Rotas são indicativos do caminho que faremos para chegar a algum lugar. Muitas vezes, podemos dizer que as rotas são trajetos que se definem apenas no momento que o percorremos. Aonde chegaremos, mesmo que previamente estudadas e estabelecidas, torna-se um mistério ao seu final ou ainda durante a sua consumação. Normalmente, só o entendemos depois de algum tempo. Outras vezes, permanecem incógnitos os desígnios do senhor do destino. Em um tempo que é incrementada a discussão sobre universos paralelos, tema pelo qual tráfego intimamente há algum tempo, estabeleço a conexão que mais me apraz, enquanto eu tiver os meus sentidos físicos a favor — estabelecer contato com a realidade imaterial de maneira material, pelo olhar. Em 2014, em um dos vários eventos que realizei no Circolo Italiano, registrei com o meu celular de poucos recursos técnicos, imagens de uma pequena exposição. As fotos não ficaram nítidas. Eu me lembro que a luz dispersava de modo estranho sobre a superfície das pequenas esculturas. O que serviu para criar uma ambientação de sonho aos registros fotográficos. Os meus olhos por elas viajaram aos tempos que representam e cumprem a sua chegada neste tempo. As legendas são da época, com poucos acréscimos e modificações.
Antes de acabar de carregar o equipamento da Ortega Luz & Som, com o qual realizamos o nosso último trabalho, não pude deixar de fazer um registro das pequenas esculturas que estavam no saguão de entrada do Circolo Italiano. Desde que as vi pela primeira vez, a beleza e os temas que evocavam me sensibilizou e fizeram com que eu me identificasse com elas. Como nesta aqui, em que vemos um semeador a esperançar a futura colheita.
Soldado da 1ª Guerra Mundial, a pior que já existiu. Nela, foram usados pela primeira vez aviões como armas, a utilização de gases venenosos dispersados indiscriminadamente, bombas experimentais a matar milhares nas antigas e ineficazes trincheiras, enquanto baionetas ainda serviam como recurso na luta corpo a corpo. Quando mais não fosse possível, as mãos a agarrarem o que servisse para ser usado como arma constituía o último recurso para matar e sobreviver.
A dança sempre fez e sempre fará parte da cultura humana. Dançar é a linguagem mais refinada do corpo. Eu não danço. Nunca me permiti soltar o quadril de minhas amarras. Mas sei amar a quem dança. Em um poema, já ousei dizer à minha personagem bailarina: “eu sou o amor dançando em você”.
Literalmente, um soldadinho de chumbo. Pelo estilo e uniforme, do final do século XIX. Como se vê, sua postura orgulhosa diz muito sobre aquele que ia para a frente de batalha todos prontos para matar… e poucos para morrer. Incutido de confiança, imagino que não lhe passasse pela cabeça que pudesse perder a vida. Talvez, apenas no último segundo, se lhe fosse dada a oportunidade de vislumbrar a passagem rumo ao não-lugar.
Essa figura poderia pertencer a qualquer cultura, tempo e lugar. Não há indicação, mas presumo que esteja preparando o fumo ou a isca, sentado sobre uma pedra junto a um rio. Em minha imaginação, chego a ouvir o barulho d’água que passa a rebater nas margens…
Na antessala do salão de festas, junto a uma bela biblioteca e de estantes de vidro com várias outras peças, sobre uma mesa, temos a Lupa Capitolina, a loba que alimentou os irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, fundadores de Roma, após terem sido abandonados por Reia Sílvia, filha de Enéias. Segundo a lenda, eles foram gerados após um estupro sofrido por ela perpetrado pelo deus da guerra, Marte. Foram criados por um pastor e viveram de saques e assaltos até Remo matar Rômulo em uma disputa para saber onde construiriam a cidade que seria sede de um poder que mudou a face do mundo, pela violência e pela lei.
*Imagens e textos de 2014.
Maravilhoso!
Gratidão e carinhos, meu amigo ❤️