26 / 02 / 2025 / Deus*

Imagine a possibilidade de que o Universo todo tenha surgido de uma explosão a partir de um ponto infinitesimal, há incontáveis bilhões de anos “antes” a considerar “antes” e “depois” como dois momentos decorrentes desse início do tempo, se fôssemos criar uma linearidade. Sendo assim, todas as “leis” que regeriam a expansão do Universo desde então — formação de massas gasosas, elementos químicos, estrelas, planetas, asteroides, cometas, galáxias, buracos negros, as leis físicas conhecidas e as que ainda a serem descobertas, a Terra, as plantas, os homens e os outros animais, as mulheres (seres especiais), eu, você e toda a complexa história da existência humana no planeta, até a extinção dele e de toda a vida que nele caminha — teriam a mesma origem e comungaríamos da mesma “natureza energética”.

Ou seja, o Universo todo estaria conectado, mesmo que não queiramos aceitar. Se convencionarmos chamar a essa “Energia Una” de “Deus“, estaríamos errados? E se ao longo do desenvolvimento do Universo, a multiplicidade de fatores desencadeados pela força inicial tiver estimulado um processo de autoconsciência, mesmo que originalmente não houvesse tido essa característica, e que essa autoconsciência se tornasse o padrão de reconhecimento de uma espécie de “divindade de ser”, em que as supostas leis arbitrárias que aparentam a violência dos elementos demonstrasse apenas que existe um processo infinito de criação, conservação e destruição, em um ciclo eterno de desenvolvimento que muitos poderiam chamar de evolução? Isso é possível?

Eu acredito que sim, porque creio que se um deus existe, Ele/Ela é o/a deus(a) do possível e se permitiu que eu possa imaginar isso e/ou qualquer outra coisa, Se “apraz” que assim seja. Portanto, até duvidar de sua existência, eu posso. Livre do peso de precisar aceitá-lo(a) como imposição, consigo ter um relacionamento mais aberto com a divindade da vida. De resto, o que eu tenho visto, ao longo da História, é o Homem a criar deuses à sua semelhança e a matar em nome deles…

*Texto que compõe REALidade, livro de crônicas lançado em 2017, pela Scenarium Livros Artesanais

Foto por Yihan Wang em Pexels.com

19 / 02 / 2025 / Peixe-Lua*

Faz um ano que cheguei à Lua
Ou foi a Lua que se achegou a mim…
O que importa foi o encontro deste cosmonauta
com aquele corpo celeste.
Mais próximo e com o tempo,
pude perceber que avaliara errado.
Como Colombo que pensou chegar a um lugar,
aportara em outro.
A Lua não era um suposto satélite,
mas uma estrela,
em torno da qual outros corpos giravam em torno.
Juntos, formavam um cenário novo para mim,
onde me identifiquei como um autóctone.
O extra lunar, então,
passou a se sentir como um peixe n’água —
um PeixeLua!

*Palavras de 2016

06 / 01 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Cult Coffee And Books / Lançamento de REALidade*

No dia *25 de Março de 2017, realizou-se o lançamento de títulos da Scenarium Plural — Livros Artesanais, com a presença de seus escritores e amigos. Usamos as dependências da Ekoa Café, na Vila Madalena. Assim foi porque o café é uma bebida-símbolo dos escritores do selo — coffee always…

Homens machos e a sua editora… — com Lunna Guedes e o poeta Joaquim Antonio.
Aconteceu o meu encontro com a escritora do “Diário Das Coisas Que Não Aconteceram“…
— com Aden Leonardo.
Brinde à Scenarium! — com Lunna Guedes,  Aden Leonardo, Marco Antônio Guedes e Maria Florêncio.
Com Roseli V. Pedroso, querida componente de nosso grupo de amizades plurais.
Família Ortega presente, esposa e filhas — Tânia, Romy, Ingrid e Lívia.
Autografando um dos exemplares de meu primeiro livro pela ScenariumREALidade — de crônicas.

Participam: Lunna Guedes / Roseli V. Pedroso / Claudia LeonardiMariana GouveiaSilvana Lopes

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Quinquilharias

Estou cercado de quinquilharias. Quando jovem, imaginava que viveria à margem da Sociedade, uma vida alternativa em que não precisasse de penduricalhos para me afirmar como pessoa. Eu estaria sempre em trânsito, mochila nas costas, usufruindo da Natureza para sobreviver, trabalhando para me sustentar minimamente. Sonhos de uma noite de verão juvenil. Passadas as décadas, estou atulhado de objetos, muitos supérfluos. Outros, nem tanto. Ao me casar, fui transportado para outra plataforma de vida. As circunstâncias me obrigaram a entrar como colaborador do Sistema.

