Encontrei este elefantinho atrás do palco, no local onde estava trabalhando. Perguntei como ele estava. Respondeu que estava bem. Que, apesar de se sentir meio abandonado naquele canto, pelo menos estava de frente para a porta, onde podia ver o movimento.
— Você parece triste… Aliás, como se chama?
— Eu me chamo Dumdum! Eu não sou triste! Apenas fui feito com esta feição tristonha…
— Perdão! Vivo a cometer esse erro! Sei que não devo me fiar na aparência externa de ninguém!
— Não tem problema! Já fico feliz em você ter parado um instante do seu trabalho para me dar atenção.
— Dizem que esse é um dos meus problemas… que sou disperso… mas, enfim…
— Eu acho que é um dom…
— Obrigado! É muita gentileza de sua parte. De vez em quando, todos nós precisamos de um elogio. Falando nisso, ao prestar mais atenção, se percebe que há algo especial em você…
— Eu sei que sou especial! O artista plástico que me moldou, mesmo eu sendo uma obra simples, me imaginou um elefantinho do bem. Cada tira de papel que ele colocou, a cada camada que me estruturou, ele o fez com amor. Sou resultado de amor e arte. Esta feição que me estampa não sou eu… Nasci feliz!
Quase com inveja do Dumdum, passei a mão em sua tromba empoeirada e me despedi. Continuei a minha lida. Logo depois, ele foi retirado dali. Deve jazer feliz em algum reino encantado, ainda que na escuridão de um depósito…
Texto de 2015*