Saindo da academia, eu caminhava de volta à minha casa pela larga avenida de duas pistas, separada por uma ilha ajardinada. Logo, encontrei aqueles três que formavam aquela família cambaleante. Um homem, uma mulher e um cão, envelhecidos e cansados. Aparentemente, eram moradores de rua, usavam andrajos, estavam sujos e caminhavam cambaleantes e… cansados, os três.
O homem estacou o seu passo, o cão, grande, mas muito magro, também parou, bem junto ao companheiro. Ambos olharam para trás, esperando a mulher cansada se aproximar. Todos juntos, novamente, ameaçavam atravessar a pista naquele passo lento e indeciso, de cansaço e embriaguez, dois deles; de cansaço e fome, o outro. Comecei a temer que os três não conseguissem ultrapassar a cortina de carros velozes que pareciam aumentar a velocidade ao perceberem a intenção do grupo.
Tão cansados pareciam os três que cheguei a me perguntar – por que simplesmente não paravam e descansavam? Vi-me com a mesma barba desgrenhada do homem, apiedei-me do cabelo hirsuto e despenteado da mulher, alcancei os sintomas da perplexidade do cão. A intenção de atravessar talvez fosse para isso mesmo – chegar à ilha central, onde deitariam à relva e à sombra, entre as pedras, os seus cansaços e desapegos.
Fiz-me outra pergunta – por que não decidiam descansar, permanentemente? O que os mantinham caminhando a esmo pelas ruas e canteiros de jardins? Vivendo de recolher restos de comida ou latas de cervejas e refrigerantes jogadas nas calçadas pela pouca educação dos seus semelhantes, para trocá-las por poucas moedas? Julguei que por amor, solidariedade ou companheirismo, os três seres, mesmo tão cansados, permaneciam vivos e unidos. Ele a ela, ela a ele, o cão aos dois, caninamente…
Finalmente, de forma periclitante, chegaram à divisa verde que separava o rio asfáltico. Nessa ilha, dormiriam (sonhariam?) e lamberiam as feridas, os três, tão cansados…
Eu gosto de observar cenários, pessoas, mas alguns, em especial não me faz escrever porque esses personagens urbanos tocam (incomodam?) a pessoa e não a escritora.
bacio