02 / 09 / 2025 / Dia Nacional Da Kombi

Durante muitos anos usamos Kombis como meio de transporte dos nossos equipamentos de som e luz. Meu irmão e eu nos afeiçoamos a elas, apesar de sua difícil dirigibilidade. Esta, na imagem acima, é a Tigresa, mas já tivemos a Gertrudes, a Bailarina, a Tímida… nomes gerados por algum detalhe ou outro como a placa, o “jeito” ou o “comportamento” da Kombi. Sim, porque de certa maneira, elas tinham “personalidades” diferentes. Parece algo meio fantasioso, mas apenas quem teve uma Kombi, sabe do que estou falando. Enfim, esse modelo de veículo participou da vida do brasileiro de tal maneira que quem conviveu com ela, ficou marcado por sua existência e convivência atribulada, mas sempre saudosa. Identificada com a capacidade de sobreviver ao tempo com resistência e denodo, a data de hoje se refere ao primeiro dia de sua fabricação em 1957, na Fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo-SP.

08 / 07 / 2025 / Os Peludos*

Vivem conosco em casa cinco peludos permanentes — Domitila, Dominic, Maria Bethânia, Lola Maria e Arya — e mais um eventual, o Bambino Princeso, meu neto que mora num apartamento com a Ingrid e a Luna, sua (nossa) amiga. Quando a sua mãe viaja, deixa o filho conosco.

Aliás, há aqueles que são contra o uso do termo “filho” para designar aos animais que nos acompanham. Seria uma utilização indevida que é vista como uma contraposição a relações humanas saudáveis. Seria o caso de nos abstivermos de amar aos bichos porque são bichos? Ou o amor que damos e recebemos desses incríveis seres na realidade nos humanizam?

Sabendo que têm uma expectativa de vida menor, eu acho que dedicar tanta atenção e carinho a eles torna-se uma lição para que tenhamos em perspectiva a nossa própria finitude. Tudo pode estar por um segundo e a Pandemia veio nos provar isso. O fato de que vemos morrer nossos amores e de, ao morrer, deixarmos quem nos ama, não vejo como motivo para não amar ou não sermos amados. E, em relação a eles tampouco deixarmos de considerá-los filhos do coração.

Como a um filho, devemos educá-los, estipular regras, mostrar diretrizes e estabelecer uma rotina. Se sentirem que não somos firmes em nossos propósitos, tomam conta de nossas vidas como fazem filhos deixados por si só quanto a um modelo de comportamento. Em contrapartida, eles têm sempre muito amor para nos dar. E demonstram isso, como mostram os vários outros sentimentos e emoções. Sem subterfúgios ou falta de clareza.

O resultado de quem se dedica aos peludos (e a outros bichos) é que torna-se necessário organizar a casa para que recebam guarida adequada e alimentação equilibrada. Neste inverno, por exemplo, estão dormindo na sala, apesar das casinhas quentinhas no quintal (esta noite chegou aos 10°C). Faz parte da minha rotina recolher o coco e lavar o xixi no quintal. Além de ter que conviver com os pelos nas roupas e no sofá. Brincando, a Tânia diz cogitar eventualmente construir uma sala só para elas. Não posso deixar de varrer a casa uma vez por dia, do entardecer para a noite.

Ao subir para dormir, antes de deixar três delas no escuro, rotineiramente as acaricio. Parecem pedir isso com o olhar. Maria Bethânia têm dormido com a irmã Romy e Lola Maria com a mãe, Lívia — uma típica e tradicional família brasileira.

*Texto de 2021. A Domitila nos deixou há um pouco mais de um ano. Durante quase dois anos tivemos conosco o Nego, um velhinho cego, com problemas locomotores. E eu resgatei o Alexandre, um pretinho também idoso que estava só pele e osso e que quando ficou aprumado descobrimos se tratar de uma mistura de Pincher, com todas as características da raça — territorial e tremelhique.

Frida*

Frida, ao contrário daquela que lhe inspirou o nome, é um ser discreto. Quando quer parecer ser “invisível”, se põe sorrateiramente debaixo da mesa da cozinha. Como chega até lá, nunca se sabe. Tratada, desde que nasceu, com todo o carinho e atenção, parece daqueles cachorros que sofreram abuso, tal o olhar de tristeza que carrega. A Tânia acha que ela é depressiva. Por algum motivo, a Betânia, muito ciumenta, dedica a ela uma aversão especial. Quando esta saiu de carro, Frida ficou uma semana mais arredia ainda, como se tivesse sido preterida… Após um banho no Pet Shop, voltou a ficar mais sociável. Esses amigos naturais estão a desenvolver um comportamento social cada vez humano…

*Texto de 2017

Maratona Setembrina | Supremacia

SUPREMACIA
Força feminina

De origem desconhecida, a chuva cósmica chegou à Terra inesperadamente, causando danos nos sistemas de comunicações e Internet.  O mundo todo sofreu desconforto, mas as consequências foram bem mais profundas do que interferências em comunicações importantes e atividades estratégicas, além de quedas nas transmissões de novelas da TV, interrupção nos bate-papos, impedimento de envio de fotos de glúteos avantajados e filmes de pegadinhas.

Antes que fosse globalmente detectada a transformação radical pela qual a humanidade passava, pequenos episódios em todos os cantos do mundo anteciparam suas repercussões fundamentais. Ana Maria, revoltada com os sopapos que levava do marido dia sim, dia não, decidiu revidar com um tapa. Só não esperava que seu golpe jogasse Joaquim do outro lado da sala. Em uma esquina escura, Belmira, cercada por um tipo que anunciou o assalto e insinuou algo mais, conseguiu jogar violentamente o oponente ao chão com um simples empurrão, o deixando desacordado. Na escola, a menina chamada de feia e magra, perseguida por garotos que não tinham mais o que fazer, decidiu a situação com um soco no estômago do maior, que ficou a se contorcer no chão, quase sem respirar. Os outros, correram. Uma amante, no momento máximo de excitação, quebrou as costelas do companheiro com uma chave de pernas. Acontecimentos semelhantes foram noticiados em progressão geométrica por todos os cantos da Terra.

Segundo pesquisas realizadas por cientistas ao redor do planeta, a onda de energia radioativa havia alterado drasticamente a fisiologia dos seres que carregavam cromossomos XX – as fêmeas da espécie humana – conferindo-lhes uma capacidade orgânica extraordinária, desenvolvimento de força e amplitude de movimentos muito maiores que os dos machos mais fortes atleticamente. Além de gerar maior impulsividade. Passado um ano, verificou-se que as meninas nascidas após o episódio, apresentavam as mesmas características. Ou seja, os novos parâmetros fisiológicos vieram para ficar.

No entanto, com o passar do tempo, constatou-se que, em profundidade, nada se modificou. Homens e mulheres mantiveram as conformações externas originais. A nova capacidade física feminina alterou as relações de poder, mas apenas trocaram-se os sinais e os gêneros dos envolvidos. Continuaram a ser cometidos os mesmos erros, os mesmos abusos, as mesmas distrações de caráter, por novos agentes. Ficou comprovado, enfim, que nunca houve diferença fundamental entre os sexos. Os comportamentos supostamente desviantes eram intrinsecamente humanos.

 

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