Pretérito Perfeito

Juvenescimento
Aos 21…

Eu estou me sentindo com 20 anos. estou passando por uma fase de transição que está me renovando as forças. nesta foto, devo estar com um pouco mais que isso, mas poderia passar por um garoto de 16. de certa maneira, eu era tão ingênuo-imberbe-deslocado que efetivamente era um adolescente, mentalmente. nos tempos que era obrigatório apresentar carteira de identidade para assistir a filmes proibidos – como os considerados os de conotação “subversiva” ou sexual – fui obrigado a fazê-lo até os 24 anos. E depois? depois, veio a abertura política e, enquanto eu perdia a virgindade d’alma, continuamos, como coletividade, a nos enganar com promessas de um país que será sempre (e apenas) “do futuro”…

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50%

Bazinga

Estou na meia idade –
altura média,
pau médio,
mas ativo,
em riste –
mais alegre do que triste…

Uso meias medidas,
um tanto acima do peso.
Unhas encravadas,
pernas grossas –
chute certeiro.
Nunca fui artilheiro…

Caminho longo –
passos curtos.
Meia vida –
muito trabalho,
pouco lazer,
pouco tempo,
muito o que fazer.
Fascinado pela mulher…

Justo,
cinto sempre apertado.
Imaginação solta.
Calvo –
pelos que sobraram –
grisalhos.
Tímido,
porém nunca intimidado.

Silente,
ainda que bem falante.
Inquieto,
contudo diligente.
Confuso,
entretanto,
confiante,
em meio ao abalo sísmico.
Ensimesmado –
cismo em ser escritor –
o que me importa.

Um tanto insuportável,
mesmo sendo apenas 50%,
faço o máximo que suporto…
Nisso,
sou insuperável.
Impróprio
para menores de 50, por certo…

Inapropriado,
dono do próprio negócio,
quase não amo a mim.
Melhorei muito.
Peço que ninguém me siga –
me sinto perdido.
Gosto que assim seja –
tudo se torna inesperado.

Meio visionário,
apesar de míope,
sei que morrerei
mais cedo do que espero –
muito tempo menos
do que já vivi  – na idade média.
(Por que querer viver mais?).

Objetivo final: quero alcançar certa paz,
a inocência do menino-rapaz,
o amor de que for capaz,
a felicidade contumaz…

BEDA | Prazer E Dor

Prazer & Dor
Dúbio e bifurcado…

Houve uma época em minha vida que busquei intensamente escapar da dualidade prazer e dor. Era bastante jovem, de 16 para 17 anos. Ainda que de forma precária, sem tantas informações, avesso em participar de grupos, estudei as soluções orientalistas, com milhares de anos na senda do autoconhecimento. Decidido a me interiorizar cada vez mais, fui me apartando das pessoas ao meu redor. Apenas a paixão pelo futebol – já que para jogar é preciso de companhia – me “salvava” do ostracismo total. O termo salvar é dúbio, obviamente, porque a minha intenção primordial era me salvar de mim mesmo ou, melhor dizendo, de vivenciar a eterna polarização entre prazer e dor, firmemente ligada ao ego.

Ego eu chamava àquele “eu” reconhecível ou que supunha conhecer e que carregava os desejos, sentimentos, emoções e expressões externas de ser o Obdulio. O interessante que focava fortemente na abstenção da sensação de prazer. A dor eu a tinha como condição natural. Talvez até buscada como expiação por possíveis pecados que tivesse cometido. Inclusive, em intenção.

Adolescente em época de efervescência sexual, renunciava ao conhecimento prazer por essa via. Eu me tornei abstêmio de carne em um período que a oferta de alimentos e alternativas vegetarianas não eram tão amplamente difundidas. Fiz um estudo sobre os valores energéticos, proteicos e vitamínicos de folhas, grãos, legumes e frutas. Comecei a evitar o açúcar. O radicalismo me levou a perder mais de 15Kg. Normalmente de cabelo farto, adotei a prática de raspar a cabeça. Decisões coincidentes com o surgimento da Síndrome Imunodeficiência Adquirida, alguns começaram a supor que estivesse doente. Ouvi de uma pessoa que eu parecia um refugiado de campo de concentração.

Concomitantemente, vivia uma relação difícil com os meus pais, principalmente com o Sr. Ortega – o chamava dessa maneira. Com a minha mãe, o amor que eu sentia por ela era obliterado pelo “desejo” de não o expressar – parte de um plano canhestro em demonstrar autocontrole com relação aos sentimentos e às emoções. Ou seja, estava absurdamente confuso. O prazer reservava à escrita, cada vez mais importante. Chegaria o momento que até esse regozijo igualmente deixaria de viver. Mas essa, é outra história.

O certo é que fiquei dependente de minha dor, como se isso significasse que estava no caminho certo para a independência dos atributos mundanos de ser um humano – a busca da felicidade ou prazer (que muitos confundem) como condição ótima de vida. Crescentemente, o desamor por mim mesmo me abasteceu os dias. A auto sabotagem deve ter surgido aqui e ali. Medo de amar, com certeza, por receio de sentir a verdadeira dor. Diante de tantas incongruências, não foi surpresa as diversas vezes que adoeci fisicamente. Mentalmente, já estava. Tanto que suspeitava que sentia prazer em sentir dor.

Consegui sobreviver para poder falar sobre isso. Algumas vezes, sinto saudade daquela pessoa extremamente inocente, ao mesmo tempo que ainda continuo a me pasmar diante de muitas coisas. Tenho “o pasmo essencial”, como Pessoa já o disse. Isso, gosto em mim. Porque, apesar de narcisista, eu não sinto me amar. Portanto, não sou totalmente inocente… ainda.

Participam:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari