Projeto Fotográfico 6 On 6 / Bonapetito

Nos primórdios de sua existência, os grupamentos humanos colhedores, pescadores e caçadores – encontraram, com a ajuda do fogo e temperos descobertos aqui e ali, maneiras de dar sabor aos seus alimentos. Com o desenvolvimento das civilizações, impérios surgiram e desapareceram baixo os mecanismos da oferta alimentar através da produção ou o controle de territórios que a produziam. A espécie humana cruzou oceanos em busca de especiarias e terras para a agricultura de grãos, legumes e frutas, inaugurando a globalização. Além de sustentar o indivíduo,  o alimento carrega vários outros significados. Em torno dele, as famílias se congregam. Agradecer a comida sobre a mesa tem caído cada vez mais em desuso, porém reverenciar o alimento que nos sustenta pode ser feito sem alarde – uma homenagem a quem trabalha para fornecê-lo e até ao próprio alimento, de origem animal ou vegetal.

Bonapetito (6)

Minha mãe, em época de restrições, complementava minhas mamadeiras de leite com café. Até os seis ou sete anos, usei mamadeira de manhã. Continuaria usando mais tempo, se o querido objeto não tivesse sumido. Ficou o gosto-vício pelo café. Não prescindo de tomá-lo, ainda que acorde tarde, quase na hora do almoço. O que ocorre frequentemente devido às minhas atividades profissionais. Hoje, tomar café virou motivo para encontros sinônimo de prazer dividido por amantes da bebida, como eu. ‘Bora tomar café?

Bonapetito (7)

Às terças, faço a feira da semana com muito prazer. Gosto de apreciar as cores, os cheiros dos legumes, temperos, grãos e frutas. Gosto de ouvir os pregões, sempre criativos, entre outros tantos reprisados, mas sempre engraçados. A festa dos sentidos sempre termina com o tradicional pastel de feira. Um caldo de cana é um complemento doce-ideal desse tradicional petisco. Difícil de dispensar, não deve se considerar um paulistano típico quem não passou por esse rito de passagem.

Bonapetito (4)

Quando a falta de tempo nos impede de prepararmos um almoço ou jantar mais completo, um sanduíche vem sempre a calhar. A depender dos ingredientes, a qualidade alimentar, além da rapidez são fatores que compensam sua feitura. Neste, de pão de forma integral, com atum, alface, filetes de cenoura, beterraba e maionese, além de bonito, estava bastante saboroso.

Bonapetito

Não há como dispensar um tradicional arroz e feijão, mesmo quando estou fora de casa. É o meu prato favorito. Nesta imagem, como acompanhamento, além de farinha de mandioca, banana nanica à milanesa, abadejo, mandioca frita e legumes com maionese. Como sobremesa, sagu feito com vinho, romeu e julieta (queijo e goiabada) doce de banana e pudim de coco diets.

Bonapetito (8)

As minhas filhas me apresentaram a comida japonesa há alguns anos. Por puro preconceito, a evitei por outros tantos. Foi paixão à primeira palitada! Comecei a empunhar os hashis com habilidade insuspeita. Ainda não sei, como elas, os diversos tipos dos sashis, sashimis, as variedades de temakis, guiosas e lámens. Além das variações encontradas em cada casa de comida japonesa. Esta semana, mesmo, pedimos para o jantar.

Bonapetito (3)

Não só de alimentos que colocamos garganta adentro nos carrega de energia. Vistas, sensações físicas proporcionadas pela brisa vinda do oceano ou a água do mar na pele. Os pés na areia, o barulho das ondas a quebrar na praia, o horizonte infinito, a luz do sol a transpassar por barcos, banhistas e pássaros compõem um prato delicioso. Água de coco para refrescar…

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Alê Helga— Darlene Regina — Lunna Guedes
Isabelle Brum — Mariana Gouveia

BEDA / Nomes Compostos Por Ex-Amores

 
(O nome citado foi mudado, para preservar a sua identidade)

O domingo acabou por findar… No entanto, foi pela manhã de ontem que participei, como expectador, de um diálogo que me chamou a atenção e repercutiu em minha mente pelo resto do dia. Eu e meu irmão, depois de recolhermos o equipamento de nosso terceiro evento, sendo um deles em dois turnos, fomos à padaria em frente ao salão do clube para tomarmos o café que nos garantiria o aumento de nossa atenção depois de 48 horas diretas de trabalho.
 