Para complicar, fui criado por pais que passaram necessidades materiais. Guardavam tudo o que podiam. Principalmente, o meu pai. Graças às suas latinhas de manteiga que abrigavam parafusos pregos, porcas, elásticos e outros utensílios, e pelas quais era fascinado, comecei a escrever, desenhando as letras. Queria saber o significava aqueles desenhos que “enfeitavam” as embalagens. Comecei a reproduzi-las. Ao longo do tempo, o acervo de guardados do meu pai aumentou exponencialmente. Para ajudar, ele se tornou recolhedor de materiais recicláveis. Daí, pude começar a minha própria coleção de quinquilharias. As mais importantes, os livros.

Livro se come? Não, mas a depender do interesse que desperta em mim, eu o devoro. Livro é um item supérfluo em muitos lares brasileiros. Seria uma quinquilharia dispensável. É raro irmos a algum apartamento, por exemplo, e encontrar um cantinho em que haja livros dispostos a ocupar o espaço físico. O que não quer dizer que o morador não possa ter o hábito da leitura. As bibliotecas estão aí para suprir essa demanda.

Um dos motivos para guardar quinquilharias apresenta apelo sentimental. Os objetos expressam, de alguma forma, as lembranças que venha a ter de um determinado fato. No caso do trofeuzinho quebrado – cada vez menor ao longo do tempo – eu o recebi como prêmio num festival escolar de música. Esta envolto a tantos outros objetos, embalagens e dispositivos que larguei por ali até ser finalmente desprezado, como as pilhas que precisam ser dispensadas com segurança para não poluir o meio ambiente.

Eu tenho um quarto que fica fora da casa em que guardo parte do meu equipamento de trabalho e que não uso tão frequentemente, além de ferramentas e peças de uso eventual como pregos, parafusos, fitas, elásticos, lâmpadas e os recicláveis que dispenso para os catadores de recicláveis no dia da passagem do caminhão de lixo. Mas antes de ter uma parede reformada para organizar a bagunça, ela aumentou consideravelmente com o acréscimo de outras coisas, como esses quadros que estão à espera da parede reformada.

Eu tenho certa dificuldade de me desapegar de certas coisas. Uma meia velha e rasgada, a qual gosto muito, deixei a encargo da Tânia dispensá-la. Objetos que fizeram parte da história das crianças, também. A dispensa acontecerá, certamente, mas o exercício do apego é um tanto viciante.

Há objetos que ficam em trânsito, indo de lá para cá e em sentido inverso, igualmente. Vivem em estado “provisório-permanente”. Até que sejam recuperados ou definitivamente colocados fora de nosso alcance. Por um tempo, cumprem a sentença de ostracismo.

Gosto muito desses lagartos fujões! Retirados da parede da sala para reforma, ainda penso vê-los a nos observar largados nos sofás vendo TV. Ou escrevendo ou me vendo a participar dos cursos de literatura da Scenarium etc. Por enquanto, estão descansando em um ponto diferente, longe dos nossos olhos cotidianos.

Participam: Lunna Guedes /  Roseli Pedroso / Claudia Leonardi / Mariana GouveiaSilvana Lopes

Um Pai*

Com a chegada de datas marcadas como importantes — aniversário, por exemplo — passamos por reflexões acerca da passagem do Tempo, lembranças fugidias ou outras, mais palpáveis, porém de certa maneira dolorosas. Em 2014*, escrevi:

“Por poucos anos, tive uma convivência normal com o meu pai. Ele era (é) um homem elegante, com tez amorenada e os olhos puxados, devido a sua ascendência indígena. Eu me pareço mais com o pai dele, o ‘Seu’ Eustáquio Humberto, mas não são poucas as vezes que o vejo em mim, no espelho ou fotografias, e o ouço reproduzido em minha voz. Quando houve a cisão definitiva entre ele e minha mãe, que fisicamente já passou, deixei igualmente de tê-lo mais assiduamente por perto. O Senhor Ortega ainda está presente em meu tempo e espaço e o homenageio, mesmo que de modo torto, mostrando que, um dia, formamos uma família como pai e filho”.

Post Scriptum: Não o imagino me segurando em seu colo muito tempo depois da foto. Ele não afeito a certas formalidades e certamente não se mostrava carinhoso. Na minha memória, no entanto, ele era o meu herói. Essas contradições se pacificaram na tremenda objeção ao seu comportamento que acabei por usá-lo como a um exemplo não ser seguido. O meu pai faleceu há alguns anos… cinco anos, talvez. Não foi marcante como deveria, a não ser pelo fato de que, prestes a entregar um projeto para a Scenarium Livros ArtesanaisRUA 2 — sequei. Posteriormente, consegui desenvolver o livro de contos curtos, mas o tema recorrente foi a morte.