*Em 2014, nós, meu irmão e eu saímos cedo para trabalhar pela Ortega Luz & Som. Quando os primeiros raios solares iluminavam o dia, lá estava esse casal de cães ora sentados, ora brincando juntos durante o tempo que estivemos abastecendo os carros para seguirmos viagem. Formavam um lindo casal. Essa cena se espraiou pelo resto do meu dia. E hoje, ao relembrá-la, melhorou a minha manhã. Acabei por perceber que apenas os bons romances resistem à luz do dia…
Categoria: Crônicas
14 / 12 / 2025 / É! Não É?
À partir da chegada da Internet na vida das pessoas, vários parâmetros da vida humana ganharam novas formas de referência. Como é comum acontecer, as várias ferramentas disponíveis através de sua inserção em nossa rotina começaram a ganhar protagonismo. Eu decidi não utilizar, mas é comum que a IA se transforme, para além da linguagem, em uma espécie de realidade paralela aos quais as pessoas aceitem como factível. A frase da imagem acima é de 2017. Eu já especulava sobre as possibilidades e alcance das novas tecnologias, mas o Sr. Corrector (como o chamo) eu deixava atuar porque me dava ideias interessantes à partir dos erros de flexões verbais ou a mudança de palavras que são simples, mas que por causa de um acento, muda todo o contexto do que se quer expressar. Foi graças ao uso das palavras que o ser humano construiu o poder sobre o meio ambiente. Muitas vezes a ponto de prejudicá-lo. Creio que seja pelo uso consciente da palavra que consigamos reverter o processo pelo qual nos encaminhamos para a autodestruição e, conosco, o resto dos habitantes de Gaia. “É e não “E“. “Ser” e não “Ter“. Por meio do uso correto da palavra poderemos mudar o rumo que tomamos em direção ao precipício…
11 / 12 / 2025 / Sobre o Tempo
Quando digo que tento viver um dia de cada vez, muitos poderão argumentar que devemos planejar o Futuro e, por isso, a nossa cabeça não deve ficar totalmente presa ao Presente. Ora, não vejo melhor maneira de estruturar o Futuro do que vivermos o Presente da melhor e completa maneira possível. A cada passo que dermos no bom caminho, agora, nos conduziremos para a melhor chegada, lá adiante. Como o que ocorre conosco nos dias que correm, é consequência direta do nosso Passado. Quando coloco “Presente”, “Passado” e “Futuro” entre aspas o faço porque o “Tempo”, para mim, é relativo. Eu diria até que o “Tempo” não existe, pelo menos da maneira que o estipulamos, medido em números. O que chamamos de “Tempo” diz mais respeito aos efeitos dessa contagem de números sobre a nossa matéria, o que, nesse caso, chega a ter certo fundamento. Porém, relaciono o “Tempo” mais a um estado mental e, dessa maneira, os três ”tempos” se confundem. O nosso ”Passado” apenas nos explica o “Presente” e o nosso “Futuro”, acontece agora.
06 / 12 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Quotes De Livros Lidos
Eu reuni quotes de diferentes livros. Foi uma pesquisa aleatória que se mostrou surpreendentemente uniforme. Versavam sobre os efeitos do preconceito como bandeira ideológica. Desde a ação Nazista na Segunda Guerra Mundial, até os meandros sobre como socialmente influenciou no comportamento de quem sofre por ser quem é — mulheres brancas ou pretas, judias, homens pretos — que usam de subterfúgios para não parecerem revanchistas num sistema que continua a tratar a eles de modo a demonstrar, principalmente no Brasil, que o Escravismo faz parte da formação mental da Nação e causa a desunião social entre privilegiados e aqueles que os servem , tendo o Patriarcado como padrão.
Trecho colhido do livro Kaputt, de Curzio Malaparte, repórter italiano que descreveu diversas passagens da Segunda Guerra que, à época que eu li, me causou uma impressão tão forte que influenciou o meu pensamento quanto à condição humana e os limites aos quais os homens podem chegar na crueldade.
Poema da poeta Kátia Castañeda — Poesia — o grito da Resistência — que versa sobre a desigualdade, ao mesmo tempo que se expõe como um ser em busca de suas emoções mais sutis para além de sua condição de mulher negra.
Trecho da minha novela Senzala. A mulher em questão é uma socialite que foi criada pelo pai para ser o “homem” da família. Poderosa e rica, não se importa de usar as pessoas como bem quer. Tudo se torna mais complexo quando ela se apaixona pelo filho (preto) da cozinheira.
Desde que li Lua De Papel eu o tenho como uma referência de leitura. As suas personagens passei a ver a todo canto de forma seguida. Lunna Guedes soube captar a essência de pessoas que nos circundam com as suas histórias e ilusões.

Trecho do livro Torto Arado, de Itamar Vieira Filho que retrata com primazia a nossa relação viva com o Escravismo como modelo condutor da vida nacional. As relações humanas são perpassadas por esse movimento subterrâneo que marca o comportamento íntimo do brasileiro.
Na Minha Pele, de Lázaro Ramos, descreve a trajetória do autor na busca de sua conscientização quanto a ser um homem preto numa sociedade claramente preconceituosa. Seu movimento demonstra que busca equilibrar suas ideias ao cenário em que um homem preto passeia como se caminhasse em um campo minado.
Claudia Leonardi / Mariana Gouveia / Lunna Guedes / Silvana Lopes
05 / 12 / 2025 / Conversa Entre Nós (O Eu Atual E Do Futuro) Sobre O Passado
” — Obdulio, eu, aqui do Presente pergunto a você, no Futuro: se lembra de como conhecemos a Tânia?
Dois ou três anos antes de nos casarmos, sequer sabíamos de sua existência. Fico imaginando se, depois de tanto tempo, ainda estejamos juntos.
Ela veio com a nossa prima Vanir e outra amiga de Volta Redonda, onde vivia, para fazerem testes de admissão em hospitais de São Paulo. A querida Vanir era filha da branca Tia Ermelinda, com o nosso tio Manoel, preto. Eu sempre achei a história dos dois, incrível — aos 12 anos de idade, ao chegar ao Porto de Santos, vinda da Espanha com a Vó Manuela e nossos outros tios, ela se assustou ao ver o primeiro homem preto de toda a sua vida. Talvez, um estivador. Quando viva, a tia me disse que aquele ser lhe pareceu impressionante.
E como era impressionante o grande Tio Manoel. Não sei se ainda se lembra, mas ele trabalhava na Siderúrgica Nacional e se distinguia pela inteligência, apesar da formação educacional precária. Eu gostava de ficar ao seu lado a ouvir histórias quando visitava aos tios e os primos, todos muitos bonitos e enormes. A prima Vanir me adorava e quando me apresentou à Tânia, se referindo à minha eventual beleza e personalidade, esta revelou mais tarde que chegou a rir por dentro. Aquele sujeito que nós éramos, de cabelos desgrenhados, a usar camisas postas ao contrário e de atitudes um tanto ríspidas… não era bonito e muito menos interessante. Ao vê-la, não me lembro e não sei se você se lembrará — já que a nossa memória é um tanto randômica — de emitir alguma palavra. Talvez tenhamos grunhido algo. Com certeza, aquela magrela com voz de taquara rachada não chamou a nossa atenção. Em maio deste ano, completamos 36 anos de união familiar oficial.”
Foto: arquivo pessoal (2012).








