Taninha*

Taninha, aos 5 anos

Tânia recebeu de uma prima, via Whatsapp, a reprodução de uma foto sua aos cinco anos de idade. Logo, divulgou para o resto da família. Viu semelhanças entre a menina que foi e a Ingrid, nossa filha do meio. Há quem discorde, mas olhos de mãe não se enganam. Eu percebi que ela ficou emocionada em se ver eternizada em linhas esmaecidas. Perguntei se chegava a se lembrar do vestidinho, que presumi ser branco, com bolinhas negras. Ela se lembrou que era de um tecido macio, leve, quase certo que de algodão, composto de quadradinhos de cores variadas. O passado dessa idade, normalmente é visto em preto e branco, talvez até em sonhos.

Eu tenho a sorte de ter em meu acervo várias fotos desde bebê. Minha mãe era zelosa quanto a isso, ainda que fôssemos pobres. Porém, a família da Tânia era mais simples em recursos do que a minha, além de mais numerosa. Eu, um garoto da cidade, ela, uma garotinha do interior. Quem vive hoje, tendo acesso a imagens instantâneas que descarta, caso não goste, não imagina o quanto era caro e difícil fotografar. Encontrar fotos desse período é como descobrir um tesouro.

Imagino se a Tânia conseguiu identificar no olhar da menina que foi, a resolução da jovem que emigrou da vila da cidade pequena para cidades sempre maiores e novos horizontes mais amplos, se bem que obstruídos por altos edifícios. Se observou nos traços arredondados, a força em superar tantos percalços. Se vislumbrou no cabelo penteado a ordem que quis imprimir ao mundo, com as consequentes decepções que todos nós sofremos.

Temos necessidade em buscar as raízes fincadas em nosso chão original. As visões que nos movem desde o início, iluminadas pelo passado. O desejo de vida em imagens paralisadas pelo tempo. Talvez, para nos confirmarmos seres que tem origem, mas sem fim — vida eterna. E compreender nosso caminho torto, mas certo, porque é nosso. E de perceber o valor dos encontros que temos em nossa existência — essa viagem incrível.

*Texto de 2018

BEDA / Scenarium / Monumento Tobiano

Monumento Tobiano

O pai antibelicista, fotografado em 2014 pela filha, Romy, em frente à estátua de Tobias de Aguiar – patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Cercado de obuses, na base de seu pedestal se revela em relevo seus feitos militares e políticos. O que não explicita é que o fato de que ter sido casado com Dona Domitila de Castro de Canto E Melo, a Marquesa de Santos, amante de D. Pedro I, talvez o tenha ajudado a alcançar esse posto. Com o Brigadeiro, Domitila gerou seis filhos e com o Imperador, mais cinco. O lado pesado é que o homenageado acabou por nomear à famigerada ROTA – Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – responsável por ações policiais violentas, como o Massacre do Carandiru, em 1992 e, antes, na ajuda à repressão aos opositores do Regime Militar. O lado leve é que ele foi o introdutor do cavalo malhado no sul do País, do qual derivou o nome de “Tobiano” dado ao equino por lá.

 

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