Mã*

Mães, eu desejo a todas vocês um dia em que possam usufruir do amor de seus filhos, estejam por perto ou distantes, fisicamente, o que não talvez não importe tanto, principalmente porque mães e filhos apresentam uma conexão umbilical, literal, durante a gestação, e espiritual, sempre.

Não conheço nenhum vínculo tão íntimo quanto o de uma mãe e seu filho. De certa forma, para confessar um sentimento menor, eu invejo esse poder incrível que vocês, mulheres, detêm. Quando as minhas filhas reclamaram por não ter o dia exclusivamente voltado para homenagearem a Tânia, brinquei que elas só eram suas filhas porque um dia eu decidira ser pai e formar família. Foi apenas uma tentativa canhestra para caber nesse amplo sentimento de gratidão e benção.

Porém, sempre haverá um porém, essa ligação natural também passa por ser construída e, portanto, pode ser destruída quando emoções efervescentes vêm a tona, conflitando os relacionamentos bastante fortes entre dois seres que se amam, mesmo quando não querem admitir.

Afora isso, os filhos têm dificuldade em aceitar que as mães sejam, também, mulheres, que carregam sonhos pessoais que fogem da alçada circunscrita a eles, seus filhos. Segundo essa postura, mães separadas de seus pais não poderiam ter desejos, não deveriam querer arranjar namorados, não precisariam de outra pessoa ocupando os seus pensamentos ou ter ideias que não sejam voltadas exclusivamente para eles. Onde já se viu?

Se ela vier a conseguir vencer as resistências, tenderá buscar para si alguém que igualmente pareça ser um bom pai, uma concessão ao fato de ser mãe, além de mulher. Por tudo isso e por muito mais, ser mãe é sofrer com todas as contradições, por ser a maior, por ser a melhor, por ser a total, por ser a absoluta definição do amor.

A foto acima é de Maria Madalena Nuñez Y Nuñez Blanco Prieto Ortega, ao completar 77, em 2009. Ela nos deixaria fisicamente em fevereiro do ano seguinte.

*Texto de 2015. Essas definições de uma mãe, parte da minha experiência com a Dona Madalena. Atualmente, mesmo tendo passado apenas oito anos, mudei muito fortemente parte das minhas posturas. Principalmente quando vim a saber sobre episódios de trauma pós-parto em que a puérpera pode vir a sofrer, com sintomas de medo intenso, desamparo, perda de controle e horror, podendo rejeitar a seu bebê. Ou quando por circunstâncias evitáveis, mães prefiram fechar os olhos para os assédios sexuais sofridos por suas filhas ou abusos físicos e psicológicos por aos filhos perpetrados pelo novo companheiro.

BEDA / Scenarium / Tesão*

TESÃO
PECADO ORIGINAL “Adão e Eva” (1504), de Albrecht Dürer: no último segundo de inocência

Tesão – eis uma palavra que deveria definir os nossos atos, desde os mais comezinhos até os mais importantes. De certa forma, com tesão, qualquer ação se torna importante. Quando ouvimos a palavra “tesão”, normalmente a relacionamos ao sexo. Quando era mais jovem, no tempo que ainda não havia tido contato físico com mulheres ̶ virgem, enfim – escrevi um poeminha sobre o amor físico para um jornalzinho da faculdade que foi censurado (início dos anos 80, de chumbo) simplesmente porque terminava dessa maneira:

“Amar como um artesão
Com arte e tesão!”

Originalmente, tesão se referiria à tesura ou rigidez, ligada ao membro masculino quando ocorre a excitação sexual. Mas as mulheres também podem e devem usá-lo para designar a sua libido, mesmo porque, conquanto seja menos visível, ocorre a tesura de uma parte do órgão sexual feminino quando ocorre a excitação. No entanto, quero dizer que essa condição de desejo de satisfação plena, quase passional, deveria envolver todas as nossas ações, o que, obviamente, se torna praticamente impossível diante de todas as nossas solicitações sociais. Quantas não são as coisas que fazemos por pura e absoluta obrigação?

Trabalhar, por exemplo, na maioria das vezes, faz jus à sua origem etimológica, ao identificar um instrumento de tortura medieval. Pelo relato bíblico, fomos condenados a ganhar o pão nosso de cada dia com o suor de nosso rosto, a partir do momento que o homem e a mulher primordiais descobriram o poder do tesão. Então, tudo que nos aparta da satisfação do prazer, é identificado como algo ruim, incluindo o trabalho. No entanto, será pelo trabalho que buscaremos os recursos para satisfazermos os nossos “tesões”, ampliando a aplicação do termo para além do regozijo sexual. O mecanismo pelo qual buscaremos a associação do tesão com tudo que fizermos, incluindo o trabalho, é de origem mental. É um exercício que nos trará satisfação plena em tudo (ou quase tudo) que realizarmos. Entretanto, se bem que bonito na enunciação, nunca será algo fácil de ser concluído. O que não deixaria de ser plenamente satisfatório.

De certa maneira, identificamos a busca pela facilidade como sinônimo de felicidade. Eu, pessoalmente, identifico a dificuldade como algo estimulante. Seria como se alegrar por ultrapassar os níveis de um videogame, se bem que eu não jogue. Porém, jogar virtualmente tem alcançado, cada vez mais, sucesso em todas as faixas etárias, exatamente porque podemos sempre recomeçar do zero, sem maiores prejuízos emocionais. Por que não buscarmos essa premissa para o que fazemos na vida real? Portanto, para mim, o tesão é uma força primordial que deve ser utilizada plenamente em todas as nossas ações.

Muito se fala no sexo tântrico, que ampliaria a fruição sexual por períodos mais longos, em termos de horas e até dias. Essa sensação se daria a partir do estímulo vinculado a uma pessoa em correspondência. Mas poderíamos expandir essa concepção para as ações de nossa existência, estabelecendo uma conexão vital com todas as coisas e seres do mundo. E que estaria mais vinculado a si mesmo do que a alguém em especial. O que talvez nos impedisse seria o ciúme, sentimento menor, relacionado ao egoísmo, condição básica que faz com fiquemos andando em círculos, nos prendendo e prendendo a outros em redomas bem construídas e quase inexpugnáveis. O nosso gozo só é chancelado socialmente por intermédio de um único ser. O que não impede que escapemos, aberta ou furtivamente, para exercê-lo em privado, longe dos olhos do grupo social, com mais de uma pessoa ou em ações solitárias que nos traga satisfação. No meu caso, a minha masturbação é escrever.

O estabelecimento de um “quarto privativo” em que se desenrolaria o exercício do tesão pode ser concreto ou mental, contudo, na maioria das vezes, é secreto. Diante da situação em que a liberdade em sentir tesão é invejada e condenada por quem não consegue senti-la substancialmente, advém a construção da mentira. Mentir torna-se uma arma usualmente utilizável e, de certa maneira, justificável. Se todos nós tivéssemos a liberdade de exercer o tesão abertamente, as bases sociais pelas quais vivemos seriam abolidas e, não por outro motivo, as leis que existem para prender os humanos na mesma amarra, deixariam de ter fundamento, sendo totalmente combatidas qualquer iniciativa que nos propiciassem escaparmos dessa prisão. Enquanto isso não ocorre, nos fechamos em copas para protegermos o nosso tesão. A instituição do tesão como base de nossa existência, eventualmente, inauguraria a civilização do bem estar, onde o amor reinaria e viveríamos a plenitude de ser. Que, um dia, assim seja!…

*Texto de 2015

B.E.D.A. — Blog Every Day August

Adriana AneliClaudia LeonardiDarlene ReginaMariana Gouveia

Lunna Guedes

Mã*

Mã

Mamães, eu desejo a todas vocês um dia em que possam usufruir do amor de seus filhos, estejam por perto ou distantes, fisicamente, o que não talvez não importe tanto, principalmente porque mães e filhos apresentam uma conexão umbilical, literal, durante a gestação, e espiritual, sempre.
Não conheço nenhum vínculo tão íntimo quanto o de uma mãe e seu filho. De certa forma, para confessar um sentimento menor, eu invejo esse poder incrível que vocês, mulheres, detêm. Quando as minhas filhas reclamaram por não ter o dia exclusivamente voltado para homenagearem a Tânia, brinquei que elas só eram suas filhas porque um dia eu decidira ser pai e formar família. Foi apenas uma tentativa canhestra para caber nesse amplo sentimento de gratidão e benção.
Porém, sempre haverá um porém, essa ligação natural também passa por ser construída e, portanto, pode ser destruída quando emoções efervescentes vêm a tona, conflitando os relacionamentos bastante fortes entre dois seres que se amam, mesmo quando não querem admitir.
Afora isso, os filhos têm dificuldade em aceitar que as mães sejam, também, mulheres, que carregam sonhos pessoais que fogem da alçada circunscrita a eles, seus filhos. Segundo essa postura, mães separadas de seus pais não poderiam ter desejos, não deveriam querer arranjar namorados, não precisariam de outra pessoa ocupando os seus pensamentos ou ter idéias que não sejam voltadas exclusivamente para eles. Onde já se viu?
Se ela vier a conseguir vencer as resistências, tenderá buscar para si alguém que igualmente pareça ser um bom pai, uma concessão ao fato de ser mãe, além de mulher. Por tudo isso e por muito mais, ser mãe é sofrer com todas as contradições, por ser a maior, por ser a melhor, por ser a total, por ser a absoluta definição do amor!
*Texto e foto de 2015