, dada a incapacidade do povo brasileiro de se lembrar sequer o que aconteceu no verão anterior. Isso não é sinal de cura, porém de incúria.
Eu sou maricas! Faço questão de ser, principalmente quando alguém, como o capitão que foi expulso do Exército com desonra, associa o termo a algo ruim. Fui buscar no Dicionário o que significava “maricas”, palavra dita no plural, mesmo que o nomeado seja apenas um homem. Sim, porque necessariamente é relacionado a alguém do sexo masculino que tem um comportamento efeminado. É uma palavra restrita aos contextos informais (ou deveria ser), com sentido pejorativo em todas as suas acepções. Efeminado é usado para menosprezar o sujeito, como se ao revelar toques femininos em sua postura denotasse uma doença moral pelo código da canalhice.
“Maricas” acrescenta em sua descrição: “repleto de covardia e medo; covarde”. Isso contraria tudo o que conheço sobre minha mãe e a grandíssima maioria das mulheres. Tenho certeza que a minha melhor parte herdei de uma mulher: Dona Madalena, minha mãe. As mulheres são a parte forte da sociedade e, certamente, da Biologia. Corajosas como nenhum homem, são responsáveis pela procriação. Socialmente, é muito comum se sentirem sozinhas logo após o parto. Ainda que tenham a ajuda dos machos da espécie, normalmente é delegada elas o cuidado da cria — alimentação, higiene, saúde, aquecimento e carinho. Com honrosas exceções, cada vez maiores, os homens pouco participam desse período inicial, muito importante na formação da pessoa que resultará no desenvolvimento do novo ser.
Múltiplas, quando casadas, além de trabalharem fora de casa para ajudarem no orçamento familiar, as tarefas domésticas igualmente recaem sobre os ombros das companheiras como se fosse preceito irremovível na Tábua da Lei. Comportamento herdado do sistema patriarcal, os homens covardemente se isentam nessas ocasiões. Nas empresas, temerosos de perderem para as mulheres os melhores cargos, continuamente sabotam seus desempenhos e se utilizam do machismo para ganharem mais, ainda que elas exerçam as mesmas funções. Unidos nessas ocasiões, impõem um grande atraso nas relações sociais e empresariais que findam por impedir um melhor desenvolvimento econômico e social para todos nós, como povo e País.
Contanto tivesse o Sr. Ortega durante muito tempo como modelo, algo comum numa relação entre pai e filho, com o passar do tempo fui percebendo o quanto incorporava o seu comportamento machista, incluindo a reprodução de frases que rebaixavam o valor da minha mãe. O amor dela por mim, finalmente me fez ver com clareza que a concepção (surgimento) do macho escroto se dá desde cedo. Por sorte ou natureza pessoal, escapei de objetivar as mulheres como seres de méritos intrinsecamente ligados ao corpo. Sempre as tive como especiais, encantadoras e naturalmente superiores. O que não deixa de ser uma supervalorização, talvez até condescendente. Porém, quando comecei a atravessar a barreira do contato mais íntimo, percebi que são seres complexos, bons ou maus em seus cernes, muitas vezes melhores em muitos aspectos quando querem ser uns ou outros, mas continuamente atraentes para quem não tem medo de encontrar uma inimiga espetacular ou apreciar uma amiga sensacional.
Como nunca me ative a estereótipos e gostava de ajudar a minha mãe em quase tudo nas tarefas caseiras, pude perceber que não há trabalho mais pesado do que manter uma casa funcional e em ordem. Gosto de cozinhar, lavar a louça, limpar a casa, cuidar do jardim e dos bichos. Eu me encanto com a beleza das flores e faço vozinhas diferentes para falar com os peludos. Dona Madalena me estimulou a gostar de ler, de cantar, a dar valor às coisas belas. Ela me recitava poemas, o que me incentivou a escrever. Ela me tornou uma pessoa melhor e um homem melhor. Ou seja, um maricas, com toda a honra!
*Texto de novembro de 2020, quando a quem chamo de Ignominioso proferiu mais uma das declarações demeritórias ao cargo que ocupa, chamando a quem enfrenta a Pandemia de Covid-19 atendendo aos protocolos sanitários — uso de máscaras, distanciamento social — de maricas.
Instado a declarar a minha lista de músicas preferidas ou que atualmente me tocam, não deixei de pensar sobre como muitas vezes, ao montar nossas referências musicais, caminhamos por paisagens que preferimos ver — nesse caso, ouvir — que nos sejam confortáveis. Há temas que nos agridem e, por esses, devemos passar ao largo. A não ser que tenha que fazê-lo por dever de ofício, como é o meu caso, por trabalhar com música. Há ocasiões em que tenho montar playlists com “obras” diametralmente opostas ao meu gosto pessoal. Poderia se supor que por serem normalmente criações atuais e por eu não ser tão novo, esteja desvinculado do cenário musical atual. No entanto, há muitos trabalhos recentes em que se percebe frescor e criatividade, que podem vir a fazer parte de um movimento mais amplo. Muitas delas, se incorporam a outras vertentes artísticas ou vice versa. Algumas outras, se tratam de bons trabalhos isolados, destacados de movimentos geralmente patrocinados pela indústria fonográfica. Coloco à disposição links de músicas que me mobilizam, algumas mais recentes, outras mais antigas. São exemplos do meu gosto musical. Espero que possam igualmente tocar a quem se predispuser a ouvi-las.