O efeito do café talvez não tenha sido tão efetivo quanto a história de um nome dado á filha de uma das funcionárias da “padoca”. Logo que cheguei ao local, eu a vi detrás do balcão a conversar animadamente com outros frequentadores. Sua voz era firme e seu vocabulário, simples. Usava o cabelo curto, muito branco, que a fazia uma figura interessante, ainda mais acompanhada por seus olhos claros. Devia ter por volta de 50 anos. Ela e suas companheiras citavam vários nomes dos quais gostavam. Um deles, “Maria”, chegou-se ao acordo de que se tratava de um nome bonito, apesar de comum. O que eu concordei de pronto, silenciosamente, enquanto via, sem ouvir, o Padre Marcelo na missa transmitida pela televisão.
 
A balconista disse que o nome da filha dela era Maria… Maria José. Explicou que, descoberto o sexo do bebê, o seu marido escolheu o nome Maria para dar à sua filha, no que ela assentiu prontamente. No final da gravidez, ele deixou escapar que era uma homenagem a uma namorada da qual gostou muito… Confidenciou às amigas que ficou bastante chateada, mas não o demonstrou para o companheiro. Quando nasceu a menina, no registro feito no hospital, acrescentou “José” para compô-lo… E completou que aquele era o nome de seu “ex-futuro marido”, o qual amou muito na juventude. Parece que o pai de Maria José não sabe desse pormenor até hoje… Estranho que, mesmo sem conhecê-lo, eu e outros tantos acabamos por saber…
 
Antes que suas interlocutoras se despedissem, concluiu: “Enquanto ele achava que estivesse indo com o milho, eu já estava contando o dinheiro da venda do fubá que moí antes. Se ele tem o prazer de chamar o nome da filha que ama pelo nome da mulher que amou, ela carrega, ao mesmo tempo, o nome do homem que amei”…

Fellini, Scenarium E Ação

Fellini I
Thais Barbeiro Lopes declama poema de Virginia Finzetto, com acompanhamento da gaita de Felipe Reis.

Há dois anos, na noite de 11 de Julho de 2017, estive com Fellini, assim como Fellini sempre esteve comigo desde que conheci o seu sonho, que passou a fazer parte de meu sonho de viver, com as imagens-poemas-movimentos que produziu. A Lunna, que bem poderia ser uma das suas personagens, dada à sua singularidade e história, fez muito bem reunir autores, amigos e leitores da Scenarium Plural Livros Artesanais, naquele lugar evocativo da sétima arte para o lançamento da coletânea de poemas Coletivo (2017), que reuniu dez autores a tecer linhas e palavras sobre temas variados – o Medo, de Aden; os Caminhos, de Adriana; a Pele, de Caetano; os Pedaços, de Chris; o Silêncio, de Ingrid; os Gestos, de Marcelo; as Memórias, de Maria; a Boca, de Mariana; a minha Tristeza e o Dilúvio, de Virginia.

Fellini II
Espectadores e autores ilustres – Ester Fridman e Maria Vitoria. 

Nas colunas da Revista Plural Inéditos & Dispersos, comparecemos, eu e outros autores da Scenarium, com crônicas, resenhas, poemas, contos, ensaios e críticas. A poesia de Ana Cristina César surgiu como mote propulsor e a inspirar pareceres, impressões, movimentos escritos na tarefa sublime de reconhecê-la como uma das grandes, ainda que não vislumbrada por muitos.

Fellini III
O ator Felipe Reis, que declamou um dos meus poemas – Tristeza Mortal.

 

Borges, Osmar Lins, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Antônio Cândido, Otávio Paz, Charles Chaplin e Susan Sontag surgiram dentre as folhas a realizarem ponteios de violeiros em lírica canção textualizada em papel. Os escritos se desdobraram – Aden Leonardo, Tríccia Araújo, Mariana Gouveia, Rita Paschoalin, Daniel Velloso e Renato Essenfelder polinizam suas páginas brancas de tinta negra com intenções de sangue vivo.

Fellini VI
Amigos que compareceram ao lançamento de mais mais uma obra da Scenarium Plural Livros Artesanais. Lá, descobrimos o talento de K-N, engraxate nas horas vazias.

