06 / 03 / 2025 / BEDA / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Ao Cair Da Tarde

A amante
da Luz recebe em seu corpo
os oblíquos raios solares
desta manhã outonal…
Ela ama o calor que aquece
mas não queima…

Que preenche os seus lábios,
cabelos
e olhos
de amor luminar,
a escorrer por seu colo
até o peito
e umbigo…

A amante
da Luz vive, também,
o Outono de sua vida…
Já foi Primavera,
já foi Verão
Os seus olhos já viram
muito mais do que verão…

A amante da Luz sabe,
e, mais do que isso,
deseja,
não ver chegar do Inverno,
a escuridão…

Outros tons de cores…
Outros ângulos da luz solar…
Entre as nuvens e a poluição,
poemas visuais se fundem
e se dissolvem
diante de nosso olhar…

Algo de muito perturbador existe em mim
Que prefere um céu nublado a azulado
As nuvens me trazem a ilusão de festim
Enquanto limpo, parece de tempo fechado…

Ao cair da tarde
antes à tarde do que nunca,
também é tempo de encontros
e reencontros.
Mesmo que não falte alguém a nos esperar,
voltamos à solidão de sermos sós…

O Sol é uma usina de energia e calor
nos entrega vida e suporte
mesmo que esteja invisível
há quem não o suporte
como se fosse nos dado a escolher
sua existência ilumina a dor
e o prazer de viver.

meio do mato ilha de civilização
meu encontro ímpar
e impermanente com a água
olhei à direita descia a neblina
dentro do líquido líquido que sou mudo
permaneço sendo aquele que se sente
um com o todo percebo que faço
parte de tudo…

Participam: Claudia Leonardi / Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Silvana Lopes 

APAIXONADA

ela é uma mulher apaixonada pela vida
e se apresenta apaixonada por mim
mas não sou toda a sua vida
e nem quero que seja
quero acrescentar não completar
duvido de mim eu não me sinto suficiente
ciente que estou de meus vazios
minhas faltas minhas incompletudes
mas com ela me sinto bem quase outro
esse outro é bem melhor
chego a sentir ciúme dele…
ainda que seja eu em pele
carne osso pensamentos perfil
estrada calçamento meio fio
do caminho que desejo trilhar
ainda que seja no meu terço final
quero alcançar o arco-íris
multicolorido feito casario colonial
navegar com os olhos pelas águas
da veneza tropical
submergir na cultura do lugar
meu coração ao compasso pulsante
em pífanos cantos violas enluaradas
maracatu caboclinhos coco-de-roda
ciranda samba afoxé frevo
caminhar por boa viagem
reconhecer a mim o que ama amante
aquele que se atreve a ser
e ao tê-la em meu braços
me ter…





#Blogvember / O Limbo

conscientemente
sigo pelo caminho torto
cansado de enfrentar tanta gente de bem
vou seguindo a chuva que renova os meus passos
raios e trovões me animam a continuar
enceto em sentido da luz ofuscante
do rugido do ar rasgado pelo chicote
“em delírio me transporto ao limbo”
chegada a borda do universo
declamo canções de gil e caetano
teço loas à santa arte profana
permaneço em êxtase fora do eixo
enquanto sofro da dor do prazer
dualidade unida em um único sentir
me esfacelo em tiras sanguinolentas
cor de vermelho fogo
o calor transporte para o deserto
sem oásis me aprofundo na direção do cinza
de minha vida anódina em extinção
sem tempo nenhum a não ser passado
revivido ad eternum
elejo a minha sina muito melhor a escuridão
dos cegos ignorantes insensíveis dos absortos em si
radicalizo a minha opção pela morte
bem vinda amiga amada amante de toda a vida…

Imagem representando a selva escura do Inferno (Divina Comédia), de Dante Alighieri, Canto I

Participam: Suzana Martins / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes

Amanteamigo

Estou consigo e você, comigo
Estou na sua vida porque sou
Aquele a quem sempre buscou
Sou seu amante e seu amigo

Tenho o Sol por testemunha
O mesmo astro que iluminou
E o primeiro homem avivou
Amor por inteiro, do cabelo à unha

Vem a tarde, vai o Sol, chega a Lua
Se aproxima a hora de dividir
Corpo e alma, o mesmo rir
O mesmo ar, a paixão mútua

Que se consuma o fogo, enfim
Que renasce com a luz da manhã
Todos os dias, com a força irmã
Da criação do mundo e do seu fim.

Descaminhos Comuns

Uma incomum quer para si um homem comum para amar.
Um que não destoe dos comuns da comunidade.
Para ela, o regular é bom  ̶
confiável, confortável, controlável.

Um incomum a ama, mas é indomável,
ciente de si, sem o senso
dos comuns anos pensos,
sua vaidade é incontornável.

De certa maneira, o incomum não sabe
onde termina a vacuidade
e onde começa a necessidade
de ser invulgar, sem se julgar.

O incomum vaga de lada a lado,
comumente a demonstrar sua raridade.
Se considera ser mais do que um.
Se sente especial  ̶  algo tão comum…

Quer ser querido por extrapolar
a si mesmo, a ultrajar o usual.
Quer ser reconhecido por ser ele  ̶
o bom demais a bem querer.

Descaminhos do desejo e do afeto,
Ainda que a amante deseje o incomum,
almeja um amor simples, porém raro,
simples e desmedido, sem anteparo.

Entre a força da paixão inútil, mas vital
e a estabilidade da prática calma e cândida,
ela decide pela sensatez da paz,
que a paixão revira e volteia,
torna a vida incapaz
e desnorteia.