16 / 10 / 2025 / Gratidão*

Quando alguém demonstra por ações claras a gratidão que sente por chegar onde chegou, muita gente critica.

Vejam só, anistiar quem deixou de usar máscara de proteção em meio a uma Pandemia que matou (oficialmente) mais de 700 mil pessoas, ainda mais sendo a autoridade suprema do País, dando um exemplo negativo, é apenas ser grato ao seu padrinho. Eu acho lindo!

Anistiar multas lavradas às concessionárias que prestaram péssimos serviços à população do Estado, deixando de arrecadar milhões de Reais, eu acho justo! Afinal, estamos nadando em dinheiro. Somos um Estado rico e estamos sinalizando que podem continuar a fazer o que não fazem.

Assim como querer entregar nas mãos da iniciativa privada uma empresa superavitaria para cumprir promessa de campanha e devolver o investimento feito no seu projeto, tudo bem! São exemplos de gratidão. Quem critica, são pessoas que não entendem que ao receber, é digno ter que devolver.

*Postagem de Outubro de 2023

23 / 05 / 2025 / Nave-Mãe*

*Corria o ano de 2020 e não bastasse o surgimento da Covid-19, tínhamos um governo que desejava levar o País para o Caos. A tática padrão era ir contra todos os preceitos aceitáveis de controle de uma Pandemia que acabou por matar pelo menos 700 mil brasileiros. Esse é um outro crime daquele que queria uma guerra civil em que 30 mil mortos resolveriam a oposição aos seus desmandos. Entre outras medidas que implementou foi a desestruturação dos serviços públicos de atendimento às populações carentes, além dos mecanismos de controle geracional do Estado. Não lhe parecem iguais às medidas do Homem-Cenoura na parte de cima do mapa da América? Pois, é! Existe uma planificação óbvia nascida desde as hordas da Extrema-Direita para fazer desmoronar as estruturas básicas da administração, incluindo a Burocracia que, de certa maneira, estabelece os parâmetros para o bom funcionamento administrativo. Quando criou-se um departamento para fazer especificamente esse trabalho de desmantelamento, o Rei do Mundo chamou o homem mais rico do planeta (em termos financeiros) para levar adiante esse projeto. Enfrentou problemas e decidiu deixar o (des)governo. Em 2020, o desejo de sonhar com um outro mundo parecia distante e, hoje, mais ainda. Então, escrevi:
“Para quem queria fugir para outros espaços, longe daqui, na Nave-Mãe, aviso que ela deu giro pela linha do horizonte e partiu rumo a destino desconhecido. Não será desta vez que voltaremos ao Planeta-Útero…”.

17 / 03 / 2025 / O Outro Tarcísio

Eu conheci um outro Tarcísio. Tinha como sobrenome Meira, e apresentava a curiosidade de descender do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Mártir da Inconfidência Mineira, Tiradentes. Portanto, um verdadeiro patriota que ousou lutar pela separação do País de Portugal. Sua atuação lhe rendeu a forca, após o que o seu corpo foi esquartejado e colocado em pontos espalhados pelo Rio de Janeiro como exemplo para tentar impedir quaisquer outras tentativas de separar a rica Colônia da Metrópole.

O outro Tarcísio me impressionou pela primeira vez quando eu era bem garoto e assisti pela TV PB de 14″ à novela Irmãos Coragem, de Janete Clair, em 1970, pela Rede Globo. O garimpeiro João lutava contra a dominação de um Coronel — título genérico de quem detinha o poder sobre determinada região agindo como déspota.

O outro Tarcísio, já um galã consolidado, enveredou pela atuação de um sujeito bruto, violento e sem escrúpulos, em Grande Sertões: Veredas — pela Rede Globo, em 1985. No clássico de Guimarães Rosa adaptado para a televisão, Tarcísio era Hermógenes, líder de um bando de jagunços que põe fim a vida de Diadorim, personagem defendido por Bruna Lombardi. Fiquei impressionado com a transformação do homem bonito de herói em vilão. O outro Tarcísio também foi intérprete de D. Pedro, que se tornou o primeiro imperador do Brasil, após a proclamação da Independência de Portugal.

Moldado em mais de 60 anos de carreira em teatro, cinema e televisão para os grandes protagonistas de tramas para o bem ou para o mal, Tarcísio conseguiu trilhar um caminho de grandeza. Faleceu dois meses antes de completar 86 anos, em 2021. Já, então, havia entrado em cena um um segundo e piorado Tarcísio, ator da vida real, como Ministro de Infraestrutura do governo anterior. Não duvido que deva seu nome ao bom Tarcísio. Coisa de mãe que admirava o primeiro.

Em 2024, o atual Tarcísio participou como capitão do envio das tropas brasileiras para assegurar as novas eleições para presidente desde a queda de Jean-Bertrand Aristide e garantir a segurança dos civis nesse processo de transição. Porém, os relatos de violência de todos os níveis contra a população, incluindo as sexuais, pautou esse período. As forças de paz da ONU foram comandadas pelo General de Divisão brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira. O General Heleno atualmente está preso por participar de uma trama que deveria impedir a posse de Luís Inácio da Silva como Presidente eleito.

Foi através de Heleno que o Tarcísio ganhou a simpatia do ex-Presidente e com o seu apoio chegou ao Governo do estado de São Paulo. Talvez ainda considerando que estejamos no Haiti — como na linda letra de Caetano Veloso, Haiti — utiliza as suas forças policiais para executar aqueles que vivem nos padrões do País no qual esteve em 2004. Apenas a repetição de um padrão de quem escolheu o caminho errado de atuação — um Hermógenes contra a maioria da sua própria população — em suposto benefício para a elite estuporada deste Estado.

BEDA / Deseducação

De acordo com uma reportagem de O Globo, “O Governo de São Paulo recusou livros didáticos do MEC para usar apenas seu próprio material digital em alunos do 6º ao 9ºano do Primeiro Grau. O Estado alegou que possui material didático próprio para manter a ‘coerência pedagógica’ e que escolas têm a orientação de providenciar a impressão do conteúdo digital sempre que houver necessidade.

O governo de São Paulo decidiu não aderir ao Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), do triênio de 2024 a 2027, para o segundo ciclo do ensino fundamental (entre o 6º e o 9º ano). Segundo Ângelo Xavier, da Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional (Abrelivros), essa é a primeira vez que isso acontece desde a criação do programa, há mais de 80 anos. Com isso, os estudantes de São Paulo, a partir do 6º ano, só terão material digital. Para os anos iniciais, material digital com suporte físico; nos anos finais e ensino médio 100% material digital”.

Lembrando que não há custo do Estado no recebimento do material didático, foi decidido aderir apenas à compra de obras literárias para o PNLD e do material didático para a educação de jovens e adultos (EJA). Foi uma tomada de decisão unilateral, sem consulta às escolas ou especialistas, pelo Secretário da Educação paulista, Renato Feder. Obviamente, alinhado à orientação do Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

O carioca e bolsonarista Tarcísio foi uma invenção do ex-presidente brasileiro para concorrer ao Estado que se constitui no segundo orçamento nacional, atrás apenas do Brasil. Antes de ser colocado no jogo, não conhecia São Paulo e não saberia distinguir localizações tão distantes quanto São José dos Campos e São José do Rio Preto. Eleito pela população paulista majoritariamente conservadora do Interior, está tentando implementar uma visão programática à Direita.

O sujeito disse a que veio ao trazer a visão belicista à Segurança Pública inefetiva no Rio de Janeiro. Permitiu e abençoou uma operação gigantesca, utilizando uma força composta por 600 homens na invasão a uma favela no Guarujá, em resposta à morte de um PM da ROTA. Até o momento, a operação gerou 14 mortos e contando, com a acusação recorrente de moradores na prática de torturas para obtenção de informações e execuções.

No Litoral Paulista, devido ao Porto de Santos, grandes traficantes com ramificação internacional, mantém o domínio de comunidades que recorrentemente foram deixadas de lado pela Administração Pública com relação aos investimentos em melhorias da infraestrutura. Seria o caso de uma operação que envolvesse a utilização de inteligência policial (o que no Brasil parece ser uma contradição em si) do Estado e da Polícia Federal. Mas Tarcísio pretende que São Paulo se torne um enclave opositor às políticas governamentais do Governo Federal.

O que parece contraditório é que o avanço tecnológico no combate à letalidade na condução da segurança – o uso de câmeras nos uniformes policiais pretende impor o material didático virtual como única alternativa de ensino.  No caso da Educação, o que parece ser um avanço, esbarra na precária rede de Internet nas escolas, além da falta pura e simples de tablets, laptops e computadores de mesa suficientes para todos os alunos nos próprios escolares. Mas quando ocorre uma ação dessa turma dessa magnitude, não podemos deixar de perceber que o custeio de novos apetrechos terá um gasto bastante atraente para alguns agentes da área digital ligados ao financiamento da sua campanha ao governo paulista.

Eu conheço um pouco da realidade de escolas estaduais na Capital e sei que ainda que sejam fornecidos aparelhos suficientes, a estrutura digital é deficiente para atender a esse plano que visa, prioritariamente, o afastamento da orientação do Governo Federal na área didática. É uma guerra ideológica escamoteada pelo termo “manutenção da coerência pedagógica” paulista. Sei que o futuro será a utilização cada vez maior de recursos digitais. O que não quer dizer que seja exatamente um progresso humano, mas o subdesenvolvimento de funções mentais, físicas e psicológicas de nossos jovens.

A experiência sueca, que buscou a mesma orientação agora preconizada, deu meia volta, já que os índices de aprendizagem caíram drasticamente. A começar com a quase extinção da escrita à mão, já referenciada como excelente para o desenvolvimento motor e cognitivo. Uma decadência de mão única para a queima virtual de bibliotecas inteiras e tentativa do controle absoluto sobre o comportamento humano, finalmente condicionado à virtualidade.

Texto participante de BEDA: Blog Every Day August

Bob F / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Claudia Leonardi

Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

Cavaleiros

02 de junho de 2020. Tempo de Pandemia de Covid-19. Quarentena em São Paulo. Data marcada e demarcada. Momento grave no Brasil. Transição política entre o estado democrático de Direito e eventual golpe de Estado provocado por um político do baixo clero que um dia serviu de ponta de lança ao projeto fascista gestado nos ambientes limpos e degenerados de condomínios de luxo e, esdruxulamente, à beira de mesinhas de plástico, regados à caipirinhas e churrascos.

Ao vivo, bebem leite. Seu bando plagia discursos de Goebbels, brandem tochas, vociferam contra as instituições, apoiam símbolos da supremacia branca e a liberação de armas de fogo. Além dos soldados-milicianos, conta com o apoio de simples de mentes e de corações carregados de ódio. De todas as classes. Uns, crentes-descerebrados ativos, inocentes úteis, culpados por serem tão facilmente usados. Outros, isentos, incapazes de ações empáticas com o lado fraco do elo social e, de certa maneira, simpatizantes de ideias de erradicação dos doentes sem atacar a causa — a doença que os geram e sustenta o sistema.

São a favor da desigualdade econômica, das distorções que servem aos senhores de engenho e se esforçam para manter a moenda rodando. No centro de tudo, um ser tacanho. O “cérebro pensante” é externo ao corpo que o move, sem inspiração ou aspirações culturais. O abominável se alimenta do Caos. Baseia-se em modelos que aplainam a Terra, abominam o Conhecimento e a Ciência. Abdica da humanidade como medida ou, radicalmente, absorve o pior que o ser humano já produziu — elucubração de teorias de exceção racial e afirmação da eugenia numa nação que carrega o dom de ser múltipla e miscigenada. Morte de velhos, tratados como tomadores de recursos; erradicação de direitos da massa que acreditam terem nascido para servir; instauração de privilégios dos grandes empresários (“com eles, ganharemos dinheiro”); tomada dos espaços naturais como bens de consumo (“fazer passar a boiada”); (des)governo das mentiras repetidas mil vezes até se tornarem verdades; desrespeito a Democracia ̶ escada para chegar ao poder — do qual não pretende apear.

Eis um dos cavaleiros do Apocalipse — a Peste. Aquele que se diz superior, beija os pés do grande irmão do Norte e, por ele se orienta ao sul do hemisfério Sul — cucaracha de estimação, cão amestrado que lhe lambe a mão. Programa de exterminação dos bens culturais, do sentimento de igualdade cidadã e da união na pluralidade de identidades. Desejo de extirpar oposições, afastar aquilo que o inferioriza — quase tudo que o rodeia. Revela-se grande somente aos seus seguidores de seita, sem perceber que joga o País na conflagração. Satisfação máxima de quem não tem nada a perder, a não ser sua prole — iguais a ele, reprodução dos outros três cavaleiros do Apocalipse — Guerra, Fome e Morte.

Que coloquemos um basta: a tolerância não deve servir aos intolerantes.

Imagem: Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, por Viktor Vasnetsov (1887)