Adriana Aneli, intervieram com a sua sensibilidade, a incluir uma resenha sobre meu livro de crônicas – REALidade – em que ela revelou um escritor muito melhor do que sou, muito pelo talento da escritora natural que é. Pudemos igualmente ler uma reveladora resenha sobre “Oliveira Blues”, de Akira Yamasaki, realizada por Caetano Lagrasta Neto.

Fellini VII
Os últimos… — com Lunna GuedesMariana Hein eMarco Antonio Guedes 

Descobrimos em Ester Fridman – filósofa e astróloga – também uma belíssima ensaísta. Pudemos ler Uma Carta Ao Nelson, por Luciana Nepomuceno. Os poemas de Andrea Mascarenhas, Simone Teodoro, Marcelo Moro, Manogon. Que veio a retornar como Manoel Gonçalves e aduziu às palavras de Tatiana KielbermanThelma RamalhoJoaquim Antonio, Virginia M Finzetto, Roseli V. Pedroso, Emerson Braga e minhas sobre o desdobramento escritor/leitor – o eterno enigma do espelho.

Fellini VIII
Entre cafés e outras bebidas, Federico Fellini esteve presente com o seu olhar de diretor da cena. Adorei o nome original do recanto na nota – Café E Letras Bomboniere

Ao final, tanta energia e beleza se fez presente sob o signo e o olhar da Lunna Guedes, escudada por Marco Antonio Guedes, como a nos conduzir pela noite que é viver, já que quase nunca reconhecemos muito além da escuridão próxima que nos rodeia, mas com ela ousamos caminhar para além dela. Sem a luz da Lunna, nada disso teria sido possível. Rendi as minhas homenagens à La Signora Della Notte por esse projeto incrível, que é embalado pela Família Scenarium Plural Livros Artesanais, unida pelas palavras e o desejo de ser plural.

Fellini XIX
Ao sairmos, eu, Marco e La Signora Della Notte, lá estava ela para se despedir, junto às estrelas de fantasia pintadas na parede.

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Urban Art / Arte Na Pólis

 

a5 - trem (4)
Grafite em Campinas

É comum ouvirmos notícias de descobertas de afrescos em paredes de ruínas nas cidades históricas da Europa, como Pompéia, por exemplo – “congelada” no tempo pelo fogo, cinza vulcânica e lava do Vesúvio – em 79 D.C. Nesses afrescos, temos provas figurativas da vida intensa da cidade, interrompida e, no entanto eternizada-petrificada para sempre. Se acontecesse uma hecatombe que paralisasse nossas cidades num átimo, que histórias poderiam ser contadas pelos arqueólogos do Futuro através de nossa arte urbana? Seria tão rica em significados quanto apresenta a cidade italiana? A vontade de fazer de arte, ainda que com função utilitária, é um dos mais fortes pendores humanos. A vida real não basta. Desejamos recriá-la de diversas formas. A “pulsão” pela expressão é uma das características que nos distingue das outras espécies animais. As pinturas rupestres de quase quarenta mil anos são provas cabais disso.

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Estação Júlio Prestes

Eu acho incrível quando são criados espaços para expressões artísticas à partir de outros construídos para propósitos diferentes. Na imagem acima, à direita observa-se a torre da Estação Júlio Prestes, projetada para servir ao embarque e desembarque de passageiros de trens, em uma época que as estações ferroviárias equivaliam aos aeroportos atuais. Atualmente, boa parte do edifício é ocupado por uma maravilhosa estrutura para concertos de música clássica, com uma sala (São Paulo) que apresenta uma das melhores acústicas do mundo. Na imagem seguinte, a parede de um de seus grandes halls, que apresenta um belo vitral – arte à serviço do utilitário – a exprimir a sensibilidade de seres para os quais não basta a praticidade de deixar passar a claridade externa. Haverá sempre o desejo de requalificar a luz…

a3 - cavalo rampante
Cavalo Rampante

A imagem acima é a do Cavalo Rampante, escultura do artista italiano Pericle Fazzini. Doada pelo Governo Italiano em 1974, fica em frente ao Edifício Itália, cujo o nome oficial é Circolo Italiano. A própria edificação, de linhas circulares, é uma obra de arte arquitetônica. Situada na esquina da Avenida Ipiranga e São Luiz, diante da Praça da República, perto do Copan, compõe um conjunto arquitetônico simbólico do poder econômico de uma cidade que se projetava como a capital financeira do País no Pós-Guerra. Naquela ocasião, formavam o chamado Centro Novo, hoje conhecido como Centro Velho ou Centrão, a referendar o quanto esta cidade devora a si mesmo.

