Pretérito imperfeito oblíquo de um caos que nunca chega ao fim. (Suzana Martins)

Quando foi colocado como tema deste 11/11 – abertura de portais – para inspirar a escrita dos participantes do #Blogvember, fiquei curioso com o tracinho azul que surgiu abaixo da locução “chega ao fim.” A IA estipula “considere utilizar outra expressão: “termina”. O IA não considera que a poeta possa querer criar imagens que passam pelas possiblidades, pelos contornos, pelas imagens possíveis, diferente da faca amolada que é determinada por “termina”. Chegar ao fim é uma coisa. Terminar, é outra.
No primeiro caso, chegar ao fim pressupõe que, como uma chuva (a não ser que seja um dilúvio) seja um fenômeno que tem hora para começar e hora para acabar. O “caos” é o referencial. De antemão, acredito que o Caos seja exatamente o esteio pelo qual caminhamos. Gosto da definição professada pela Física: “Sistema sem estabilidade, dinâmico, que se altera no tempo a cada pequena alteração das suas condições iniciais”. Esse dinamismo vital faz com que eu não certeza de muita coisa, tirante uma linha de pensamento que me define como Obdulio.
Considerando que o uso do pretérito imperfeito – que é aquele que se refere a uma ação anterior ao momento da fala e que, no tempo passado a que pertence, não foi finalizada, podendo ter sido, por exemplo, interrompida por outro acontecimento – esclarece tudo. No secundo caso, a ideia é de que o caos seja evidenciado. Numa relação íntima entre duas pessoas, possivelmente. Ainda que não seja, será o viés que utilizarei. Porque chegar ao fim num relacionamento não é exatamente o fim. Talvez, deixe de afetar tanto o presente, mas as marcas dos acontecimentos que envolveram os protagonistas delinearão o comportamento de ambos pelo resto dos dias.
A decisão de pôr um termo oficial na relação não é um corte feito sem dor. O apego aos bons momentos vividos é contrabalançado pelos percalços comuns à decisão de entregar-se, obliquamente falando. Quando um dos dois decide que o casal não deva continuar nesse acordo de intimidade exclusiva, o outro sofre tanto quanto como se fosse uma grave ofensa. Os argumentos recaem sofre a personalidade falível daquele que termina. Se for porque os olhares mais afetuosos pousam sobre outro ser, a sensação é de morte. Uma espécie de luto pela morte do antigo casal. Fim de estrada.
Na falta de um término melhor, colocarei a conjugação do verbo “terminar” (da sugestão pelo IA) no Pretérito Imperfeito Oblíquo :
Eu terminava-o
Tu terminava-lo
Ele terminava-o
Nós terminávamo-lo
Vós terminávei-lo
Eles terminavam-no…
Participam: Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Suzana Martins / Mariana Gouveia
