Quando ela se foi,
silenciosa feito um raio sem trovão —
Oyá calada — comecei a cheirar o chão
pelo qual ela teria passado…
Em busca de seu cheiro —
cão perdigueiro —
perdi meu dom,
me perdi…
Fiquei sem casa,
sem dona,
sem domínio
sobre o meu caminho
de perseguidor de seu odor.
Todas as noites,
uivava para as luas
presas aos postes das ruas,
tentando alcançar as estrelas
de seu corpo,
os cometas em seus cabelos,
os asteroides de seu olhar…
Cercado de escuridão,
senti-me como Layka —
só na imensidão infinita —
corpo encapsulado,
sem elo
com a Terra de onde provinha,
a não ser pela gravidade
que a ela me prendia…
Sonhei que pela poderosa atração
de seu corpo,
reentrava na atmosfera
em que ela respirava — invasão
em forma de fogo
e risco de luz — pedaço de metal
incandescente
a penetrar na pele da amada…
Saudade que se apagava
em choque e explosão,
amor e paixão…
A energia e o ar de meu módulo
aos poucos se esvai…
Por meus pelos,
o calor se retira da pele,
começo a sentir o frio a me invadir,
até que o frio se torna meu,
antes que deixe de respirar…
Ser sem vigor, aberta sorte,
circulo pelo Espaço a conhecer
o belo mistério da morte…
*Em 3 de novembro de 1957, um mês após a missão do Sputnik 1, os soviéticos mandaram o primeiro ser vivo ao espaço: a cadela Laika. O Sputnik 2 deu 2.570 voltas à Terra e ficou 162 dias em órbita. Queimou-se ao tocar na atmosfera terrestre em 14 de Abril de 1958.
Participam do B.E.D.A.:
Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Darlene Regina / Mariana Gouveia / Adriana Aneli