a11 - espelhos
Linguagem dos espelhos

O centro da cidade foi se deslocando gradativamente para a região da Avenida Paulista, principalmente à partir dos Anos 70. Na antiga passarela de carroças puxadas a cavalo do início do Século XX, de grandes casarões pertencentes aos Barões de Café, depois demolidos, surgiram altas torres de aço e vidro, que tomaram conta do cenário. É comum esses edifícios se olharem frente a frente, dialogando em uma língua espelhar que transforma seu significado a cada olhar e posicionamento, tal qual na arte cinética.

a8 - michaels
Os Michaels

A arte urbana não se manifesta somente através das artes plásticas, mas também por meio de outras expressões – dança, música e teatro – em todas as horas do dia, principalmente aos finais de semana. São Paulo revela seus personagens-atores-bailarinos-cantores a cada esquina ou calçadão. O público passante homenageia os artistas doando seu tempo – o bem mais precioso do paulistano – que está sempre na correria desenfreada na busca de sua sobrevivência. A contrapartida em dinheiro será sempre vinda para aqueles que se expõem ao olhar crítico dos consumidores de cultura.

a7 - ctn
Trio de Forró

Na região do Limão, encontra-se um espaço destinado a shows e outras manifestações artísticas típicas do Nordeste – culinária, artesanato e música – bastante frequentado por parte da população bastante influente no crescimento de São Paulo, através de sua cultura e força de trabalho – o Centro de Tradições Nordestinas. Junto à entrada, foi erguido um conjunto de esculturas homenageando o artesanato típico nordestino, ao mesmo que se refere a formação típica do Trio de Forró – músicos com acordeão, zabumba e triângulo. Creio que a influência do povo nordestino seja pouco mencionada, mas é de suma importância de várias maneiras, principalmente no aspecto humano. São Paulo detém a maior população nordestina fora do Nordeste. Não duvide se descobrir que os melhores sushimen ou pizzaiolos sejam nordestinos, por exemplo.

 

Participam dessa interação:

Maria Vitória | Mariana Gouveia | Lunna Guedes

 

 

 

 

 

BEDA | Antes Do Salto No Precipício

Rua 2 e Corredores
Lançamentos Scenarium

Sempre quis saltar. Apenas não sabia que caminho tomar para chegar à borda. Escolhi escrever. Decidi me expor aos olhos dos possíveis leitores. Estar sob crivo alheio, além de si próprio. Não é um exercício agradável. Mas para quem quer se jogar, todas as consequências são dolorosas, apesar de aguardadas. Ser publicado é o salto. E há sempre gente disposta a ajudá-lo dar o passo sem chão. Um dia antes do lançamento de Rua 2, repasso mentalmente suas histórias em minha cabeça.  Procuro não ter expectativas.

Sobrevivente de um primeiro salto, em “REALidade”, deveria estar preparado para um segundo. Nunca se estará. Outro projeto, outra vertigem. Quase certeza de que não se alcançará êxito em concluí-lo. Dúvidas sobre tudo. Sobretudo, incertezas, muitas. Salto no escuro. Para saltar no precipício, há um trabalho em equipe. Sem o que, o espaço, além de vazio, será sem sentido. Ouso dizer que é um trabalho realizado por muitas mãos, até chegar às mãos definitivas.

O livro, materializado, é a precipitação pensada. Vácuo vital. Chuva no deserto. Tinta seca a fecundar o papel branco. Palavras a ventar pelas mentes que as acolhem. De alguma forma, aconteço pelas páginas em sequência, em números embaralhados. Chegar ao coração vivo, matando e morrendo. Suportar todas as contradições, sendo coerentemente contraditório. Confuso, com fuso e difuso.

Hoje, logo mais, Rua 2 e outros projetos da Scenarium Plural – Livros Artesanais, estarão disponíveis para serem apreciados por leitores e amigos. Mariana Gouveia, caminha junto comigo através de “corredores, codinome: loucura”. O projeto “Sete Luas” nos ilumina com a participação de autoras do selo. A Revista Plural – “Clandestina” – porque escrever não deixa ser um ato quase ilegal. Todos convidados para testemunharem saltos no precipício. Regado a café e abraços. Dor em nos revelarmos. Prazer em recebermos e sermos recebidos.

Participam do BEDA:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari