Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

Cavaleiros
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, por Viktor Vasnetsov (1887)

02 de junho de 2020. Tempo de Pandemia de Covid-19. Quarentena em São Paulo. Data marcada e demarcada. Momento grave no Brasil. Transição política entre o estado democrático de Direito e eventual golpe de Estado provocado por um político do baixo clero que um dia serviu de ponta de lança ao projeto fascista gestado nos ambientes limpos e degenerados de condomínios de luxo e, esdruxulamente, à beira de mesinhas de plástico, regados à caipirinhas e churrascos.

Ao vivo, bebem leite. Seu bando plagia discursos de Goebbels, brandem tochas, vociferam contra as instituições, apoiam símbolos da supremacia branca e a liberação de armas de fogo. Além dos soldados-milicianos, conta com o apoio de simples de mentes e de corações carregados de ódio. De todas as classes. Uns, crentes-descerebrados ativos, inocentes úteis, culpados por serem tão facilmente usados. Outros, isentos, incapazes de ações empáticas com o lado fraco do elo social e, de certa maneira, simpatizantes de ideias de erradicação dos doentes sem atacar a causa ̶ a doença que os geram e sustenta o sistema.

São a favor da desigualdade econômica, das distorções que servem aos senhores de engenho e se esforçam para manter a moenda rodando. No centro de tudo, um ser tacanho. O “cérebro pensante” é externo ao corpo que o move, sem inspiração ou aspirações culturais. O abominável se alimenta do Caos. Baseia-se em modelos que aplainam a Terra, abominam o Conhecimento e a Ciência. Abdica da humanidade como medida ou, radicalmente, absorve o pior que o ser humano já produziu ̶ elucubração de teorias de exceção racial e afirmação da eugenia numa nação que carrega o dom de ser múltipla e miscigenada. Morte de velhos, tratados como tomadores de recursos; erradicação de direitos da massa que acreditam terem nascido para servir; instauração de privilégios dos grandes empresários (“com eles, ganharemos dinheiro”); tomada dos espaços naturais como bens de consumo (“fazer passar a boiada”); (des)governo das mentiras repetidas mil vezes até se tornarem verdades; desrespeito a Democracia ̶ escada para chegar ao poder ̶ do qual não pretende apear.

Eis um dos cavaleiros do Apocalipse ̶ a Peste. Aquele que se diz superior, beija os pés do grande irmão do Norte e, por ele se orienta ao sul do hemisfério Sul ̶ cucaracha de estimação, cão amestrado que lhe lambe a mão. Programa de exterminação dos bens culturais, do sentimento de igualdade cidadã e da união na pluralidade de identidades. Desejo de extirpar oposições, afastar aquilo que o inferioriza ̶ quase tudo que o rodeia. Revela-se grande somente aos seus seguidores de seita, sem perceber que joga o País na conflagração. Satisfação máxima de quem não tem nada a perder, a não ser sua prole ̶ iguais a ele, reprodução dos outros três cavaleiros do Apocalipse ̶ Guerra, Fome e Morte.

Que coloquemos um basta: a tolerância não deve servir aos intolerantes.

3 thoughts on “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

  1. Estou cá, numa noite de domingo, a ouvir ópera e a observar um prédio que tem janelas coloridas. Durante o dia ele não tem graça alguma, mas durante a noite tem fascínio geográfico e penso na força das luzes que marcam suas janelas… umas mais opacas e amareladas, outras brancas e intensas. Há janelas e cortinas fechadas e o inverno começou ontem… em meio a dias e noites quentes. E diante desse cenário, leio o seu texto e me inquieto com essa realidade que parece uma distopia escrita por algum autor fanfarrão que cansado da mesmice quis inventar e fez isso tudo que temos aí… O problema é que não consigo fechar o livro e escapar dessas linhas que não posso editar.

    1. Oh, Lunna! Como eu gostaria que este País tivesse uma boa edição… E como gostaria ser um escritor tão criativo que tudo isso não passasse de pura ficção.

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