#Blogvember / Carta Ao Amor Ideal

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Amor Ideal, como vai?

Deve saber que há muitos que o procuram em vão, não?

Onde se esconde?

Tenho por mim que, de tão perfeito, passe despercebido em forma de cumulus nimbus que interdita a luz do Sol apenas para refrescar o calor.

No voo da abelha em direção à flor, na lambida do cão amigo, na mão que se estende para agarrar a acrobata sei que se exibe.

Ou passa disfarçado como uma simples sardinha num grande cardume do Atlântico.

Com certeza, morou por um instante nos olhos verdes da moça triste.

Dever caminhar em grupo de pinguins que se juntam para enfrentar a tempestade de neve.

Estou quase certo de que o vi de relance no arabesque preciso da bailarina.

Tenho por mim que esteja no beijo de boa noite de uma mãe em seu filho… também. Mas não apenas.

Sei que está no gesto de carinho do namorado no cabelo da amada, ainda que se restrinja a existir em tempo escasso, diante do cotidiano de dissabores.

Amor Ideal, sou dos poucos que desacredita em sua existência sempiterna.

Todos o desejam eterno, mas somos mortais e nossos desejos urgentes, sem compromisso com o que é permanente.

Está nas ondas do mar que se quebram em ruídos d’água espumosos. No entendimento de seu fluxo e refluxo.

Está no quarto 102 de um hotel barato do centro em que os amantes se bastam por tempo determinado.

Caminha nos primeiros passos claudicantes da criança que meses antes nadava na barriga materna.

Outro dia, eu o encontrei numa palavra singela, mas que me fez perceber a sua eternidade – “é”.

Eu me surpreenderia se eu o encontrasse por aí, como quem o procura com insistência.

Assim como a Felicidade, deve estar em momentos de descuido da sensibilidade e no cuidado de quem acredita…

Foto por Pixabay em Pexels.com

Participam: Suzana Martins / Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia

BEDA / Corpo Matutino

Noite de calor, manhã morna
Dormimos sem tirarmos os nossos fluidos
Os seus do meu, os meus do seu corpo
Acordo para a labuta
E antes de sair percorro os meus olhos
Pela pele que lhe recobre
Tento compreender a magia que faz
Com que me traga tantos e imensos prazeres
Mesmo depois de tantos anos a percorrê-la
Com a minha boca, mãos e pontas dos dedos
A penetrá-la com a minha impetuosidade
Saio do quarto sem beijá-la, sem tocá-la
Quase fujo
Para cumprir os compromissos do dia…

Foto por Angela Roma em Pexels.com

Participam do BEDA: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Darlene Regina / Mariana Gouveia / Suzana Martins

BEDA / Reflexos Do Tempo

Enquanto caminhava para o prédio em que trabalhava, o homem muito sério viu ou imaginou ver, do outro lado da rua, uma imagem que o fez viajar no tempo. Aquela era uma manhã de inverno, porém ensolarada, em que a luz incidia inclinada por entre os transeuntes, atravessando-os, como o vento o faria, lambendo-os com o seu calor tépido. Essa luz encontrou o seu lugar nos cabelos da mulher que um dia ele amou, ou que um dia pensou amar, ou não seria aquela a moça que amou e imaginou que fosse, mas a sensação que trazia aquela visão, o precipitou para vinte e cinco antes, quando não era tão sério, mas apenas tímido o suficiente para nunca declarar que a amava. Porque percebeu exatamente naquele instante fugidio, que ele, sim, a amou profundamente, tanto que nunca quis se entregar a esse amor, que covardemente imaginou que desmoronaria com as vicissitudes da convivência mútua. Assim, o manteve intocado pelo tempo, tão forte quanto à época que o sentiu pela primeira vez. Agora, naquele momento crucial, estava para decidir se iria ou não correr atrás daquela que pensou ser a sua amada eterna, naquela manhã de inverno morno…

Foto por Tim Gouw em Pexels.com

Participam do BEDA: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Darlene Regina Lunna Guedes / Suzana Martins

Dedos Longos

Luzes do Outono,
cada vez mais angulosas…
Os alongados braços
do Sol
nos alcançam
dentro de nossos quartos,
tocando o nosso rosto
com as pontas luminosas                                                     
de seus dedos,
limpando os nossos medos…
Mais algum tempo,
o calor se dissipará e os abraços
serão,
mais que queridos,
necessários…