Maratona De Outubro| Desarrumação

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Sob o olhar de Salem…

Para desespero da Tânia, as estantes da nossa biblioteca apresentam uma organização peculiar… sob a minha perspectiva. Na dela, pura e simples desarrumação. Por sua iniciativa, criou o cantinho da Scenarium na parede oposta, o que aliviou um pouco o aspecto de barafunda em que livros novos e antigos se misturam em cenas de amor livre, como deve ser na literatura – expressão da paixão pelas palavras.

Prometi, há muito tempo, intervir nessa aparente bagunça, organizando as estantes por coleções, temas e campos – literatura nacional e internacional, datas, edições, autores. A falta de tempo e certo prazer em perceber harmonia no desalinhamento, impedem que eu comece a “limpar” as estantes de intrusos – livros e objetos – indesejáveis. Além disso, como quando acontecia quando era garoto e  recolhia livros no lixo, em todas as oportunidades que começo a organizá-las, me agarro a entrar pelas páginas dos títulos, como se buscasse respostas às minhas perguntas existenciais no acaso de linhas insuspeitas.

Nas prateleiras, os livros que estão arrumados em sequência numérica perfeita, coleções com cores e tamanhos padronizados, são os menos acessados. Os que estão deitados ou fora de seu ninho, são os que li (ou reli) todo ou uma parte, manuseei, avistei, deixei de lado com pretensões de voltar a ler, vontade muitas vezes não cumprida. Eu quase li vinte livros este ano. Li efetivamente alguns outros e sonhei que li muitos. Pode parecer estranho, mas li muitas vezes o livro que lancei – Rua 2 – por diversas ocasiões, duas ou três vezes, multiplicada pelas tantas vezes que o editei até que ficasse pronto. A estranheza se dá porque ouvi dizer de escritores que não leem o que escrevem…

Um olhar “descuidado” verá em minhas prateleiras utensílios velhos, alguns inúteis para quem não percebe um propósito secreto para cada coisa. Afinal, uma caixa com fones de ouvido avariados teria que utilidade? Ou frascos vazios de chicletes sem açúcar colocados junto a compêndios sobre Marx, Keynes, História Antiga e “Segredos do Mundo Animal”? Ou uma caixa de fitas cassetes antigas (pleonasmo)? Segredos deste humano animal…

Não apenas eu contribuo com a bagunça. Mas a culpa recai sobre aquele para quem foram montadas as estantes – eu. O propósito seria de guardar livros guardados em caixas. Gosto muito da maioria, porém, os que mais tenho apego não estão à vista. Eles estão ainda encaixotados, já que requerem maiores cuidados por estarem com páginas rotas, capas estragadas, muitos atacados por cupins – sábios seres devoradores de páginas repletas de conhecimentos, expressões de sentimentos, emoções e histórias de vida. Eu os encontrei alijados de outras bibliotecas. Muitos, recolhidos da escola onde estudei, em Santana.

Certa ocasião, em glorioso dia de sol, vi ao lado do pátio, pilhas e pilhas de livros reunidos para serem desprezados em latas de lixo. O local onde estavam guardados, seria transformado em um laboratório de química. Pedi permissão a quem de direito e os trouxe para casa aos poucos, de ônibus, em sacolas de feira. Ainda traziam, além de dedicatórias de autores e ofertórios de seus proprietários doadores, cartões com fichas indicativas de quando foram emprestados e lidos pelos estudantes de décadas passadas. Eram joias, cada vez mais menosprezadas em tempos de ouro de tolo.

Participam também desta Maratona:

Ale Helga | Cilene Mansini | Fernanda Akemi | Mari de Castro | Mariana Gouveia | Lunna Guedes

