Há dias de luz que nos ofuscam a visão
Enquanto estamos quase cegos
Sombras nos cercam como que atraídas
Para o abismo que nos tornamos
Antes, evitava pensar estando assim
Agora prefiro mergulhar em queda livre
Penetrar em profundidade no meu eu
Saborear a falta de referências sobre a vida
Beijar a possibilidade da morte na boca
Fazer amor com o obscuro e a impermanência
Num triângulo amoroso com a imortalidade
Voltar a respirar acima da superfície
Me assenhorar de mim e dizer simplesmente
Sim!
Etiqueta: impermanência
BEDA / Viver
Acordo…
O choque do meu corpo com o frio da manhã
me faz ressoar ranheta
e arrepia a minha pele quente
de mamífero…
Expilo pelo nariz
restolhos liquefeitos
em decomposição
e respiro…
Conquanto
saiba de nossa transitoriedade
e impermanência física,
acredito em nossa transcendência
como Seres,
contra todos os prognósticos…
Ainda que assoe mais excrementos,
estou a sentir que mentimos substâncias
contingentes,
enquanto vivo a nossa verdade atemporal…
