Taninha*

Taninha, aos 5 anos

Tânia recebeu de uma prima, via Whatsapp, a reprodução de uma foto sua aos cinco anos de idade. Logo, divulgou para o resto da família. Viu semelhanças entre a menina que foi e a Ingrid, nossa filha do meio. Há quem discorde, mas olhos de mãe não se enganam. Eu percebi que ela ficou emocionada em se ver eternizada em linhas esmaecidas. Perguntei se chegava a se lembrar do vestidinho, que presumi ser branco, com bolinhas negras. Ela se lembrou que era de um tecido macio, leve, quase certo que de algodão, composto de quadradinhos de cores variadas. O passado dessa idade, normalmente é visto em preto e branco, talvez até em sonhos.

Eu tenho a sorte de ter em meu acervo várias fotos desde bebê. Minha mãe era zelosa quanto a isso, ainda que fôssemos pobres. Porém, a família da Tânia era mais simples em recursos do que a minha, além de mais numerosa. Eu, um garoto da cidade, ela, uma garotinha do interior. Quem vive hoje, tendo acesso a imagens instantâneas que descarta, caso não goste, não imagina o quanto era caro e difícil fotografar. Encontrar fotos desse período é como descobrir um tesouro.

Imagino se a Tânia conseguiu identificar no olhar da menina que foi, a resolução da jovem que emigrou da vila da cidade pequena para cidades sempre maiores e novos horizontes mais amplos, se bem que obstruídos por altos edifícios. Se observou nos traços arredondados, a força em superar tantos percalços. Se vislumbrou no cabelo penteado a ordem que quis imprimir ao mundo, com as consequentes decepções que todos nós sofremos.

Temos necessidade em buscar as raízes fincadas em nosso chão original. As visões que nos movem desde o início, iluminadas pelo passado. O desejo de vida em imagens paralisadas pelo tempo. Talvez, para nos confirmarmos seres que tem origem, mas sem fim — vida eterna. E compreender nosso caminho torto, mas certo, porque é nosso. E de perceber o valor dos encontros que temos em nossa existência — essa viagem incrível.

*Texto de 2018

3 thoughts on “Taninha*

  1. Eu tenho poucas fotos da minha infância… tinha muitos álbuns. Meus pais fotografavam tudo, mas eu me desfiz dos álbuns. Os que não foram incinerados, ficaram com parentes próximos que não me aborrecem com o que não quero.
    Eu prefiro o que levo dentro e que nem sempre condiz com a realidade de um retrato. Eu gosto de fotografias, mas daqueles que dizem ontens alcançáveis. E prefiro o olhar que vai de dentro para dentro sem espelhos frágeis.
    Mas, ao observar a fotografia da Tânia, não alcanço o hoje e fico no escuro ou a deriva…

  2. Não me desfaço de fotos antigas, mas com certeza também não consigo me alcançar nelas. Quase como se fora um replicante que tenta confirmar seu passado através delas, mas sem ter totalmente a certeza de que estava lá.

  3. Gosto demais de ver álbuns de fotos antiga. Na casa de minha mãe, temos um báu recheado de fotos. Contudo, como você bem explanou no texto, tirar fotos era algo caro e não comum em minha infância. Se tiver meia dúzia de mim criança, é muito mas as que tenho, guardo com carinho recheado de muitas lembranças. A Tania foi uma menina muito lindinha!

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