Maratona Setembrina | Amor Falado

Amor Falado
O poder da palavra… 
O rapaz ficara avesso ao toque humano desde que perdera a mãe em um supermercado. Ela pediu que o menino fosse buscar ovos na seção que ficava no fundo da grande loja e, quando voltou, a genitora já não se encontrava junto ao carrinho, carregado com as compras do mês, do lado de uma das caixas registradoras. Esperto, apesar de contar apenas com cinco anos, deu o telefone do trabalho do pai, que logo foi encontrá-lo. Testemunhas disseram que depois que ele se afastou, a mulher saiu pela porta do supermercado em direção ao estacionamento. Seu carro foi visto saindo apenas com a motorista, em direção à Marginal. Sem deixar bilhete ou outro tipo de mensagem, nunca mais deu notícias. Largou, além do marido desnorteado, um filho atônito-entristecido.
Com o correr dos anos, a criança desenvolveu um comportamento arredio. Cumpria a rotina escolar contando com os poucos colegas que pudessem dizer que fossem razoavelmente próximos. Passou por aqueles tempos quase sem ter sua presença reconhecida. Nessa contínua auto imersão buscava encontrar as razões por ter perdido a mãe dentro si. Intuía que ele fosse o motivo de sua partida. Ao mesmo tempo, a prospecção da culpa que carregava propiciou que mergulhasse em leituras cada vez mais extensas sobre o amor versado em palavras.
Escritores que discorreram sobre o amor constituíam a maior parte de sua biblioteca. A leitura contumaz de Jane Austen, Shakespeare, D.H. Lawrence, Federico Moccia, Jorge Mario Llosa, Nicolas Sparks, Miguel de Cervantes, Lunna Guedes, entre outros, fez com que construísse a Teoria do Amor Falado, que tinha como base declarar o amor, ainda que não dirigido diretamente a alguém. Começou a crer que fosse uma energia que existisse independentemente dos seres, que qualquer pessoa poderia se apropriar apenas ao verbalizá-lo.
De fato, além da própria palavra amorosa, o seu olhar de elo perdido da vida, seduzia olhos e ouvidos de seus interlocutores. Quando questionado sobre a origem de sua postura, respondeu: “Não só precisamos ler-ouvir que somos amados. Fiquei tanto tempo sem poder dizer que amava alguém, que percebi o quanto é importante doar amor ainda que apenas escrito ou falado”…
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BEDA | O Dia Seguinte

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Ingrid e Gus, o australiano

Hoje, o dia seguinte, amanheceu frio e nublado. Agosto é um mês de mutações térmicas drásticas. O dia anterior, iniciado quente e ensolarado, foi se transformando gradativamente, até se precipitar em água.

AGOSTO (1)
Val Guimarães e Roseane “Poesia”, primeiras a chegar

Trabalhei muito. O que me ajudou a não pensar frequentemente sobre minha paixão tornada confissão. Lunna soube bem identificar um dos significados da frase anunciada em rede social: “A loucura nos faz cometer paixões.”.

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Cláudia Leonardi, a Mãe Literatura

Uma dessas paixões foi testificada por palavras e seria colocada em mãos e, eventualmente, decifrada pelos olhos de quem quisesse conhecê-la – criar-recriar-transformar a vida em cenas e vivências – por personagens que representam minha experiência nesta jornada de quem me lê e dela participa.

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Maria Gonçalves, fã da Scenarium

Essa magia que é viver pode estar sempre por um fio. Feito Agosto. Repentinamente, podemos mudar de “estado”. Somos, mas estamos. Tento registrar essa dinâmica, como escritor.

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Minhas filhas – Ingrid e Romy – e amigas

Espero ter alcançado, com Rua 2, sucesso nessa empreitada. Porque, sucesso, para mim, é isso – encontrar receptividade para o que tento mostrar. Ainda que seja por apenas uma pessoa. Ainda que a mensagem seja entendida de maneira totalmente particular.

AGOSTO (7)
Com Mariana Gouveia, que lançava “Corredores, Codinome: Loucura

Com um livro de contos, cada um deles é uma chance de sucesso e, naturalmente, de fracasso – incentivo na busca do aprimoramento.

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Com outro autor da Scenarium, o poeta Marcelo Moro

O que chamo de “queda no precipício” foi acompanhada por muitas pessoas no ambiente do Café. Com certeza, perturbamos a rotina do local. Eu vestia uma camisa e carregava um chapéu em tons parecidos com o da capa de Rua 2.

AGOSTO (9)
Destaque para Maria C. Florêncio e Joaquim Antônio, poetas da Scenarium

Amigos, parentes e leitores seguidores da Scenarium, reunidos para um congraçamento em torno da literatura – um acontecimento cada vez mais estranho em um país em que as mídias visuais e sonoras preponderam. Diferentemente do “esforço” de ler.

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Com Mister Scenarium – Marco Antônio Guedes

Foi uma noite prazerosa. Os sorrisos irradiavam sem querer. Risadas espocavam alvissareiras de encontros festivos. O encanto se estabelece simplesmente por todos estarem reunidos em torno de um projeto de vida – Lunna e Marco – seus mentores e anfitriões.

AGOSTO (11)
Com  Adriana Elisa Bozzeto, autora de Verbo: Proibido

A artesã da palavra e das palavras transformadas em livros, editora de ideias transmutadas em projetos de vida. Vidas lançadas em embarcações sem destino, até chegarem ao coração de alguém – porto inseguro.

AGOSTO (12)
Lunna Guedes, escritora-editora da Scenarium

Acordei cedo. Prometi para mim mesmo colocar este texto no blogue por volta das 11h de Brasília. Consegui apenas às 16h, pois a vida nos solicita para além do escritor, realizar as tarefas cotidianas.

AGOSTO (13)
Frida, solicitando atenção…

Quem me lembra disso é a Frida, que pede atenção e comida. É hora do almoço. Interrompo a minha escrita e a alimento, como igualmente as outras meninas – Penélope, Lola, Betânia e Domitila.

Comeram tudo… Foi um sucesso!

Participam do BEDA:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari