08 / 07 / 2025 / Os Peludos*

Vivem conosco em casa cinco peludos permanentes — Domitila, Dominic, Maria Bethânia, Lola Maria e Arya — e mais um eventual, o Bambino Princeso, meu neto que mora num apartamento com a Ingrid e a Luna, sua (nossa) amiga. Quando a sua mãe viaja, deixa o filho conosco.

Aliás, há aqueles que são contra o uso do termo “filho” para designar aos animais que nos acompanham. Seria uma utilização indevida que é vista como uma contraposição a relações humanas saudáveis. Seria o caso de nos abstivermos de amar aos bichos porque são bichos? Ou o amor que damos e recebemos desses incríveis seres na realidade nos humanizam?

Sabendo que têm uma expectativa de vida menor, eu acho que dedicar tanta atenção e carinho a eles torna-se uma lição para que tenhamos em perspectiva a nossa própria finitude. Tudo pode estar por um segundo e a Pandemia veio nos provar isso. O fato de que vemos morrer nossos amores e de, ao morrer, deixarmos quem nos ama, não vejo como motivo para não amar ou não sermos amados. E, em relação a eles tampouco deixarmos de considerá-los filhos do coração.

Como a um filho, devemos educá-los, estipular regras, mostrar diretrizes e estabelecer uma rotina. Se sentirem que não somos firmes em nossos propósitos, tomam conta de nossas vidas como fazem filhos deixados por si só quanto a um modelo de comportamento. Em contrapartida, eles têm sempre muito amor para nos dar. E demonstram isso, como mostram os vários outros sentimentos e emoções. Sem subterfúgios ou falta de clareza.

O resultado de quem se dedica aos peludos (e a outros bichos) é que torna-se necessário organizar a casa para que recebam guarida adequada e alimentação equilibrada. Neste inverno, por exemplo, estão dormindo na sala, apesar das casinhas quentinhas no quintal (esta noite chegou aos 10°C). Faz parte da minha rotina recolher o coco e lavar o xixi no quintal. Além de ter que conviver com os pelos nas roupas e no sofá. Brincando, a Tânia diz cogitar eventualmente construir uma sala só para elas. Não posso deixar de varrer a casa uma vez por dia, do entardecer para a noite.

Ao subir para dormir, antes de deixar três delas no escuro, rotineiramente as acaricio. Parecem pedir isso com o olhar. Maria Bethânia têm dormido com a irmã Romy e Lola Maria com a mãe, Lívia — uma típica e tradicional família brasileira.

*Texto de 2021. A Domitila nos deixou há um pouco mais de um ano. Durante quase dois anos tivemos conosco o Nego, um velhinho cego, com problemas locomotores. E eu resgatei o Alexandre, um pretinho também idoso que estava só pele e osso e que quando ficou aprumado descobrimos se tratar de uma mistura de Pincher, com todas as características da raça — territorial e tremelhique.

#Blogvember / Ao Destino

Senhor Destino,

o dia amanheceu cheio de expectativas para tantos… Para mim, que estava me deslocando de minha zona de conforto, não. Eu aprendi… ou melhor dizendo, eu desenvolvi o costume de não ter nenhuma expectativa quanto a certas questões que fogem do meu alcance. O meu comportamento é o de um passageiro de ônibus que pode apenas observar a paisagem enquanto se encaminha para o destino programado tendo ao volante um motorista profissional capacitado. É o que se espera.

No entanto, é comum me surpreender com o otimismo que as pessoas têm quando dizem que estarão em determinado lugar em determinada hora. Ao mesmo tempo, esperar que algo dê errado com o planejamento que estabelecemos para chegarmos a algum ponto, seja um sintoma doentio de negatividade. Milhões de pessoas se deslocam de lá para cá de forma quase automática. Não são contadas intercorrências em seus trajetos, suspeitas de atraso ou movimentos inesperados. E ainda bem!… Deve ser horrível viver na expectativa de malefícios. Mesmo assim, me assusto com os que têm certezas objetivas. É como se tivessem o dom da clarividência. “Tomarei tal transporte. Irei para tal lugar. Subirei as escadas da faculdade às 10h10. Me casarei dia tal, com tal pessoa, vestindo tal roupa”.

Como deve saber (já que me tem em suas mãos), trabalho com eventos. Tenho que os agendar antecipadamente. Muitas vezes, meses e até um ano antes. Como casamentos. Eu acho incrível essa convicção de algo que envolve planos de uma vida toda. É como o agricultor que prepara o terreno para colher no tempo adequado. Verifica as previsões climáticas – se o prognóstico é de chuva aquém ou além do normal – se angustiando com antecipação. Mesmo sabendo do que ocorrerá, tenta negociar com os deuses para que não seja prejudicial assim…

Planos para a vida depende de planejamento e cuidado. Para que tudo saía idealmente, conta-se de costume com algo imponderável em resultados que é a . Para as pessoas, ela poderá ser apenas um aditivo psicológico ou um apoio milagroso de forças que impulsionam resultados à frente por si só. Eu, que não me utilizo da nesse sentido, quase como um dado prático essencial ao funcionamento das engrenagens, confio que tudo funcione perfeitamente dadas as medidas adequadas de temperatura e pressão. E só.

Hoje, está missiva começou a ser escrita antes de uma pequena viagem para o interior rumo ao casamento de meu sobrinho. Fomos e voltamos dentro da previsibilidade, mas a estrada guarda perigos visíveis, contando sempre com o jogo de dados em que muitos motoristas apostam a sua vida e de outros a cada mão jogada. Superadas as etapas passo-a-passo, roda-a-roda, não foi desta vez que você, Sr. Destino, nos interpôs obstáculos intransponíveis. Agradeço que a sua mão invisível tenha nos conduzido sãos e salvos.

Até a sua próxima intervenção!

Obdulio

Participam: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Mariana Gouveia