BEDA / Manhã*

A manhã já vai pela metade,
mas apenas agora os raios solares rompem a neblina,
anunciando que a temperatura
aumentará bastante durante o dia.
Nada que o meu corpo não se adapte
e o meu coração, já quente, não aceite contente.
Aquecido, ele suportará o frio da noite solitária…

*2015

Projeto Fotográfico 6 On 6 / #EntardeSer

Sangue Na Tarde

O Inverno anuncia tardes
derramadas em delírios…
Mal podemos perceber
que o tempo seco nos arranca
a umidade da pele
arrepiada ao toque do frio…

Os olhos desejam
que se torne espelho a beleza
que se apresenta,
enquanto vemos que a paixão
do Sol pela Terra
vertida em sangue…

É tarde, mas tão tarde!
Porém, ainda não é noite.
Ainda não sinto o açoite
da escuridão que me parte!

distraído de mim me sinto no início dos tempos
fuma a terra bruxuleiam as plantas dançam ao sabor dos ventos
animalzinhos se escondem de predadores que se aproximam
enquanto dragões expelem fogo antes da noite que se derrama…

em São José Dos Campos ainda há campos mais abertos
a Via Dutra caminha em seu percurso até o Rio
a cidade entardece em intenso movimento de autos e pessoas
floresta de torres de energia substituem às árvores no horizonte
o vento espalha as nuvens que desenham ramos imaginários
em tons de amarelo abóbora rosa que serão devoradas
por luzes artificiais logo mais…

quando entardece a suavidade enternece nossos olhos
as cores se degradam à aproximação do fim do dia
as casas erguidas sobre os montes invadem o horizonte
interrompem o sonho de o mundo não tem fim…

as silhuetas desenhadas no quadro da tarde denunciam
a cidade que o homem desanda a pintar em dor e pouca cor
mais de perto o duvidoso perfil de linhas retas são recortadas
nelas seres se adaptam em jaulas e aceitam a condição de animais…

Participação: Lunna Guedes Claudia Leonardi / Mariana GouveiaSilvana Lopes

Tempo, Temporal…

As últimas notícias vindas de Londres informam sobre a ocorrência de um frio excepcional como há muito tempo não se registrava. Aliás, as sucessivas notificações nos últimos tempos demonstra que os parâmetros climáticos tem se alterado sucessivamente nas últimas décadas, dando picos positivos e negativos nos termômetros de temperatura. Mas isso seria como avaliarmos a saúde de uma pessoa através do peso, sem a avaliação do estado geral do organismo. No caso do Clima da Terra, o padrão qualitativo demonstra significativa decadência da normalidade que indica este planeta como amplamente habitável. É bem possível que grandes faixas dos cinco continentes se tornem inóspitos nas próximas décadas pela intervenção direta dos habitantes que se colocam como acima de quaisquer outros seres que que habitam o terceiro planeta desde o Sol.

Há dez anos, em 2014, publiquei no Facebook um comentário acerca das notícias sobre a variação climática de então: “Reclamação total contra o excesso de calor, enquanto no Canadá as pessoas morrem de frio dentro de suas casas! Prefiro muito mais os nossos 33ºC positivos (em SP) do que os 17ºC negativos do país do Norte. Eu sou um cara que ama o calor. Suo com gosto, sabendo que esse é um processo natural do nosso corpo para refrigerar a pele e reequilibrar a nossa temperatura. Uso o ventilador apenas para afastar os pernilongos, ávidos por meu sangue que será usado na reprodução de seus descendentes. Não gosto de venenos que alterem o cheiro ao meu redor. Ou seja, sou um chato! De qualquer forma, alguns reclamam do calor, porque ainda não perceberam que a razão é outra — ainda não se encontrou um aparelho que ventile a dor… de sermos humanos…”.

Sangue Na Tarde

O Inverno anuncia tardes

derramadas em delírios…

Mal podemos perceber

que o tempo seco nos arranca

a umidade da pele

que se arrepia ao toque do frio…

Os olhos desejam

que se torne espelho a beleza

que se apresenta,

enquanto vemos que a paixão

do Sol pela Terra termina

vertida em sangue…

BEDA / Frida Calada*

Frida
fala pelos olhos…
Nasceu ressabiada de gestos bruscos,
como se trouxesse abusos
de vidas passadas…
Passou a se aproximar aos poucos,
a vencer a timidez,
a se colocar embaixo de mesas,
em cantos de sofás,
junto aos nossos pés…
Hoje, perdeu de vez as travas…
Sentiu o frio chegar
e arranhou a porta para entrar…
Frida, outrora calada,
vive agora a deitar falas
com o seu olhar… 

*Poema de 2016, para Frida, que nos deixou logo depois, pela veleidade de um motociclista que corria a 100Km/h em uma rua de bairro.

Participam: Danielle SV / Suzana Martins / Lucas Armelim / Mariana Gouveia / Lunna Guedes / Alê Helga / Dose de Poesia / Claudia Leonardi / Roseli Pedroso