BEDA / Dama De Cinzas

Vem um dos homens e lhe ofende a natureza feminina
Silenciosamente rouba-lhe a inocência de menina
Determinado e consciente impõem-lhe a boca calada
Que quando balbucia a verdade é de pronto velada
Sofre a exclusão familiar e ainda a pecha que espezinha
De ser além de uma pequena mulher, uma mulherzinha
O decreto que apequena a moça a conduz ao descaminho
Tenta encontrar na química a sua recompensa, o carinho
Nos corpos alheios busca confirmar a dúbia fama
E passa a acreditar nos créditos de cinzenta dama
Mas como um anjo caído, sabe que pode alçar voo maior
Acima do rés do chão, além do horizonte de novo alvor
Subjuga o ódio que poderia sentir pelos machos da espécie
E ainda consegue amá-los e achar graça além da efígie
Prova-se emancipada em carne, osso, mente e espírito
Escreve a cada momento a sua história rumo ao infinito
Une-se a nós e expande o seu ser de boa influência
Confessa-se imperfeita, ainda que seja uma dama de excelência.

Foto por Jill Wellington em Pexels.com

Participam do BEDA: Mariana Gouveia / Lunna Guedes / Suzana Martins / Darlene Regina / Roseli Pedroso

O Retorno*

Maria Bethânia

Uma de nossas preocupações, ao viajarmos por praticamente quatro dias inteiros, era como ficariam as “nossas meninas” Penélope, Domitila, Frida, Lolla e Bethânia esta que aparece na foto. Meu irmão ficou de alimentá-las, verificar a água e recolher os dejetos no terreno.

A Penélope, já idosa; Domitila, a que tem maior medo fogos (por que é que explodem rojões em dia que deveria ser de reflexão?); Frida, a depressiva; Lolla, a maluquinha que vive querendo dar umas voltas pelo bairro e Bethânia, que pela primeira vez ficaria tanto tempo sem a nossa presença.

Na volta, a nossa expectativa era de como seríamos recebidos. Tentava imaginar o que passaria pela cabecinha da Bethânia: “onde estão os meus pais? / “por que saíram sem mim?” / “ouvi um barulho parecido com o do carro deles chegaram?”…

Ao pararmos em frente ao portão, mal estacionamos e todas já estavam latindo-reclamando: “papai, mamãe, maninhas, abram logo o portão! Queremos lamber e morder vocês!”… Quando entramos, mal sabia em quem dar voadoras, como a confirmar as presenças físicas.

Quando a peguei no colo, teve incontinência urinária. Agora, me procura sempre para um carinho e me segue aonde vou. No momento da foto, se sentia tão relaxada que chegava a ressonar. A mútua dedicação demonstra para mim que nós, entes humanos, não somos tão ruins assim. Afinal, se esses seres, puros de coração, nos ama dessa maneira, acho que talvez mereçamos mais uma chance como espécie…

Texto de 26 de dezembro de 2018*