
Tesão – eis uma palavra que deveria definir os nossos atos, desde os mais comezinhos até os mais importantes. De certa forma, com tesão, qualquer ação se torna importante. Quando ouvimos a palavra “tesão”, normalmente a relacionamos ao sexo. Quando era mais jovem, no tempo que ainda não havia tido contato físico com mulheres ̶ virgem, enfim – escrevi um poeminha sobre o amor físico para um jornalzinho da faculdade que foi censurado (início dos anos 80, de chumbo) simplesmente porque terminava dessa maneira:
“Amar como um artesão
Com arte e tesão!”
Originalmente, tesão se referiria à tesura ou rigidez, ligada ao membro masculino quando ocorre a excitação sexual. Mas as mulheres também podem e devem usá-lo para designar a sua libido, mesmo porque, conquanto seja menos visível, ocorre a tesura de uma parte do órgão sexual feminino quando ocorre a excitação. No entanto, quero dizer que essa condição de desejo de satisfação plena, quase passional, deveria envolver todas as nossas ações, o que, obviamente, se torna praticamente impossível diante de todas as nossas solicitações sociais. Quantas não são as coisas que fazemos por pura e absoluta obrigação?
Trabalhar, por exemplo, na maioria das vezes, faz jus à sua origem etimológica, ao identificar um instrumento de tortura medieval. Pelo relato bíblico, fomos condenados a ganhar o pão nosso de cada dia com o suor de nosso rosto, a partir do momento que o homem e a mulher primordiais descobriram o poder do tesão. Então, tudo que nos aparta da satisfação do prazer, é identificado como algo ruim, incluindo o trabalho. No entanto, será pelo trabalho que buscaremos os recursos para satisfazermos os nossos “tesões”, ampliando a aplicação do termo para além do regozijo sexual. O mecanismo pelo qual buscaremos a associação do tesão com tudo que fizermos, incluindo o trabalho, é de origem mental. É um exercício que nos trará satisfação plena em tudo (ou quase tudo) que realizarmos. Entretanto, se bem que bonito na enunciação, nunca será algo fácil de ser concluído. O que não deixaria de ser plenamente satisfatório.
De certa maneira, identificamos a busca pela facilidade como sinônimo de felicidade. Eu, pessoalmente, identifico a dificuldade como algo estimulante. Seria como se alegrar por ultrapassar os níveis de um videogame, se bem que eu não jogue. Porém, jogar virtualmente tem alcançado, cada vez mais, sucesso em todas as faixas etárias, exatamente porque podemos sempre recomeçar do zero, sem maiores prejuízos emocionais. Por que não buscarmos essa premissa para o que fazemos na vida real? Portanto, para mim, o tesão é uma força primordial que deve ser utilizada plenamente em todas as nossas ações.
Muito se fala no sexo tântrico, que ampliaria a fruição sexual por períodos mais longos, em termos de horas e até dias. Essa sensação se daria a partir do estímulo vinculado a uma pessoa em correspondência. Mas poderíamos expandir essa concepção para as ações de nossa existência, estabelecendo uma conexão vital com todas as coisas e seres do mundo. E que estaria mais vinculado a si mesmo do que a alguém em especial. O que talvez nos impedisse seria o ciúme, sentimento menor, relacionado ao egoísmo, condição básica que faz com fiquemos andando em círculos, nos prendendo e prendendo a outros em redomas bem construídas e quase inexpugnáveis. O nosso gozo só é chancelado socialmente por intermédio de um único ser. O que não impede que escapemos, aberta ou furtivamente, para exercê-lo em privado, longe dos olhos do grupo social, com mais de uma pessoa ou em ações solitárias que nos traga satisfação. No meu caso, a minha masturbação é escrever.
O estabelecimento de um “quarto privativo” em que se desenrolaria o exercício do tesão pode ser concreto ou mental, contudo, na maioria das vezes, é secreto. Diante da situação em que a liberdade em sentir tesão é invejada e condenada por quem não consegue senti-la substancialmente, advém a construção da mentira. Mentir torna-se uma arma usualmente utilizável e, de certa maneira, justificável. Se todos nós tivéssemos a liberdade de exercer o tesão abertamente, as bases sociais pelas quais vivemos seriam abolidas e, não por outro motivo, as leis que existem para prender os humanos na mesma amarra, deixariam de ter fundamento, sendo totalmente combatidas qualquer iniciativa que nos propiciassem escaparmos dessa prisão. Enquanto isso não ocorre, nos fechamos em copas para protegermos o nosso tesão. A instituição do tesão como base de nossa existência, eventualmente, inauguraria a civilização do bem estar, onde o amor reinaria e viveríamos a plenitude de ser. Que, um dia, assim seja!…
*Texto de 2015
B.E.D.A. — Blog Every Day August
Adriana Aneli — Claudia Leonardi — Darlene Regina — Mariana Gouveia —
Que texto! Literalmente, um tesão de leitura!
Abraços
Engraçado, raramente uso a palavra, mas porque ela não me diz nada. Entendo o sentido variado, mas em mim não ecoa. É apenas uma palavra. Meio boba, meio fraca. Meio sem graça. Uma metade. Não inteira. Gosto de palavras cheias, inteiras. rs
Acho que vou escrever sobre isso ou será que já escrevi?
Hummm
bacio
Já deve ter discorrido sobre isso, sim. É eu já sabia dessa sua opinião. Você prefere a palavra paixão. Um tanto forte para quem pretende não ser passional. Ou é e eu estou apenas a provocá-la…