Projeto Fotográfico 6 On 6 / Rotas / Viagem Pelo Olhar E Pelo Tempo*

Rotas são indicativos do caminho que faremos para chegar a algum lugar. Muitas vezes, podemos dizer que as rotas são trajetos que se definem apenas no momento que o percorremos. Aonde chegaremos, mesmo que previamente estudadas e estabelecidas, torna-se um mistério ao seu final ou ainda durante a sua consumação. Normalmente, só o entendemos depois de algum tempo. Outras vezes, permanecem incógnitos os desígnios do senhor do destino. Em um tempo que é incrementada a discussão sobre universos paralelos, tema pelo qual tráfego intimamente há algum tempo, estabeleço a conexão que mais me apraz, enquanto eu tiver os meus sentidos físicos a favor — estabelecer contato com a realidade imaterial de maneira material, pelo olhar. Em 2014, em um dos vários eventos que realizei no Circolo Italiano, registrei com o meu celular de poucos recursos técnicos, imagens de uma pequena exposição. As fotos não ficaram nítidas. Eu me lembro que a luz dispersava de modo estranho sobre a superfície das pequenas esculturas. O que serviu para criar uma ambientação de sonho aos registros fotográficos. Os meus olhos por elas viajaram aos tempos que representam e cumprem a sua chegada neste tempo. As legendas são da época, com poucos acréscimos e modificações. 

Antes de acabar de carregar o equipamento da Ortega Luz & Som, com o qual realizamos o nosso último trabalho, não pude deixar de fazer um registro das pequenas esculturas que estavam no saguão de entrada do Circolo Italiano. Desde que as vi pela primeira vez, a beleza e os temas que evocavam me sensibilizou e fizeram com que eu me identificasse com elas. Como nesta aqui, em que vemos um semeador a esperançar a futura colheita.

Soldado da 1ª Guerra Mundial, a pior que já existiu. Nela, foram usados pela primeira vez aviões como armas, a utilização de gases venenosos dispersados indiscriminadamente, bombas experimentais a matar milhares nas antigas e ineficazes trincheiras, enquanto baionetas ainda serviam como recurso na luta corpo a corpo. Quando mais não fosse possível, as mãos a agarrarem o que servisse para ser usado como arma constituía o último recurso para matar e sobreviver.

A dança sempre fez e sempre fará parte da cultura humana. Dançar é a linguagem mais refinada do corpo. Eu não danço. Nunca me permiti soltar o quadril de minhas amarras. Mas sei amar a quem dança. Em um poema, já ousei dizer à minha personagem bailarina: “eu sou o amor dançando em você”.

Literalmente, um soldadinho de chumbo. Pelo estilo e uniforme, do final do século XIX. Como se vê, sua postura orgulhosa diz muito sobre aquele que ia para a frente de batalha todos prontos para matar… e poucos para morrer. Incutido de confiança, imagino que não lhe passasse pela cabeça que pudesse perder a vida. Talvez, apenas no último segundo, se lhe fosse dada a oportunidade de vislumbrar a passagem rumo ao não-lugar.

Essa figura poderia pertencer a qualquer cultura, tempo e lugar. Não há indicação, mas presumo que esteja preparando o fumo ou a isca, sentado sobre uma pedra junto a um rio. Em minha imaginação, chego a ouvir o barulho d’água que passa a rebater nas margens…

Na antessala do salão de festas, junto a uma bela biblioteca e de estantes de vidro com várias outras peças, sobre uma mesa, temos a Lupa Capitolina, a loba que alimentou os irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, fundadores de Roma, após terem sido abandonados por Reia Sílvia, filha de Enéias. Segundo a lenda, eles foram gerados após um estupro sofrido por ela perpetrado pelo deus da guerra, Marte. Foram criados por um pastor e viveram de saques e assaltos até Remo matar Rômulo em uma disputa para saber onde construiriam a cidade que seria sede de um poder que mudou a face do mundo, pela violência e pela lei.

*Imagens e textos de 2014.

Mariana Gouveia — Lunna Guedes

Canção Do Sonho De Prazer Ou Paixão

Quadro pintado por William-Adolphe Bouguereau em 1884, representando o deus Baco e seus seguidores

Acordo sem sono exausto de tanto sonhar
Lembrei-me de alguns trechos da viagem
Ou eram várias-pequenas viagens 
Tantas que não pude quantificar
Sonhei que era chamado a mais viajar 
Para longe para distantes lugares 
Mas tão próximos quanto um abraço
Podia alcançar 
E vaguei por planetas e casas e pessoas e beijos
Tomei vinho comi pão com azeite e saboreei queijos
No entanto, eram apenas antevisões do que poderia usufruir
Por que recusava cada vez mais veementemente
A aceitar a oferta de prazeres
Perguntavam por que me recusava
Enquanto outros faziam amor
Por amor a amar
Senti que mesmo liberto do mundo em sonho
Algo me prendia a continuar a ser aquele não se arrependia
De estar ligado a oferta de um só amor em aliança
Ao laço de enlace, não algema de prisão
Fidelidade por desejo, entrega por paixão
Enquanto outros se desdobravam em amar
Sonhava e dormia tão profundamente
Porque antes de deitar a cabeça no travesseiro
Já havia me entregado
E entregado o meu coração
Enquanto beijava o seu corpo inteiro…

Puxada De Costas*

Foto de 2015, realizada na Academia Peck & Deck

Em novembro de 2015, fazia dois anos que eu havia completado o bacharelado em Educação Física, curso iniciado tarde na idade (aos 48 anos) em termos comparativos, para aqueles que estipulam períodos certos para começarmos certos processos na vida. Fui bastante incentivado por minha companheira, que dizia que eu estava sofrendo de “síndrome de ninho vazio”, já que as meninas estavam crescidas e cuidando de suas próprias questões. Outra razão é de eventualmente vir a exercer uma profissão alternativa à prestação de serviços na área de eventos, bastante oscilante. O advento da Pandemia veio a corroborar o quanto isso é real.

À época, eu havia recém-iniciado o meu trajeto na Scenarium — Livros Artesanais, finalmente me assumindo como escritor (outra atividade “maldita”), mas mantinha minhas postagens na divulgação da atividade física pela importância e pelos benefícios que me proporcionou. Uma das outras razões para iniciar um curso sobre educação corporal foi o desenvolvimento da Diabetes, uma doença sistêmica que se não for acompanhada de perto, causa graves prejuízos à saúde humana. O estímulo muscular e consequente gastos calóricos auxiliam no equilíbrio da glicemia do diabético.

“Ainda sobre hoje na academia, há coisas que não mudam. Uma delas, é a puxada para as costas. Pode ser em aparelho novo ou velho, o importante é a correta execução, com o peso adequado para o seu estágio. Nada de acelerar o processo. Nada de ultrapassar a carga além da conta, como se fora competir com os fortões da academia. Isso desanima quem está começando e contunde quem está retomando a trajetória. Se o instrutor acha que você tem que sofrer uma paralisia muscular para alcançar algum progresso, desconfie.

A musculação, bem feita e bem dirigida, é uma das melhores atividades físicas para todas as idades, a partir dos 16 anos. Sim, começar antes disso, requer acompanhamento rigoroso, pois o corpo ainda está em desenvolvimento. Obviamente, esse assunto é polêmico, mas sugiro para aqueles que apenas querem ter um corpo saudável, sem que seja atleta de competição, que procure diversificar as várias opções esportivas. Esse procedimento amplia o repertório corporal. Busque a boa saúde, não apenas para buscar uma aparência bonita, mas para que previna o desenvolvimento de doenças físicas e psicológicas.”

*Texto, entre aspas, de 2015.