Esta canção de Maria Gadú me pegou desprevenido. A minha reação a ela é puramente emocional. Fala sobre perda, ainda que a trate de uma maneira suave e poética. Talvez, diante de um tempo em que perdemos parentes, amigos próximos e distantes, conhecidos e nem tanto — brasileiros de todos os cantos — o tema da menina que tentava entender a ausência da pessoa mais importante da sua vida me tocou profundamente. É claro que a voz da Maria Gadú, delicada e de belíssimo timbre, ajuda a nos envolver. Desde que surgiu, a cantora e compositora produz pérolas da MPB, que espero ouvir por muitos anos.
A partir do final dos anos 80, muitos artistas franceses, a maioria deles de Paris e da vizinha Versalhes, começaram a produzir uma variante de música eletrônica francesa que a crítica internacional chamou de French House e que os franceses chamaram de French Touch. Daft Punk e Air são os representantes mais famosos no Brasil, assim como o Justice, de uma geração posterior. O movimento inspirou pelo menos dois grandes diretores de cinema contemporâneo, Sofia Coppola e Michel Gondry. Aqui, apresento um dos hits que levou o Daft Punk a vencer o Grammy de 2014, trazendo a voz suingada de Pharrel Williams e a guitarra de Nile Rodgers, músico e produtor proveniente do movimento Disco, o que bem caracteriza o trabalho de aglutinar referências de todos os tempos para construir o seu rico repertório. A notícia não tão boa, mas de certa maneira esperada, é que a dupla francesa se separou no começo deste ano.
Marcelo Jeneci é um dos nomes mais promissores da MPB surgidos recentemente. Sua trajetória como músico de estúdio e acompanhante de outros nomes de maior destaque midiático já tem vários anos e quando finalmente seu trabalho foi exposto, percebeu-se a qualidade inegável de sua obra. O vídeo Pra Sonhar, extraído de Feito Para Acabar, seu disco lançado em 2010, mostrado acima, é um dos mais representativos que já vi para divulgação de uma música e que faça jus à bela composição e lindo arranjo como peça representativa de uma visão de vida mais refrescante e positiva da união de pessoas que se amam.
Don McClean chegou a mim por Castles In The Air, canção por qual me apaixonei. Era uma época que eu não tinha recursos para conhecer melhor a sua obra. Com o tempo, soube que a sua carreira, iniciada em meados dos Anos 60, estava ligada ao Folk Music, vertente da qual conhecia Bob Dylan, John Denver e Joan Baez. Produziu outros sucessos como American Pie, Since I Don’t Have You, Love Hurt e Crying. Em Starry, Starry Night, creio ter interpretado muito bem o embate entre a genialidade e o desajuste de alguém como Vicent Van Gogh, sua inadequação pessoal e artística diante do mundo.
O disco Tribalistas estourou em 2002. Gravado pelo trio de compositores e cantores Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, com o seu primeiro disco obtiveram uma imensa vendagem. Quinze anos depois, em 2017, lançaram a segunda obra, também um imenso sucesso. A diferença está na forma da aferição do sucesso, feita pela replicação de visualizações pela Internet, baixa de downloads, além da forma tradicional de CDs. A música Ânima, lançada no segundo Tribalistas, eu diria que me representa cabalmente e resume exemplarmente a minha filosofia de vida.
Ferris Bueller’s Day Off, de 1986, um filme produzido nos Estados Unidos, com direção de John Hughes, apresenta muitas referências da música inglesa ao longo de sua duração. A cena apresentada acima tornou-se uma das mais icônicas da cultura Pop ao unir diversas linguagens artísticas. A música que encadeia a cena é Please, Please, Please, Let Me Get What I Want, do The Smiths, uma das minhas bandas favoritas, inglesa como a The Academy Dreams, que a interpreta. A começar por The Beatles, a pedra fundamental, que também tem uma música no filme, passando por The Clash, Sex Pistols, Simple Minds,Duran, Duran, Culture Club, The Cure, The Police, Depeche Mode, Pet Shop Boys, The Human League, Eurythmics, chegando ao Queen, The RollingsStones, Led Zeplin,New Order (e Joy Division), Black Sabbat, Iron Maiden, Elton John, Eric Clapton, Genesis, Pink Floyd, Supertramp, Yes, Rod Stewart e ao deus David Bowie, entre tantos outros nomes, para ficar apenas nos surgidos de 60 a 90, a Inglaterra soube absorver as diversas influências musicais norte-americanas e devolvê-las mais criativas e interessantes. Podem me acusar de viver um passado congelado, mas essa turma eu ouço até hoje.
