02 / 05 / 2025 / Só, Mas Acompanhado

caminho só mas acompanhado
circunspecto
quem bem eu quero não está por perto
sei que ela pensa em mim
assim como penso nela sim
em nossos encontros esporádicos
erráticos
arrancados feito saborosas goiabas no pé
aos quais nós comemos até o caroço
deixamos os lençóis em alvoroço
passeamos sem culpa por avenidas e ruas
baixo a sóis e além de luas
quase alcançadas mas nunca vivenciadas
quem sabe um dia?
enquanto isso nos servimos de ambrosia
para mitigar da distância as dores
para nos alimentarmos de sabores
saudosos de beijos e ventanias
que nos abatem por onde formos
porque somos o que somos
a soma de desejo e paixão
e bem querer em demasia
em cortejo de procissão
adoradores do coração
caminhantes e amantes
se quero uma vida alternativa a que tenho
vou em frente não me detenho
sonho e componho
na ausência do toque de sua boca
um poema que me acompanhe…

Foto por Vika Kirillova em Pexels.com

12 / 01 / 2025 / Encontro Calado

voltei a encontrá-la
estava entre amigos
ainda que não quisesse
beijei o seu rosto abaixo a luz difusa
de seus olhos de entornos vincados
visíveis apesar da maquiagem
exprimiu um sorriso sem dentes
eu invadira o seu espaço de forma brutal
sabia que a incomodava
com o meu cheiro de antigo amante
o qual fazia questão que mantivesse
sem perfume fantasia industrializado
gostava de cheirar meu pelos
beijar a minha boca de língua intrusa
que descia por pescoço colo mamas pequenas
umbigo perfeito
e triângulo das bermudas
coxas joelhos e pés
que expunha o seu coração de joelhos
costas musculosas ombros que segurava
meu mundo de homem
foi um encontro calado sequer um “tudo bem?”
mas o rumor que ainda percorre por minhas veias
de lembranças alardeia que nunca a esquecerei…

Foto por Cameron Casey em Pexels.com

A Engolidora De Mim

manhã de amena insolação café na mesa
pão crocante manteiga sem sal creme de ricota mel cereja
mamão uva geleia de morango chocolate e surpresa
com toda a delicadeza você se esgueira entre os pés
do tabernáculo sagrado da refeição matinal
abaixo da elevação ouvimos o som da água
descendo em correnteza que se choca entre as pedras
retumbante em dança música da natureza de ser
livre presente em se desfazer e se reagrupar
em poças filetes remansos limpos rebeldes
aproveita que estou apenas de calção
retira a proteção fico exposto à sua adoração
eu que já adivinhava a sua intenção
já sentia intumescer aquele que pensa por si só
e você ama que ele responda mesmo depois de tantos anos
a sua boca o beija passeia a língua por onde deseja o possui
estamos ao sul de qualquer norte a luz solar a invadir
a nossa intimidade fluida inocente sem mancha
enquanto reza busca a profundeza de si geme eu urro
sem testemunhas de tamanha beleza quase choro
não é pelo gozo não é pelo prazer não é pelo vazio que me preenche
não é pelo abandono à consciência de que sou um com o todo
com a sua entrega me tem sob seu controle
apenas consigo entender que sou possuído
enquanto me sinto liquefeito mole
passeio por outros mundos vívidos
me energizo me perco me integro me entrego
enquanto você me engole…
me deixa exangue me arranca um sorriso
quando agradece: “obrigada pelo gole!”…

#Blogvember / Oposição

O toque suave dos teus lábios adormece em minha boca (Suzana Martins)

quando já não sabemos se anoitece
ou se amanhece
quando não sabemos se temos o céu sobre
ou sob as nossas cabeças
ou quando nada disso importa
já que em algum lugar deste planeta
uma parte dos seres 
estará inevitavelmente em posição
oposta em relação à outra
mas o que eu mais queria era opormos
nossos corpos mãos a tatear nossas peles
adivinharmos no escuro nossas posições
pés sem chão no horizontal
em ponta cabeça em frenética busca do centro
do prazer abaixo do plexo de cada um
após o lusco-fusco no horizonte
de nossos sonhos acordados
enquanto o toque suave dos seus lábios
adormece em minha boca…

Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes

#Blogvember / Morte Saborosa

— minha língua sente o teu sabor e a sensação de fome se amplia (Mariana Gouveia)

Foto por mododeolhar em Pexels.com

calor infernal
gotejo de graça
lambuzo de suor a quem toco
sinto sede e minha língua sente o seu sabor
e a sensação de fome se amplia
desejo de bocas e becos
o ventilador do teto
espalha o ar quente pelo quarto
enquanto nossos corpos se incendeiam
como queimadas na amazônia
texturas próximas horas quebradas
entradas fendidas exploradas
líquidos se vaporizam se esvaem
para lençóis e peles
pelos unidos em tranças emaranhadas
línguas se digladiam para encontrar
a vencedora na peleja que terminará
em morte saborosa momentânea
até que o desejo volte avançar
sobre a secura do mundo inundado
de nosso amor…

Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes