25 / 11 / 2025 / Blogvember / Os Pingos Escorrem Pelas Vidraças

… e fico entre escolher escrever palavras casuais ou limpar a nebulosidade
e descerrar a paisagem que já conheço de sobra
prefiro manter a expectativa de que por traz da cortina úmida haja algo novo
um horizonte diferente ampliado profundo em dimensão
um mundo recém descoberto uma ideia de de que os objetos se dissipam
que a realidade se desintegre em muitas outras realidades
queremos ver a novidade de ser de estar de revelar que tudo pode ser melhor
por trás das vidraças nebuladas o estranho e o estranhamento de estarmos vivos
negligenciados pela estupidez humana
encontrar o segredo da vida na imaginação que alcança a verdade…

Participação: Lunna Guedes

16 / 04 / 2025 / BEDA / Concretismo*

Quando vejo qualquer imagem, ouço qualquer palavra, experimento qualquer sabor, cheiro qualquer olor ou aprisiono em minhas mãos qualquer objeto, desenho na parede da minha imaginação a linha reta que desvirtua a realidade, aperfeiçoando-a ou a decupando. Traço o meu caminho colocando cada pedra devidamente plana em direção ao abismo. Homenageio o poeta que não sou e não serei, erijo a porta que não ultrapassarei. Existo e hesito em reconhecê-lo. No entanto, a expressão do que sinto insiste em se fazer presente, mesmo que seja o sol da manhã emparedado. Esta é a minha singela homenagem a Décio Pignatari, que ajudou a despertar em mim, com a sua obra, o gosto pela brincadeira de escrever.

*Texto escrito no dia 02 de Dezembro de 2012, por ocasião do passamento do poeta Décio Pignatari.

04 / 04 / 2025 / “Autas” Horas

Passo em frente dessa borracharia quase todos os dias. “Inteligênte” já teve assento circunflexo, mas caiu em desuso há algum muito tempo. Como se trata de uma loja de consertos e venda de pneus de “automóveis”, supõe-se que o dono quis trocar o termo “altas horas” (nome do programa) por “autas horas” para relacioná-lo o produto em questão. Inteligência divergente ou imaginação demais? Não importa, se o resultado é um maior movimento do negócio. Estamos no Capitalismo que, em se tratando de acerto, não importa errar, mas esperteza ao fazê-lo.

18 / 03 / 2025 / Transmutação

A metamorfose se deu, de início
pelo olhar…
O movimento dela o paralisou.
Como se fotografasse cada gesto,
aprisionou dentro de si a evolução
do casulo à borboleta —
da flor ao céu —
asas da imaginação…

Quis recuar quando suas vozes
ocuparam o mesmo ambiente —
palco de suas atuações…
Percebeu que fluíam sonoras
conversas de palavras
entrecortadas,
caladas…
As lacunas preenchidas de desejos
perfeitos em suas incompletudes.

Quebradas as barreiras —
distâncias de centímetros-quilômetros —
peles sem proteção,
mentes despertas,
liberta de atavismos
e consequências,
o imediato transformado em eterno,
se reconheceram outros,
os mesmos…

Ele,
transmutado
de Jackyll em Hyde,
de homem em lobo,
de mortal em vampiro,
de Clark em Superman
todos e ninguém,
vivia ausente de si…
Passou a respirar o vácuo
se não aspirasse o hálito da paixão…

Transformação
irremediável,
perigosa,
instável,
liberdade de viajante
encarcerado,
não trocaria o permanente desconforto
do atual caos da criação do mundo
pela antiga estabilidade da morte
em vida…