Elis Regina faz parte da minha playlist desde sempre. Ela estaria fazendo por estes dias 76 anos de vida. Morreu, mas nunca morrerá. Nesta canção de Belchior, outro compositor que sempre ouço, e que com quem quase vim a trabalhar em um projeto de apresentações em universidades, ela faz uma interpretação com o coração exposto, técnica irrepreensível e voz a serviço da emoção, aliás, característica indissociável de seu estilo vocal. Ouço muitas outras mulheres — Gal Costa, Zizi Possi, Adriana Calcanhoto, Marisa Monte, Marina Lima, Roberta de Sá, Maria Bethânia — além de muitas outras que construíram a tradição de excelência das cantoras brasileiras, como Leny Andrade, Doris Monteiro, Claudette Soares, Sylvia Telles, Astrud Gilberto, Wanda Sá, Nara Leão, Maysa e Elizeth Cardoso.
Nos anos 50, 60 até 70, mais ou menos, além das americanas, as rádios tocavam músicas do mundo todo, especialmente da América Latina, Caribe, como europeias, principalmente latinas — francesas, portuguesas, italianas — mas também de outros culturas. Era uma programação eclética, em que havia espaço para todos os gostos. Com o passar do tempo, a indústria fonográfica foi homogeneizando tantos os lançamentos dos “produtos” musicais, assim como a divulgação começou a atender critérios econômicos. Afinal, custava caro gravar um disco, transformá-lo em sucesso e investir em artistas que trouxessem retorno financeiro. A situação atual mudou muito quanto ao acesso à divulgação, porém parece nunca mais teremos, popularmente, as opções em termos de qualidade e variedade que existia antes. A música italiana foi uma forte influência há 60, 50 anos. Muitos artistas da Jovem Guarda gravaram em italiano ou fizeram versões dos sucessos da Bota. Aqui, os jovens do Il Volo interpretam uma das belas canções dos Anos 60 que embalou a minha meninice e ainda me encanta pelo estilo do bel canto dos cantores italianos tradicionais influenciados pelos tenores.
Eu ouço as músicas do pessoal do Clube da Esquina sempre que posso. Descobri que, estranhamente, o repertório criado por eles é um grande companheiro de passadas em minhas caminhadas. Milton Nascimento, Toninho Horta, Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes, e Márcio Guedes preenchem, entre outros, temáticas que vão de visões da Natureza como participante de histórias de amor a viagens oníricas e com sentidos misteriosos e/ou interpretativos. No texto Coração de Minas, falo dessa minha conexão com as canções desenvolvidas por eles desde os Anos 60 e que até hoje me emocionam.
Queenrÿche talvez possa parecer um ponto fora da curva na playlist até agora apresentada, mas explicarei a razão de colocá-la, mesmo porque gosto muito da banda, principalmente na fase em que Geoff Tate era o vocalista. Quando assisti ao vídeo acima, eu ainda não trabalhava com sonorização. Além da excelência vocal do frontman e categoria dos músicos, fiquei extasiado com a qualidade sonora do show ao vivo, na relação entusiasta, totalmente fora do contexto do que eu considerava como comportamento típico do japonês (que até então eu ouvira falar), além do uso de roupas e adereços que mimetizavam o vestuário hard rock / heavy metal ocidental. Depois, conheci Silent Lucility, Anybody Listening?, I Will Remmember, entre outras, que vez ou outra, surgem em minhas listas.
Genialíssimo, Caetano é nosso! E O Quereres sou eu, em minha apresentação carnal, no mundo visível, material. Também amo Gil. Em Drão, um texto em que falo do meu Guru, realço suas qualidades ímpares. Mas Caetano me contraria e me surpreende. Ao sabê-lo controverso, perdoo a minha própria contradição — O Quereres — que sou. Assim como, durante muito tempo, Djavan me embalou em suas sonoridades verbais e como Arnaldo Antunes me absolveu, já que, adolescente, compunha músicas bastante parecidas com as que faz. A todos eles, não deixo de ouvir nunca…
Como faixa bônus, por que não colocar uma canção em que participei como ator na gravação do clipe? Não por mim, mas por pelo talento do ator e diretor, Weslei Wes Santos, jovem, porém bastante conhecedor dos artifícios da representação e da arte cinematográfica. A equipe que nos acompanhou, igualmente composta por novos valores, como o cinegrafista Pedro Oliveira, tornou tudo mais simples e efetivo. A música é de Marcos Wilder, que bebe de boas referências sonoras para compor uma canção envolvente.