18 / 11 / 2025 / Blogvember / Havia Que Deixar O Corpo Descoberto Entre As Pedras

a pele a conversar com esses seres imóveis e permanentes
testemunhas de outras eras
sábias pedras em essencial mutismo ainda que digam —
estamos aqui — somos proféticas
somos compostas de eternidade aqui estaremos depois que vocês partirem
outras vidas pisaram se assentaram se expressaram
em nossa constituição mineral
vocês já tiveram a sua oportunidade fracassaram
testemunhamos a sua decadência
passaram a existência sobre nós a desrespeitar
outras vidas outros cantos outras forças belezas energias
dias e noites noites e dias
também gostamos da luz que nos aquece os contornos
mas em seu caminho autodestrutivo
os humanos estão criando maneiras de que a luz seja apagada
vocês serão extintos nós continuaremos
perfeitos em nossa dura e explícita consciência de cristal…

Participação: Lunna Guedes

Foto por Lucas Pezeta em Pexels.com



11 / 10 / 2025 / O Arco Do Tempo*

desço os olhos para as linhas que desenham
rostos e paisagens em fotos de décadas
repassadas em cores e descores
cumpro o destino da flecha atirada por Chronos
personagens dos quais sou um
e mais nenhum
papai vovô irmãos
sonhos em desvãos
que nunca foram realizados
os meus indecifráveis
vivia fora do mundo aceitava
sem sorrisos que cedo morreria
quase obsessão aos 33 de Cristo
aos 40 de John aos 27 de Morrison
sempre haverá quem morra jovem
em cada uma das idades
aos borbotões a toda hora
ainda não foi a minha agora
se for antes dos 80 morrerei contente
não sei de amanhã vivo o presente
lembro que vovô me amava
me achava inteligente
antes de partir cuidei dele
banhava o ajudava a comer caminhar
pedi perdão porque sabia que não cumpriria
as suas ambições não queria ser homem importante
influente intendente industrial comerciante
buscava ser simples despojado pés no chão
me sentia desmembrado desmemoriado
de um passado que sabia existir
vidas passadas realidades não alcançadas
já entendia que o futuro não contava
mas ainda cultuava a esperança um país diferente
múltiplo raças misturadas riqueza distribuída
hoje morro todos os dias às vezes de hora em hora
a grandeza desmesurou-se em sentido contrário
nos apequenamos repugnantes ruminantes
de mentiras e contradições
dos templos ocupam-se os vendilhões
crenças transformadas em crendices
fé em feitiçarias em salões dourados
em palácios de mandatários
estamos nos finais dos tempos
mais um tempo de finais
no eterno ciclo de decadências
e de mercados baratos na venda de consciências…

*Poema de 2022, aos meus 61 anos…

10 / 04 / 2025 / BEDA / Tanto Faz, Nada!

repudio quando cantam “vodka
ou água de côco (sim, eu acentuo!)
gosto quando fica louca
cada vez eu quero mais”…
a loucura é normalizada no sentido
de comportamento e se sentir dividida
perdendo as estribeiras o controle sobre o destino
se esquecem do sentido da demência alienante
sendo que a verdadeira loucura se faz com consciência
cônscio de si e aberto ao verdadeiro sentido da vida
que é se perder e se achar — se buscar
e buscar alcançar o outro a quem amar…

Registro fotográfico de 2014, no Litoral Norte de São Paulo.

17 / 02 / 2025 / As Mães

A mãe Ingrid e a minha mãe, Dona Madalena

Ingrid é uma mãe. Eu e a Tânia, brincando, a chamamos de mãe. Não apenas do Bambino e da Maria. Com o seu talento para ser mãe, conseguiu unir pelo amor um cachorro e uma gata num espaço pequeno. Quem dela se aproxima, logo é envolvido por sua energia boa, seu sorriso contagiante e sua postura de mulher madura em corpo de menina. Seus amigos a idolatram, suas irmãs — Romy Lívia — a amam, a procurando para conselhos ou desabafos. Profissional competente, ninguém imagina que naquele corpo pequeno esteja uma exímia advogada, reverenciada por despossuídos e poderosos aos quais ajuda para se desvencilharem de seus problemas legais.

Quando pequena, já queria se tornar advogada (quem sabe, um dia talvez juíza?), para defender os injustiçados. Mas todos sabemos que nem todos o são e, mesmo assim, ela tem consciência que deve cumprir o seu dever de defensora dos seus clientes diante da Lei. Sempre voluntariosa, quando (mais) pequena, me deixava de cabelo (quando o tinha) em pé com as suas escapadas. “Por onde anda a Ingrid, gente?”… “Presa numa enchente no ABC, onde foi assistir um show de rock!”… Devia ter 12 ou 13 anos. Ela que me corrija, se eu estiver errado.

Muito inquieta, brincalhona, de feitio mais arredondado, ao crescer percebeu que tinha que controlar a alimentação que lhe acarretavam repercussões físicas indesejáveis. Corajosa, enfrenta os problemas psicológicos a que todos nós desenvolvemos com o tempo e a carga que a realidade nos impõe. Eu, mesmo, apenas neste quadrante, tomei essa atitude de fazer terapia. Muito, por sua influência indireta. Essa boa influência compartilha com as suas amigas e amigos, ao quais conheci de mais perto e pude verificar a riqueza de caráter da grandíssima maioria. É comum, ao nos aproximarmos mais de algumas dessas amizades, torcermos para que fiquem bem, desejando para que tomem os melhores caminhos, porque as queremos bem.

Chamado de “Tio” por algumas delas, busco não ser tão intrusivo e sigo os conselhos dela e das irmãs para que não pareça tão inconveniente. O que não é fácil… Mas, enfim, a aquariana que hoje aniversaria, cumpre quase todos os bons predicados do signo da Nova Era que está para se iniciar — o que proporcionará à maioria dos seres humanos a descoberta, a verdadeira vivência e o real conhecimento da Consciência Crística. Espero que não demore a chegar, pelo bem de Gaia

Gosto muito dessa foto! Não sei como a minha mulher tolerava o meu estilo riponga! E a minha filhota do meio, Ingrid, com aquele olhar de quem estava sempre disposta a aprontar! O ano? Feliz!

08 / 01 / 2025 / A Pílula Azul

Em Matrix, o filme, tomar a pílula azul representa para a personagem que depois se tornará Neo continuar a viver na ignorância, realizando as suas tarefas como um ser humano que não sabe de outra realidade além daquela: trabalhar para obter recursos para sobreviver dentro da certeza que a Matrix lhe impõe. Eu conheço a verdadeira realidade e, por isso, para entrar em ação nesta dimensão, tomo a pílula azul. Para mim, funciona o tempo em que atuo como ser produtivo na “nossa” sociedade. Não é fácil, mesmo porque a memória da organização dimensional alternativa volta e meia se infiltra nessa em que aceitamos como comum a todos. Mas não é para mim e sei que não é para muitos. Enquanto isso, sobrevivemos tendo a consciência de um mundo que nos dilacera a alma…