Uma de nossas preocupações, ao viajarmos por praticamente quatro dias inteiros, era como ficariam as “nossas meninas” — Penélope, Domitila, Frida, Lolla e Bethânia — esta que aparece na foto. Meu irmão ficou de alimentá-las, verificar a água e recolher os dejetos no terreno.
A Penélope, já idosa; Domitila, a que tem maior medo fogos (por que é que explodem rojões em dia que deveria ser de reflexão?); Frida, a depressiva; Lolla, a maluquinha que vive querendo dar umas voltas pelo bairro e Bethânia, que pela primeira vez ficaria tanto tempo sem a nossa presença.
Na volta, a nossa expectativa era de como seríamos recebidos. Tentava imaginar o que passaria pela cabecinha da Bethânia: “onde estão os meus pais? / “por que saíram sem mim?” / “ouvi um barulho parecido com o do carro deles — chegaram?”…
Ao pararmos em frente ao portão, mal estacionamos e todas já estavam latindo-reclamando: “papai, mamãe, maninhas, abram logo o portão! Queremos lamber e morder vocês!”… Quando entramos, mal sabia em quem dar voadoras, como a confirmar as presenças físicas.
Quando a peguei no colo, teve incontinência urinária. Agora, me procura sempre para um carinho e me segue aonde vou. No momento da foto, se sentia tão relaxada que chegava a ressonar. A mútua dedicação demonstra para mim que nós, entes humanos, não somos tão ruins assim. Afinal, se esses seres, puros de coração, nos ama dessa maneira, acho que talvez mereçamos mais uma chance como espécie…
Texto de 26 de dezembro de 2018*
Cada vez eu reluto em sair, viajar por causa deles.
Acontece a mesma coisa por aqui, Mariana.